Postagens

Mostrando postagens de 2020

Reviravolta no STF sobre reeleição; qual deve ser a postura das esquerdas

Imagem
  O mundo da política amanheceu hoje com uma notícia até certo ponto surpreendente: depois de uma grande reviravolta na votação dos últimos dias, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou inconstitucional a reeleição nas presidências da Câmara e do Senado nessa nova legislatura, pleiteada respectivamente por Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre .  O julgamento se deu em cima da interpretação do artigo 57, no seu parágrafo 4° da Constituição Federal.  Artigo cujo texto, por sinal, de tão claro (como destacado acima), deixava poucas margens para dúvidas, situação que preocupou bastante a opinião pública, devido aos rumores de que, mesmo assim, o julgamento alteraria a interpretação do texto constitucional — favorecendo assim Maia e Alcolumbre — mas também pelo resultado final apertado de 6 a 5.  Se toda ação de constitucionalidade de dispositivo de texto explícito da CF tiver um placar de 6x5, então sugiro uma emenda constitucional para alterar o Art. 101, e substituir "notável saber jurí

Os povos da América Latina mostram de novo: só os golpes da direita refreiam o seu destino

Imagem
  Ex-presidentes progressistas da América do Sul O s povos da América Latina reagem aos golpes que tentam frear mais uma vez a natural propensão da região a políticas de esquerda. A vitória de Lucho Arce na Bolívia é apenas o exemplo mais recente de que, respeitadas as regras eleitorais e jurídicas criadas pela própria democracia burguesa, o povo da América Latina, de modo geral, quer as políticas de esquerda no poder, e isso não é de hoje. E quando estas mesmas regras não são respeitadas, o povo vai às ruas exigir seus direitos violados, como no Chile. Desde a segunda metade do século XX essa tendência, no entanto, quanto mais crescia, mais era refreada pela oposição conservadora capitalista dos diversos países da região, com o apoio, já mais do que documentado, dos Estados Unidos, que se utilizam de várias estratégias criminosas e dos aparelhos à sua disposição para impedir tal movimento à esquerda. Se, no século XX, durante o advento da Guerra Fria, as frações locais cooptadas para

A depreciação do real e do Real

Imagem
  Preços da soja disparam para o consumidor Q uando um governo incita a controvérsia, a mentira e a dúvida, fazendo pouco caso da verdade, depreciando o real , nós já alertávamos que o dólar alto iria favorecer as exportações do agronegócio brasileiro, com a contrapartida negativa de prejudicar o mercado interno. Agora a coisa foi tão descarada, que ministério da economia dirigido pelo vendilhão  Paulo Guedes quer vender a ideia da depreciação do Real como algo positivo para todo o país, algo até planejado e não fruto da obsoleta ideologia neoliberal que reina neste governo. Com a cotação do dólar a R$5,50 neste dia 13 de outubro e com um constante viés de alta que já dura vários meses, os latifundiários brasileiros resolveram mirar no sedutor mercado internacional, desabastecendo as prateleiras dos nossos supermercados, assim atingindo dois coelhos: primeiro, vender carne e cereais a dólar e euro no exterior, ganhando muito na conversão; e também apostando nas velhas leis de oferta

Resenha: O Brasil não cabe no quintal de ninguém

Imagem
Ilustração da capa do livro de Paulo Nogueira R ecentemente, em entrevista ao portal 247 , o economista Paulo Nogueira Batista Júnior foi perguntado sobre o título de seu mais novo livro: " O Brasil não cabe no quintal de ninguém ".  Por conta do momento, eu diria, mais subserviente, adulador e capacho de um governo brasileiro ao imperialismo estadunidense como jamais visto, o seu editor perguntou brincando, segundo o relato do autor, se aquele não seria um título mais cabível a um livro de ficção .  E pensar que, menos de 10 anos atrás, era tudo muito diferente... É esta a sensação que revivemos ao lermos o citado livro de Paulo Nogueira, que nos mostra o momento de um Brasil grande, respeitado, de cabeça erguida perante o mundo, credor do FMI e motor dos BRICS. Paulo fora diretor executivo da cadeira brasileira do Fundo Monetário Internacional durante o segundo mandato do presidente Lula e o primeiro da Dilma, tendo participado de discussões de reformas importantes na inst

Surpresa: programas "assistencialistas" têm raízes na tradição liberal

Imagem
Q uando o movimento LGBTQIA+ começou a ganhar força e protagonismo, uma de suas bandeiras mais fortes foi a campanha para que as pessoas parassem de se referir ao seu modo de vida como " homossexualismo  " —pela carga negativa que o sufixo " ismo " carrega —, induzindo-nos a preferir o uso do termo " homossexualidade ". E eles estavam certos, afinal, sabemos como o uso maldoso da linguagem pode reforçar estigmas sociais. Falando agora de política, algo de similar ocorreu durante muito tempo nessa área, pelo menos nos últimos 15 anos com relação a um específico programa social: toda a política de transferência de renda que foi patrocinada pelos governos Lula e Dilma eram tachados de " assistencialismo ", exatamente, como se houvesse ação inerentemente dolosa de um político em usar a máquina pública em favor dos mais necessitados (paternalismo) para produzir políticas públicas em favor dos pobres (populismo).  Estas práticas só tem todos esses &qu

Esquerda defendendo sites de extrema-direita bolsonaristas?

Imagem
Ministro Alexandre de Moraes determina retirada de perfis bolsonaristas R ecentemente o site Disparada — ao que tudo indica, ligado ao cirismo pedetista — lançou um artigo em que o jornalista Renato Zaccaro questiona a decisão do ministro do Supremo (STF), Alexandre de Moraes, de mandar tirar do ar perfis de redes sociais ligados ao bolsonarismo .  Em sua postagem, ele pergunta " e quando formos nós? ", antecipando que o mesmo STF poderá tomar a mesma atitude " autoritária " contra sites e perfis de esquerda se algum momento a esquerda "radical" chegar ao poder.  Ora, a esquerda definitivamente precisa parar com esta atitude de apoiar incondicionalmente, mesmo que indiretamente neste caso, o lado inimigo em nome da defesa das quimeras burguesas, da fantasia democrática e das instituições do status quo . Essa postura, além de não contar jamais com a reciprocidade do lado de lá da trincheira ideológica, coloca as esquerdas numa redoma de atuação comporta

Devemos ou não "desejar" a morte de Bolsonaro

Imagem
"Aqui se faz, aqui se paga"? E sse tema tem sido levantado devido à repercussão, nas redes sociais, da notícia de que o presidente Jair Bolsonaro testou positivo para covid-19.  A partir de então, milhares de pessoas comentaram de forma talvez irônica, talvez séria, que estão torcendo para a morte do presidente. Por outro lado, surge uma campanha dentro da própria esquerda de viés liberal condenando tal atitude. Afinal, devemos ou não devemos "torcer" pela morte de Bolsonaro?  Acredito que o problema esteja na formulação da questão. Os termos "desejar" ou "torcer" pela morte de alguém carregam uma conotação de reprovação bastante moralista cristã, como se isso definisse o nosso mal-caratismo. Segundo essa vertente, "não se deve torcer pela morte nem do nosso pior inimigo". Recentemente, a nova estrela do liberalismo politicamente correto, Gabriela Priori , lançou um tweet afirmando que quem deseja a morte de um desafeto se equipara a

Desrespeito à quarentena por classes sociais

Imagem
Primeiro dia de abertura de bares e restaurantes no Rio O s jornais da TV têm mostrado, recentemente, cenas dos boêmios da Zona Sul carioca desfrutando de bares e restaurantes noturnos, no primeiro dia de liberação destes estabelecimentos pela prefeitura. Antes, tais desleixos com relação ao necessário isolamento social eram vistos frequentemente nas periferias, gerando críticas e indignação da sociedade de forma geral.  Imagine a situação: o Brasil atingindo recordes de internação e mortes por conta do coronavírus, e o povo saindo às ruas tranquilamente, aproveitando até shopping que permite a entrada de veículos , como no interior de São Paulo.  Será que o brasileiro enlouqueceu?  Na verdade eu acredito que existam explicações para cada um dos casos, ou seja, o desrespeito ao isolamento tanto nas altas classes médias quanto nas periferias pobres. Na falta de verba para uma pesquisa de opinião científica, resta-nos uma análise que embora seja de caráter especulativo, lança mão de um c

"Alfred Rosemberg" do bolsonarismo, Olavo fez que foi e acabou ficando no governo

Imagem
Olavo de Carvalho recebeu um bagarote do velho da Havan e mudou de ideia T erminei recentemente de ler um livro, O Diário do Diabo , de David Kinney e Robert K. Wittman, que conta, na primeira parte, da saga do diário que Alfred Rosenberg , o ideólogo do nazismo, manteve durante os anos de III Reich, e que durante muito tempo tinha seu paradeiro desconhecido. A seguir, o livro conta a história do advogado judeu que fugiu da Alemanha nazista, foi parar nos Estados Unidos e por conta de uma perseverança ferrenha, acabou se tornando o promotor representante estadunidense no Tribunal de Nuremberg, ajudando a condenar diretamente seus antigos algozes. Rosenberg pagou por seus crimes sendo enforcado, mas o que nos interessa aqui foi como ele se tornou o ideólogo de uma doutrina assassina e insana. Germânico estoniano, foi para Munique logo após o final da Primeira Guerra, momento exato em que as conjunturas estavam reunindo um bando de insanos, ressentidos, bêbados, veteranos d

Fundação Ford: como os Estados Unidos criaram as condições para a ascensão da extrema-direita

Imagem
Henry Ford, fundador da companhia de automóveis e da fundação que leva seu nome O fim da Segunda Guerra Mundial trouxe como legado para o mundo uma economia mais equilibrada, fruto do maior controle estatal sobre os desmandos das competições desenfreadas do mercado livre — o mesmo que nos levou a sucessivas crises e conflitos no começo do século XX, como a Grande Depressão de 1929 e a duas Grandes Guerras. Esse período que, curiosamente, coincide em grande parte com o da Guerra Fria, ficou conhecido como os Trinta Anos de Ouro . Mas os grandes capitalistas financeiros, colocados na coleira, não estavam satisfeitos. Apenas se resignaram diante da inequívoca evidência de que o liberalismo econômico sem controle leva a consequências perigosas. Isso, pelo menos, até a primeira grande crise do modelo pós-guerra, no começo dos anos 70. Uma série de fatores nesse período iria contribuir para o renascimento dos grandes capitalistas, que, agora chamados de neoliberais , saíram de novo

Por que Ciro se virou contra o PT

Imagem
É o fim da antiga parceria?  D evido ao grave momento político por que passa o nosso país após a eleição de Jair Bolsonaro , é cada vez mais forte o movimento que clama pela  união das esquerdas, para o possível enfrentamento da onda reacionária que tomou conta do Brasil. Neste cenário, muitos lamentam que haja um racha no seio do espectro político esquerdista, provocado especialmente por Ciro Gomes e o PT, ou, no que ele chama, a fração lulopetista que insiste no necessário protagonismo do líder máximo do Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva, em detrimento de outras lideranças. Há poucos anos a aliança entre Ciro Gomes e o PT ocorria de forma natural em várias ocasiões, especialmente em época de eleição, quando era necessário derrotar a candidatura neoliberal tucana  para a presidência da República. Ciro Gomes, inclusive, chegou a ser parte do governo petista como ministro. Por que agora o provável presidenciável pelo PDT em 2022 resolveu bater tanto no PT,

A reunião ministerial e a macabra profecia de Jair Messias Bolsonaro

Imagem
A polêmica reunião ministerial de 22 de abril. Loucura com método?  S e você acompanha este blog, então eu imagino que política faça parte do leque dos seus assuntos preferidos. Portanto, é praticamente certo que você também já assistiu a divulgação do estarrecedor vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril, o,u pelo menos, parte dele. Assim sendo, eu te pergunto: o que mais pode ser dito sobre tamanha patacoada ? Está tudo lá bem explícito; todos os disparates, as grosserias, os crimes contra a honra, as interferências indevidas... Tudo já devidamente condenado, logo a seguir, com as famosas notas de repúdio de entidades e partidos. Só nos resta, então, ir por outro caminho: seria toda essa constante aberração produzida por esta patuleia reunida no governo obra do acaso, da pura coincidência que atuou para agrupar pessoas tão abomináveis? Ou existiria uma intenção premeditada por trás de cada loucura que assistimos pasmados diante da TV todos os dias? Não é de hoje que

Quem são eles?

Imagem
E les roubaram a nossa bandeira. Chafurdaram com ela no egoísmo, desnudaram a farsa do símbolo nacional como abrigo a todos os brasis, transformaram-na numa arma de luta classista particular. Seus empunhadores a levantam em nome dos seus privilégios, sempre em hostilidade contra " os outros ", cujo quinhão de riqueza do país lhes é negado, não obstante serem eles, os outros , os verdadeiros produtores da riqueza. Usurparam também o sentido de moralidade, dando a ele um viés de etiqueta superior, elitista, conservador, onde os costumes "certos" — os deles , óbvio — são tidos e havidos como universais. Assim combatem tudo o que seja diferente da sua pequena visão de mundo. São pessoas cujos passaportes revelam dezenas de viagens pelo mundo, não obstante a cabeça continuar estreitamente provinciana. A religião segue fazendo o seu velho papel para eles . Jogar uma cortina de fumaça na verdadeira condição social das pessoas mais pobres, para que elas não possam i

Flavio Migliaccio, sua tristeza é a de todos nós

Imagem
Ator Flávio Migliaccio tirou a própria vida e deixou uma carta  N ão sei se o ator Flávio Migliaccio , que ontem tirou a própria vida, sofria de depressão. Mas se levarmos em conta a carta que deixou, a realidade brasileira e as pessoas com quem teve que lidar durante a vida foram grandes fatores determinantes para a sua radical decisão. O que nos faz refletir. De fato, todos nós que guardamos ainda um senso crítico da realidade estamos um pouco doentes. Pasmados de ver acontecimentos absurdos, indignos, vis, se sucedendo cotidianamente diante dos nossos olhos. O surgimento de uma parcela de pessoas de estirpe raivosa, que mistura um cristianismo cruzadista com um patriotismo tosco , embalado num pacote de irracionalismo no seio de uma classe média já por si só majoritariamente reacionária  no protagonismo da política, é o grande símbolo deste momento de absurdos de gestos, palavras e ações que se refletem no governo federal que ajudaram a eleger. Neste governo, o absurdo

Quarentena: por que as pessoas lidam tão mal com o tempo livre

Imagem
R ecentemente, no programa Papo de Segunda , no canal GNT, o rapper Emicida  levantou uma questão bastante controversa a respeito do que fazer nesta prolongada quarentena, criticando a suposta obrigação de produzir até no descanso, citando o chamado ócio criativo . Na chamada do Facebook do canal para o vídeo do comentário do artista, podia-se ler: "Emicida se manifesta contra a ideia do ócio criativo na quarentena, que pressiona [sic] as pessoas a produzirem e aprenderem mais". " Ócio criativo " se tornou um jargão muito popular no mundo, mas poucas pessoas aplicam o termo de forma precisa, ou realmente pararam para ler o autor desta teoria, Domenico de Masi , para entender realmente o seu conceito. Não sei se foi o caso de Emicida. Intuitivamente ele até defende corretamente o ócio por si mesmo no seu comentário, mas, criticando o fato da "criatividade" ser uma suposta obrigação , se confunde no entendimento do conceito.  De Masi não foi o primei

Caso 3M: quando uma transnacional pode desafiar o Estado mais forte do mundo

Imagem
D urante muito tempo, a força dos Estados nacionais era incontestável no mundo que começou a emergir junto com a Revolução Francesa . No entanto, naqueles fins de Segunda Guerra Mundial , no século XX, eles começaram a experimentar um declínio que é, hoje, explícito perante os nossos olhos. Trump e a 3M Em tempos de pandemia mundial como a que estamos vivendo, coube ao presidente do Estado mais forte e poderoso do último século no mundo — os Estados Unidos — evocar uma lei nacional dos anos 50, a Lei de Produção para a Defesa, ou " P Act ",  para obrigar empresas privadas, como as de automóvel, a produzir respiradores mecânicos e uma outra, a 3M , a parar de exportar máscaras hospitalares para o Canadá e a América Latina, para beneficiar o estadunidense local. De todas as famosas empresas automobilísticas estadunidenses, apenas a GM parece disposta a acatar o pedido de Donald Trump; já a 3M declarou abertamente que não vai cumprir a determinação, coisa impens

Gostou do blog e quer ajudar?