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Mostrando postagens de 2021

Moro está nu!

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  E xiste uma antiga fábula, adaptada pelo escritor dinamarquês Hans Christian Andersen em meados do século XIX, que fala sobre um falso alfaiate que produziu uma roupa especial para o rei, que só os inteligentes poderiam ver.  Durante algum tempo, o alfaiate fingia trabalhar em seu ateliê num tecido que obviamente não existia, e as pessoas, admiradas com os movimentos do artesão no ar, fingiam ver pela janela o tecido ser cortado, costurado, arrumado, para não parecerem estúpidas aos olhos dos outros.  Até que, um dia, o ansioso rei fez uma visita ao ateliê para ver a tal roupa especial de uma vez. Diante de um balcão vazio, o rei exclamou " que lindas vestes ", com medo de parecer idiota diante de seus súditos. Foi então que marcou um desfile real para que todos pudessem admirar sua nova vestimenta.  Durante o evento, uma criança inocente exclamou " o rei está nu! ", e diante da sinceridade pueril do pirralho, de pouco em pouco todos passaram a admitir que não via

A Casa de Papel, opinião pública e a perigosa destruição de reputações

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  "Berlim", o líder dos sequestradores na casa da moeda A Casa de Papel voltou a ser assunto nesta semana, por conta da exibição dos últimos episódios da última temporada na Netflix , que encerrou uma das mais bem sucedidas séries do streaming . Aproveitando isso e o fato de eu estar assistindo esse fenômeno de popularidade pela primeira vez, com atraso, eu venho trazer uma discussão: qual o limite de uma autoridade pública mentir deliberadamente para conseguir algum suposto benefício do bem comum?  O tópico em questão foi inspirado num evento ocorrido no oitavo episódio (a partir de 24:09) da primeira temporada. Naquela ocasião, os investigadores e a equipe policial tinham acabado de descobrir a identidade de um dos líderes dos assaltantes-sequestradores, que usava o codinome Berlim.   A partir daí, a negociadora da polícia, Raquel, decidiu que usaria a imprensa para jogar a opinião pública contra os delinquentes, vazando a ficha criminosa do " excêntrico " Berlim

Devemos nos preocupar com o futuro que os nerds estão criando para nós?

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  C omo será o mundo agora que os nerds parecem ter tomado o lugar dos brutamontes na história?  Desde que o primeiro hominídeo pegou um osso alongado de alguma caça e percebeu que poderia transformar aquele objeto em arma, que nós vivemos sob a influência da agressividade , do medo e da guerra nas relações humanas. Civilizações inteiras foram criadas com base nessas premissas, onde os valores pessoais relacionados a estas características foram enfatizados. Eram conceitos que fizeram o homem, mais equipado para este tipo de sociedade, suplantar a sensibilidade e a intuição femininas como ideais a serem resguardados.  Com isso, extrapolando-se da mera relação interpessoal, a lei do mais forte passou dos clãs às tribos, das tribos às aldeias, das aldeias às cidades, e das cidades aos estados modernos, mantendo-se o permanente estado de rivalidade, agressividade e animosidade contra os vizinhos. Nem sequer o Iluminismo e o liberalismo burguês , no século XVIII, com suas regras de cond

Nomeação de André Mendonça deveria preocupar Lula

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Aliados de outrora, evangélicos foram apoiadores do golpe no Congresso J air Messias prometeu e cumpriu. E também comemorou nas redes sociais o que considerou uma vitória pessoal. Emplacou o seu ministro " terrivelmente evangélico " dentro do Supremo Tribunal Federal . Quais as consequências disso para o Brasil, e especialmente para um possível novo mandato de Lula , a partir de 2023?  Há muitas coisas a se considerar nesta nomeação de André Mendonça para o STF.  Antes de mais nada, deveria um presidente da República nomear ministros do Supremo Tribunal Federal?  Existe uma formalidade chamada sabatina que ocorre no Senado, onde o candidato à vaga no STF precisa responder uma série de questões para ser aprovado. No entanto, sabemos que aquilo não passa de mera encenação. Desde 1894 todos os postulantes ao cargo foram aprovados . Somente cinco não foram até hoje , todos neste mesmo ano de 1894. Isto quer dizer que há 127 anos o presidente da República nomeia tranquilamente mi

Vivendo uma rotina de violência, carioca recorre à sua única arma: o sarcasmo

A irreverência do carioca em situações desfavoráveis é conhecida desde, pelo menos, a chegada da família real portuguesa na cidade, em 1808. Naquela ocasião, o Rio de Janeiro contava apenas com 50 mil habitantes, convivendo já com graves problemas estruturais.  Do dia para a noite, Dona Maria, Dom João e sua recém-chegada corte  acrescentaram um contingente extra de 15 mil almas na cidade, que precisavam ser alocadas em residências imediatamente. Devido à falta de moradas disponíveis, a metrópole estabeleceu compulsoriamente as casas que os moradores locais deveriam abandonar para receber os portugueses. Era pintado um PR (" Príncipe Regente ") nas portas destas casas, indicando quais deveriam ser disponibilizadas. Mas, entre o populacho, começou a circular o rumor que esta sigla significava, na verdade, " Ponha-se na Rua ", um típico exemplo de como a ironia ajudava a aliviar, de alguma forma, o sofrimento imposto.  As décadas seguintes, porém, assistiram a uma in

A trapaça da terceira via

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Nem Lula, nem Bolsonaro. Mas o quê? T erceira via, terceira via, terceira via... Desde que o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva reconquistou o direito de ser candidato a presidente da República — aliado ao fato de ser o líder de todas as pesquisas — que esta estranha obsessão da busca de uma terceira opção toma conta do cenário em diversos setores do país.  Mas quem são e o que propõem os candidatos até agora identificados nesta denominação?  Terceira via é um conceito bastante elástico, que vem servindo a diversos propósitos políticos ao longo do tempo. Historicamente, esteve ligada ao fascismo , quando setores reacionários da Europa buscavam uma alternativa econômica e política tanto ao liberalismo quanto ao comunismo . Depois, ressurgiu junto ao peronismo nos anos 40, e a partir dos anos 90, foi apropriada por políticos seguindo a linha do sociólogo inglês Anthony Giddens , a de (tentar) superar a supostamente anacrônica dicotomia " esquerda " e " direita &qu

A guerra civil que nos aguarda em 2022

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Polícias Militares no novo golpe de 2022?  U m olhar de historiador sobre o momento que vive o nosso país é capaz de revelar que chegamos a uma fase de encruzilhada no Brasil. Como em poucos momentos na nossa história, teremos que enfrentar um ponto de ruptura institucional em 2022. As disputas pela sucessão presidencial, que muito provavelmente chegarão às raias de uma guerra civil , irão definir que país sairá da crise que se avizinha para as eleições de 2022 e após.  Exagero?  Basta olhar os diversos indícios que o presidente Jair Bolsonaro demonstra todos os dias. Talvez só no plebiscito de janeiro 1963, que definiu a volta do presidencialismo e dos plenos poderes ao presidente João Goulart, tivemos uma conspiração tão aberta nos antecedentes de uma crise. Naquela ocasião, o golpe empresarial-militar aconteceu também pouco mais de um ano depois, em abril de 1964, como se espera agora para outubro de 2022.  Se naquela ocasião a justificativa foi um " golpe preventivo "

A esquerda liberal derrotista que defende burgueses em perigo

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"Tio Trotsky", o pai da esquerda liberal no Ocidente M ais uma vez, a chamada esquerda liberal se mobilizou em peso nas redes para defender um personagem controverso. Com a prisão do ex-funcionário do Ministério da Saúde, Roberto Dias , na CPI da Covid por perjúrio, diversos " advogados de defesa " do campo ideológico da esquerda (se é que assim podemos considerar) levantaram a voz para defender a suposta ilegalidade da ação, e até colocar em xeque a própria CPI.  Cansa esse tipo de comportamento.  A esquerda liberal se coloca equivocadamente como defensora incondicional das leis e dos direitos, da Constituição e das instituições republicanas burguesas. Pouco importa se, ao longo da história, o outro campo ideológico da direita só os defenda na base da conveniência, estando pronto para abandonar, subverter e eliminar quaisquer bases institucionais para alcançar determinados objetivos políticos, que geralmente é barrar a ascensão da esquerda ao poder. Alguns exemplo

Totalitário é o capitalismo

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Q uando se fala de totalitarismo, todo mundo tem na ponta da língua os Estados e líderes políticos que seriam partidários deste regime. Está nos livros, nos portais de internet, nas mídias de forma geral. " Governo totalitário da Coreia do Norte proíbe calça jeans "; " Stalin foi o líder totalitário da União Soviética ".  Mas quantas vezes ouvimos falar do totalitarismo capitalista ?  O capitalismo deixou de ser, há muito tempo, um mero sistema econômico e passou a penetrar em todas as esferas da vida. É impossível falar de qualquer coisa deste mundo sem que ela tenha um valor, um preço, um mercado, sem que seja uma commoditie pronta a ter sua cotação negociada na Bolsa de Nova Iorque. Até a água. Falta pouco para que consigam enquadrar o oxigênio como produto a ser negociado.  O primeiro passo é torná-lo escasso. Não duvidem que estamos nesse processo.  O capitalismo corrompeu a humanidade. O dinheiro, que foi concebido como facilitador das trocas comerciais, viro

Lázaro Barbosa morto e os direitos humanos

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Lázaro Barbosa e as buscas em Goiás O governador do Estado de Goiás acaba de antecipar a tão esperada prisão de Lázaro Barbosa .* Em instantes, a polícia deve conceder uma entrevista coletiva confirmando o fato. E agora? Vamos ver, antes de tudo, alguns detalhes dessa busca e como os Direitos Humanos se relacionam a este caso.  Os preconceitos de sempre Está em cartaz no streaming da Globo o documentário O Caso Evandro . Os episódios relatam desaparecimentos de crianças no Paraná no final dos anos 80 e início dos anos 90. Neles, é possível assistir o medo causado na região, a tentativa das polícias em encontrar o serial killer e a grande repercussão na mídia. Quase 30 anos depois, no chamado "Caso Lázaro", completados exatos 20 dias de buscas no dia de hoje, uma equipe de policiais conseguiu prender o assassino Lázaro Barbosa de Sousa no interior de Goiás.  Ambos os casos têm mais coincidências do que gostaríamos. Passado tanto tempo, esperávamos que certos preconceitos

O discurso que não foi discurso do Casemiro e o boicote que não aconteceu

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Após se esquivar de esclarecimentos, Casemiro virou herói T enho acompanhado, um tanto incrédulo, as manifestações de setores da sociedade brasileira — tanto os bolsominions raivosos e suas ameaças na internet quanto as celebrações insensatas dos liberais e até de setores da esquerda cirandeira — a respeito do possível boicote dos jogadores à Copa América.  Tanto o técnico da seleção brasileira, Tite , quanto os jogadores, não falaram abertamente sobre o assunto até agora, sob o pretexto de estarem concentrados nos jogos das Eliminatórias, prometendo uma declaração para depois do jogo do Paraguai, nesta terça.  Após uma entrevista evasiva do capitão da seleção, Casemiro , no fim do jogo contra o Equador nesta última sexta, diversos analistas, torcedores e o público de forma geral começaram a ter certeza absoluta, de forma inexplicável, de que os jogadores tinham tomado uma atitude política contra o presidente Jair Bolsonaro . Tinham certeza de que os atletas iriam boicotar o evento,

2022, a eleição fácil mais difícil que a esquerda terá pela frente

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  Para quem os militares baterão continência em 2022?  A pandemia está longe de estar sob controle no Brasil. Ainda morrem centenas de pessoas todos os dias no nosso país, e segundo uma recente pesquisa divulgada, no ritmo atual, atravessaremos todo esse ano e mais o ano que vem sem que 80 por cento dos brasileiros estejam devidamente imunizados.  Mas, 2022 também é ano de eleição, e, neste cenário, como não poderia deixar de ser, as discussões que geralmente ocorrem em meados de abril do ano eleitoral, quando se definem as chapas, foram antecipadas para este momento crítico.  A conjuntura mostra alguns detalhes que nos ajudam a entender o que teremos pela frente. A princípio, a esquerda teria um caminho fácil para eleger um presidente da República. Pelo menos em teoria. Seria ainda mais tranquilo se PT e PDT não estivessem em lados irremediavelmente opostos, tendo dois dos três principais candidatos das pesquisas, Lula e Ciro Gomes .  Direita política chegará sem candidato forte em 2

Enzo Celulari, Felipe Neto e o consumo de carne no Brasil

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D eu o que falar a notícia de que o consumo de carne bovina no Brasil caiu a níveis de 1996, o ano em que o Conab ( Companhia Nacional de Abastecimento , órgão que oferece ao governo informações detalhadas sobre a produção agropecuária nacional, por meio de levantamentos de previsão de safras, de custos de produção e armazenagem, etc.) começou a série histórica.  Ano passado, a média de consumo de carne bovina por habitante foi de 26,4 kg, cerca de 14 por cento a menos do que no ano anterior. Alguns setores da população começaram a especular, de forma polêmica, sobre quais teriam sido os reais motivos desta queda. Dentre estes, o filho de Claudia Raia e Edson Celulari, Enzo , "empreendedor social", se destacou no twitter, ao considerar se a diminuição não era em decorrência de alguma suposta tendência lúcida do consumidor à causa vegana:  A partir de então deu-se a celeuma na internet. De um lado, aqueles que criticaram a falta de senso de realidade do filho dos atores fam

Perguntas que eu gostaria de fazer a um oficial do exército brasileiro

O s militares brasileiros não poderiam ter escolhido um cenário pior para voltar a participar diretamente da política brasileira, desde o Golpe de 64 . E digo isso independentemente da pandemia cuja participação direta das Forças Armadas foi simplesmente desastrosa.  A imagem dos militares nunca foi de muito prestígio desde o fatídico Golpe, e muito disso é devido ao próprio comportamento da corporação. Suas atuações desde a redemocratização passaram de uma constrangida tutela à distância a uma participação cada vez mais hostil e militante desde que o PT chegou ao poder.  Como funcionários públicos que são, acredito que nos devam algumas explicações sobre alguns fatos que caracterizam essa atuação militar nos últimos anos, respostas que infelizmente jamais obtivemos de forma clara. Se eu pudesse, então faria as seguintes perguntas a algum oficial militar, na esperança de que ele pudesse me esclarecer algumas das dúvidas mais perturbadoras que eu tenho:  Em que se baseia tanta agressivi

Quanto vale a vida no Brasil

Q uanto vale a vida de um escravo? Um escravo é um não-sujeito , um trabalhador compulsório, uma ferramenta que funciona em favor de terceiros, que pode ser trocada, descartada por outra ferramenta .  Até maio de 1888, uma pequena elite de colonizadores se utilizou dessas "ferramentas" para prosperar no Brasil, um mero objeto descartável com uma média de duração de 7 anos, que podia ser substituída no mercado por outra, indefinidamente.  Até que, aos poucos, o sistema econômico mundial foi modificando, a escravidão já não era tão vantajosa assim, de modo que o trabalho assalariado se tornou a forma de trabalho predominante, e hoje, teoricamente , substituiu o trabalho compulsório.  O Brasil teve a sua abolição tardia da escravidão, de maneira que ainda não é possível vencer a força de mais de 300 anos de trabalho escravo na mentalidade das elites neste país, cujas raízes profundas estão nas fundações da nossa sociedade até hoje. A segunda grande iniquidade contra os ex-escrav

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