Manifestações, repressão e polícia no Brasil

CaraNunca o brasileiro fez tão seu o direito de se manifestar como nos últimos tempos. Já tivemos grandes mobilizações políticas no passado, como as Diretas Já e os Caras Pintadas que foram às ruas pelo impeachment do ex-presidente Collor – para ficarmos só nos casos mais recentes –, mas de uns anos pra cá, as manifestações ficaram bem mais frequentes, embora com características bem diferentes: hoje há manifestações e marchas para todos os lados, como a Marcha do Orgulho Gay, as Marchas para Jesus, pelos direitos das mulheres, dos negros ou para a legalização da maconha, entre outras. Mas essa diversificação de manifestações causou a fragmentação das demandas, e por isso, perdeu-se bastante da força também, como era de se esperar.

Hoje em dia ainda acontecem também manifestações populares com temática política e social no Brasil. São as que contam, geralmente, com o menor número de participantes – certamente devido justamente a essa fragmentação dos protestos em temáticas restritas –, mas curiosamente, são as que contam com a maior repressão estatal através do aparato policial de choque. Esse fenômeno vale a pena analisar.

Qualquer tipo de passeata, marcha ou manifestação cujo tema, apesar de importante para determinados grupos, não cause preocupação aos setores mais elevados da sociedade -- representados no governo -- geralmente pode transcorrer sem maiores problemas – ou seja, sem a intimidação e o confronto com os aparelhos de repressão. Mas, por outro lado, talvez não tenha existido uma única manifestação, por mais pacífica que fosse, que, ao mexer em algum desses interesses de classe, não tenha sido violentamente reprimida pela polícia nos últimos tempos. Alguns exemplos podem esclarecer que tipo de manifestações legítimas acabam sendo atacadas pela polícia.

mstManifestação contra o aumento das passagens de ônibus por todo o Brasil; passeata contra a privatização do estádio do Maracanã; protestos pacíficos contra a retomada de posse da Aldeia Maracanã; marcha dos professores em greve contra a defasagem salarial; protesto contra as grandes fazendas que engolem as terras indígenas; passeatas contra a remoção ilegal de moradores para obras da Copa do Mundo e reintegração de posse ilegal; marcha dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra... todas essas legítimas manifestações sociais têm em comum dois aspectos: primeiro, mexem com interesses particulares de gente poderosa no Brasil e segundo, terminam com violenta repressão policial.

Parece que estamos vivendo uma meia democracia, se é que chega a tanto, no Brasil. O legítimo e constitucional direito à livre manifestação é garantido, mas desde que não se toque em interesses privados, ou privados disfarçados de estatais. É por isso que é tão danosa a fragmentação das lutas sociais em pequenos movimentos com temas específicos, e é por isso que as elites agradecem a cada reivindicação nova que promete dividir ainda mais as demandas populares.





Comentários

  1. Bem pelo menos os brasileiros lutavam pelos seus direitos

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  2. Ficou muito fácil protestar.
    Tem gente que vai nas passeatas fazer bagunça.
    O idealismo está pulverizado.
    E em muitos protestos quem paga a conta é quem não tem culpa.
    Antigamente tudo era mais organizado e com mais objetivo.

    www.cchamun.blogspot.com.br
    Histórias, estórias e outras polêmicas

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