Senado tem CPI do Assassinato de Jovens

CPI do Assassinato de Jovens

O Brasil é um dos países mais violentos do mundo. Aqui, a média de mortes por homicídio ultrapassa sempre a casa dos 50 mil casos por ano. Mais do que em muitas guerras declaradas. Levados pelo alarde das mídias comerciais e das classes médias mais conservadoras da sociedade, o Estado se equivoca na proposta de combate a esses crimes, aumentando a repressão através da política de militarização do combate às drogas, por exemplo, deixando de atacar o problema na sua verdadeira raiz: a questão social.

Pensando nesses tópicos, o Senado Federal instaurou em maio a CPI do Assassinato de Jovens, que busca investigar o elevado número de mortes de jovens no Brasil, presidida pela senadora Lídice da Mata, do PSB-BA. Uma das primeiras medidas da senadora foi articular a Comissão Parlamentar de Inquérito do Assassinato de Jovens com a que trata da Violência Contra a Juventude Negra, de modo a contribuir para melhores resultados de ambos os trabalhos.

Depois de ouvir dezenas de pesquisadores e especialistas sobre a questão da violência contra a juventude brasileira durante os últimos meses, a CPI identificou a necessidade de mudar o foco do combate militarizado às drogas para uma política de prevenção, sugestão que será encaminhada ao Palácio do Planalto na conclusão dos trabalhos.

De acordo com as estatísticas apresentadas pelo senador Paulo Paim, de cada dez jovens assassinados no Brasil, oito são negros, demonstrando que a questão da violência tem uma característica específica, um alvo determinado, e não um processo aleatório. É praticamente uma política não-oficial de extermínio da juventude negra, o que deveria chamar a atenção do país inteiro. A CPI tem previsão de estar concluída em novembro.

Infelizmente, a CPI terá que enfrentar uma visão distorcida da opinião pública sobre o tema. Propostas progressistas de combate à violência não tem muito prestígio numa sociedade atualmente brutalizada e amedrontada pelos meios de comunicação de maior porte – basta notar a pouca ou nenhuma repercussão da referida CPI na grande imprensa. Propostas de combate à violência que não envolvam mais violência são tidas como ineficazes, quando é justamente a repressão armada a responsável pelo grande número de mortes no país. Mas enquanto as vítimas forem das classes mais baixas e de etnia negra, a sociedade brasileira continuará a ser insensível sobre a questão da violência. Só se manifesta quando o problema sai dos guetos e favelas e atinge seus condomínios fechados, quando então clamam por mais repressão policial. O desafio é romper esse círculo vicioso que se sustenta com insensibilidade, descaso com a pobreza e preconceito contra pobres e negros.





Comentários

  1. Olá, Almir!
    Cada vez que venho ler seu blog, eu me surpreendo mais com seus questionamentos e opiniões.
    Entrar para a Universidade sempre vai ser o fato que mudou minha vida. Faz só alguns meses, mas já acredito que mudou. Até bem pouco tempo atrás (um ano, por exemplo), eu era uma pessoa com opiniões extremamente reacionárias. Compartilhava de pensamentos como: "Cotas são privilégios", "Redução da maioridade vai diminuir a violência", "Engravidou porque quis", "Se você passa por dificuldades, é porque não se esforça o suficiente" entre outras grandes falácias usadas por aí, das quais não me orgulho nem um pouco. A universidade mudou meu pensamento sobre tanta coisa, que sequer consigo enumerar! Uma delas é o genocídio da juventude negra. Eu me tornei consciente, e coisas que antes eu apenas ignorava, agora passaram a ser preocupações sociais para mim.
    Queria frisar alguns pontos do texto. Quando você afirma a CPI teve pouca repercussão na mídia, por exemplo, eu não posso deixar de concordar. A repercussão foi tão pouca, que até eu, que em considero uma pessoa bem-informada sobre os assuntos que me interessam, não fiquei sabendo.
    Enfim, foi bom ler sobre isso por aqui.
    Um abraço,
    Lethycia Dias

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    1. Oi Lethycia,
      Eu fico feliz que você tenha se questionado e até certo ponto mudado bastante de opinião. Isso é uma reflexão difícil, que poucos são capazes de realizar, porque se apegam às suas certezas com tanta convicção que qualquer ideia diferente as ameaçam em vez de abrir-lhes a mente. Por isso, te dou meus parabéns.
      Essas falácias que você citou circulam livremente pelo senso comum, de modo que parecem tão óbvias que não sentimos necessidade de questionar. E esse é o grande desafio daqueles que, como nós, conseguiram seguir um outro caminho: apontar uma direção menos intolerante e raivosa para nossa sociedade.
      Obrigado pela visita e volte sempre que quiser.
      Grande abraço.

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