Moro está nu!

 


Existe uma antiga fábula, adaptada pelo escritor dinamarquês Hans Christian Andersen em meados do século XIX, que fala sobre um falso alfaiate que produziu uma roupa especial para o rei, que só os inteligentes poderiam ver. 

Durante algum tempo, o alfaiate fingia trabalhar em seu ateliê num tecido que obviamente não existia, e as pessoas, admiradas com os movimentos do artesão no ar, fingiam ver pela janela o tecido ser cortado, costurado, arrumado, para não parecerem estúpidas aos olhos dos outros. 

Até que, um dia, o ansioso rei fez uma visita ao ateliê para ver a tal roupa especial de uma vez. Diante de um balcão vazio, o rei exclamou "que lindas vestes", com medo de parecer idiota diante de seus súditos. Foi então que marcou um desfile real para que todos pudessem admirar sua nova vestimenta. 

Durante o evento, uma criança inocente exclamou "o rei está nu!", e diante da sinceridade pueril do pirralho, de pouco em pouco todos passaram a admitir que não viam nada, para o total constrangimento do rei, percebendo, ele próprio naquele momento, estar completamente nu diante da população. 

Ano que vem, veremos no Brasil um caso semelhante, um "rei" que estará completamente despido de quaisquer subterfúgios para lhe ocultar as verdadeiras intenções. Esse rei chama-se Sérgio Moro. A diferença, no entanto, é que, ao contrário do conto, o rei sabe que está realmente nu, e conta com a mídia burguesa fazendo o papel de "alfaiate" tentando convencer os desinformados, iludidos ou mal-intencionados das suas roupas invisíveis. 

O ex-juiz de primeira instância foi e continua a ser uma peça voluntária no tabuleiro geopolítico em favor dos imperialistas estadunidenses, cujo departamento de estado tem relações promíscuas com ele. Sua atuação na Lava Jato tinha como objetivo real não o combate à corrupção, mas sim minar a esquerda através das criminalizações focadas no PT, impedindo assim a hegemonia que o partido conquistou nas urnas, bem como destruir empresas brasileiras com sucesso no exterior, algo que incomodava bastante o imperialismo. 

Todo esse papel miserável de agente do estrangeiro contra os interesses do Brasil a que se prestou Sérgio Moro é relatado com detalhes pelo jornalista francês Nicolas Bourcier  e por Gaspard Estrada no jornal Le Monde

Portanto, a primeira "roupa invisível" que Sérgio Moro vestiu foi a de juiz imparcial no combate à corrupção. E muita gente, inclusive da esquerda, inclusos muitos petistas, fingiam ver a roupa do rei, criticando alguns excessos mas não a atuação do juiz na operação Lava Jato em si. Afinal, se os súditos do Rei na fábula não queriam parecer estúpidos, ninguém queria parecer ser a favor da corrupção. 

A seguir Moro trocou a roupa por outra invisível e virou ministro do governo que se beneficiou diretamente de suas decisões contra o PT, que impediram Lula, favorito nas pesquisas, preso na cadeia de Curitiba por "crimes indeterminados" sem provas, de ser candidato. Mais uma vez as pessoas fingiam ver Moro como ministro implacável que tinha um projeto contra a impunidade, não obstante ele perdoasse, por exemplo, crimes do campo conservador, porque o criminoso "pediu desculpas". 

E agora Moro veste a roupa de presidenciável. Por mais que esteja completamente nu diante de todos aqueles que, mesmo que não sejam muito inteligentes, acompanham a trajetória delinquente do ex-juiz e conseguem enxergar todos os interesses por trás de suas intenções, muitas pessoas ainda fingem ver nele uma opção para a cadeira presidencial. 

Certamente, porém, isso tem hora pra acabar. Quando Moro e Lula estiverem frente a frente de novo. Não um encontro entre réu e juiz no tribunal, mas no primeiro debate eleitoral da TV. Haverão de aparecer diversos pirralhos inocentes diante da TV, bem como marmanjos também, apontando o dedo para Sérgio Moro a dizer: "Sérgio Moro está nu!

A partir desse momento, ele estará de fato completamente despido de suas mentiras diante dos olhos dos milhões de brasileiros, que passarão a reconhecer que o Marreco de Curitiba não é apenas um ex-juiz corrupto, com interesses pessoais espúrios, e sim um agente da burguesia nacional alinhada com o imperialismo estadunidense, que tem o papel de manter em curso o projeto neoliberal de destruição nacional. 

Então caberá a Sérgio Moro apenas dois caminhos: a prisão por seus crimes, inclusive contra a segurança nacional, ou o "paraquedas dourado", que é o prêmio de consolação que o imperialismo oferece a todo estrangeiro que se corrompe contra seu próprio país para servir aos interesses dos Estados Unidos, depois dos bons serviços prestados. 

E, depois de Sarney, Collor, Fernando Henrique, Serra, Bolsonaro e agora o Marreco de Maringá, a burguesia nacional terá de criar um novo agente de seus interesses na política. Afinal de contas, "rei morto, rei posto"... 





Comentários

Gostou do blog e quer ajudar?

Você também poderá gostar de:

Qual é o termo gentílico mais adequado para quem nasce nos Estados Unidos?

Comunistas não podem usar iPods ou roupas de marca?

Singapura, exemplo de sucesso neoliberal?

CBF reconhece o título do Flamengo de 1987. Como se isso fosse necessário

O mito do livre mercado: os casos sul-coreano e japonês