Se pode a bíblia, também pode livro satânico
Por que é tão difícil compreender o princípio da laicidade em sociedades como a nossa? Porque líderes religiosos agem de má-fé (ao pé da letra) ao combater o laicismo para defender seus interesses econômicos disfarçados de obra religiosa? Porque o assunto não é debatido com seriedade nos meios de comunicação? Porque as pessoas não tem o menor interesse no assunto?
Pensando nisso, talvez seja necessário mostrar com exemplos práticos, e também com um certo impacto, a importância do tema. Foi isso que um grupo que defende o secularismo fez nos Estados Unidos. O Conselho Escolar do Condado Orange, na Flórida, numa clara violação do princípio da laicidade, permitiu a distribuição de bíblias nas escolas locais. Para protestar contra esse absurdo, o grupo chamado Templo Satânico resolveu protestar de forma criativa: imprimir e distribuir livros de colorir com temas pagãos e satânicos entre os alunos.
A intenção é nobre: ao contrário dos cristãos, que insistem em fazer proselitismo em ambientes públicos, os satanistas não pretendem mostrar que sua crença é a melhor e sim que a violação da laicidade pode abrir um precedente perigoso: religiosos não sabem conviver com pessoas de crenças diferentes, costumam ser intransigentes, intolerantes e o contato entre eles, muitas vezes, resulta em conflitos, competições, quando não em violência. Se os cristãos acham que tem o direito de distribuir bíblias em escolas, outros religiosos podem querer distribuir seus materiais também, como o corão, a torá, e até livros de colorir satânicos para crianças. Aonde isso iria parar? Dá pra ter uma ideia…
No Brasil, a todo momento, cristãos desrespeitam outras pessoas e outras religiões, principalmente nas escolas, onde também temos casos de municípios que aprovam a bíblia em locais onde deveria prevalecer o pensamento crítico e científico, e não o irracional. Pode parecer uma coisa sem muita importância, mas é muito pelo contrário. Existem inúmeros exemplos de como é importante para uma nação investir na barreira do pensamento mágico e principalmente na rivalidade religiosa entre seu povo. A vantagem é a paz e o desenvolvimento científico, que levam a um estágio avançado de sociedade. Basta ver países europeus que se livraram de séculos de guerras religiosas, como a Holanda, a Inglaterra e a Noruega, para ficar só em poucos exemplos, e que hoje transformam templos em museus e bibliotecas, vivendo um momento cultural que jamais experimentaram num tempo tão prolongado.
Logo se percebe a importância de todos nós apoiarmos o Estado Laico, inclusive os religiosos. Espero que os legisladores e os juristas brasileiros estejam atentos a esse problema, e cortem o mal pela raiz antes que seja tarde demais. Ou então daremos 200 passos pra trás na nossa história.
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