Um novo mundo não-estadunidense no horizonte

Encontro BRICS UNASUL

Aquela reunião realizada em Fortaleza entre os líderes dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que contou, dias depois, com o apoio de países da América Latina através da UNASUL em Brasília, tem uma representatividade que até agora não se pôde mensurar exatamente. O que parece é que o encontro, que culminou com a criação do Novo Banco de Desenvolvimento, está inserido num contexto mais amplo de um mundo multipolar, sem a tutela econômica da “trindade profana” – FMI, OMC e Banco Mundial – e, por consequência, dos Estados Unidos.

O Novo Banco de Desenvolvimento, a princípio, foi criado para uma “rede de proteção” aos países-membros, mas numa perspectiva a longo prazo, certamente rivalizará com os ditames neoliberais do Fundo Monetário Internacional, que representa a linha econômica ortodoxa que começa a incomodar até mesmo os países europeus, vítimas da crise capitalista da qual até hoje mal conseguiram se recuperar.

Hoje em dia, os Estados Unidos tremem ante a concreta possibilidade da Alemanha, carro-chefe da União Europeia, abandonar as hostes estadunidenses para se alinhar aos BRICS, conforme disse o doutor em Estatística Jim Willie, PhD na matéria pela Carnegie Mellon University, nos EUA, em recente entrevista. O especialista chegou a afirmar que a crise dos Estados Unidos com a Rússia pela questão da Ucrânia tinha como intenção interromper o afastamento da Alemanha – e de outros europeus – da órbita norte-americana:

Os EUA, basicamente, estão dizendo à Europa: você tem duas opções aqui. Junte-se a nós na guerra contra a Rússia. Junte-se a nós nas sanções contra a Rússia. Junte-se a nós nas constantes guerras e conflitos, isolamento e destruição à sua economia, na negação do seu fornecimento de energia e na desistência dos contratos. Junte-se a nós nessas guerras e sanções, porque nós realmente queremos que você mantenha o regime do dólar. [Em contrapartida, os europeus] dizem que estão cansados do dólar… Estamos empurrando a Alemanha para fora do nosso círculo. Não se preocupem com a França, nem se preocupem com a Inglaterra, se preocupem com a Alemanha. A Alemanha tem, no momento, 3 mil empresas fazendo negócios reais, e elas não vão se juntar às sanções*.

Para o vice-diretor do Instituto de Estudos do Extremo Oriente da Academia de Ciências da Rússia, Serguei Luzyanin, o encontro do BRICS representa realmente a intenção de superar a influência dos Estados Unidos não só na área econômica, mas em todos os aspectos da humanidade,

Não é preciso ser um político habilidoso para sentir que os povos e as civilizações dos países em vias de desenvolvimento estão cansados de ‘padrões norte-americanos’ impostos. Aliás, padrões para tudo, economia, ideologia, forma de pensar, os ‘valores’ propostos, vida interna e externa, etc. O mundo inteiro viu pela TV o aperto-de-mão dos cinco líderes dos Brics, ao qual, passado uns dias, se juntou praticamente toda a América Latina. É discutível se, neste impulso comum, existiu uma maior dose de contas pragmáticas ou de solidariedade emocional, mas, uma coisa é certa, nele não houve qualquer amor pela América do Norte. E isso ainda é uma forma polida de colocar as coisas.

As perspectivas de sucesso do BRICS em superar o modelo hegemônico estadunidense são complicadas, porém devem ser encaradas com otimismo. Existe a chance do BRICS se estender significativamente com a adesão futura de Argentina, Indonésia e outros países chamados periféricos, o que representaria uma nova ordem mundial mais democrática, plural e representativa de diversos povos e etnias.

Seria o fim da padronização e da cultura de massa criada e implementada direto da América do Norte para o mundo. Devemos torcer por isso.

*fonte da entrevista: rededemocratica.org





Comentários

Gostou do blog e quer ajudar?

Você também poderá gostar de:

Qual é o termo gentílico mais adequado para quem nasce nos Estados Unidos?

Comunistas não podem usar iPods ou roupas de marca?

Singapura, exemplo de sucesso neoliberal?

CBF reconhece o título do Flamengo de 1987. Como se isso fosse necessário

O mito do livre mercado: os casos sul-coreano e japonês