Como entender a renúncia de Alexis Tsipras

Alexis Tsipras renuncia

Quando o Syriza, partido de coalizão das esquerdas, venceu a eleição na Grécia, um sopro de esperança surgiu nos movimentos populares e partidos de esquerda do mundo. Pela primeira vez, um governo verdadeiramente de esquerda enfrentaria o poder político-econômico da Alemanha por trás da União Europeia.

Alexis Tsipras, o primeiro-ministro eleito na Grécia, começou muito bem, sinalizando medidas progressistas como luz de graça para quem não pudesse pagar, fim das privatizações e a promessa de uma postura firme nas negociações da dívida grega.

Além disso, gestos simbólicos como a visita ao túmulo dos comunistas gregos vítimas do nazismo indicavam os rumos que o governo deveria tomar.

No entanto, sete meses após a vitoriosa eleição de janeiro, Alexis Tsipras renuncia, horas depois do anúncio de mais um pacote de resgate (o terceiro) para o pagamento de dívida da Grécia com o BCE (Banco Central Europeu), fato que vai de encontro com tudo o que o primeiro-ministro pregara até então.

Como entender essa derrota em tão pouco tempo?

A primeira opção é reconhecer que o Partido Comunista Grego (KKE) sempre esteve certo nas críticas ao Syriza. Os comunistas acusavam desde sempre o partido vencedor das eleições de ser “social-democrata” a serviço da burguesia europeia e do capitalismo. Suas medidas não representariam uma ruptura com a troika (União Europeia, Banco Central Europeu e FMI) e sim acordos que a longo prazo representariam os mesmos sacrifícios ao povo grego.

Outra opção é imaginar que Alexis Tsipras está preparando uma volta triunfal com mais força nas próximas eleições, previstas inicialmente para 20 de setembro, apesar de ainda não ter confirmado sua candidatura. Assim como Jânio Quadros renunciou na expectativa de que voltasse com plenos poderes, Tsipras seria eleito no novo pleito com a maioria que não conseguiu no parlamento em janeiro, tendo mais força e poderes para colocar em prática suas medidas econômicas contra os credores. No entanto, o racha que ocorreu dentro do Syriza parece inviabilizar essa alternativa, porque a ala mais radical do partido abandonou a sigla para fundar um novo partido, a Unidade Popular, um dia após a renúncia do primeiro ministro. Estaria essa jogada dentro dos planos do Syriza? Difícil de analisar.

O mais provável, pelo que temos visto, é que o jovem Tsipras chegou ao governo cheio de verdadeiras e boas intenções, mas foi engolido numa disputa de Davi contra Golias nas negociações com a troika e o governo alemão. Sem condições de barganhar melhores condições para os acordos, fez o que foi possível, dentro dos limites do jogo politico, para aliviar a crise. Já que o rompimento radical com a UE nunca esteve nos seus planos, ele preferiu renunciar a ter que assistir de camarote o fracasso das negociações.

Nos próximos meses, teremos uma melhor noção dessa renúncia que nos pegou a todos de surpresa.





Comentários

  1. Antonio de Carvalho02/11/2015, 19:59

    Já estamos em novembro, e não vi mais notícias sobre estas eleições. Alguém sabe me dizer o que deu?

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