Que a paz no Rio não seja coisa apenas pra inglês ver...

 Esses dias, eu lembrei de um documentário que eu assisti há uns 10 anos, que tratava da violência na cidade do Rio de Janeiro, na ótica de uma moradora de comunidade carente, de um traficante e de um policial. Era o "Notícias de Uma Guerra Particular"...





Truculência policial, traficantes que ajudam a comunidade e comunidade que ajuda a encobrir os traficantes...Tudo isso é bastante conhecido de quem mora nessa cidade. O grande mérito deste documentário, é o depoimento sincero e lúcido do então chefe de polícia civil, Hélio Luz, que dá um panorama corajoso de como o Estado funciona e para quem funciona. Talvez por mera coincidência, três meses depois de falar sobre isso, tenha se sentido na obrigação de entregar o cargo...



Exatamente 10 anos depois deste documentário, foi produzido outro, em 2009, bastante similar, dessa vez pela mídia estrangeira, intitulado "Dancing with the Devil". Mais uma vez a violência produzida pelo tráfico de entorpecentes foi narrada através das impressões de três personagens: um pastor, um policial civil e um traficante.



O período de 10 anos, embora possa parecer curto, foi suficiente para perceber algumas situações: o poder de fogo dos bandidos e a violência aumentaram vertiginosamente. Bem como a resposta da polícia, com seus caveirões intimidadores e seu poder de fogo também maior.



Neste ano de 2010, porém, parece que as autoridades perceberam que não adianta o mero confronto armado, a execução de um ou outro líder do tráfico, a apreensão de meia-dúzia de sacolés de cocaína. Era preciso uma ação contundente e profunda para erradicar de vez esse mal pela raiz. A resposta dada veio na forma das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP's), que até o presente momento, têm sido um grande sucesso.



Neste ponto é preciso fazer algumas avaliações: eu conheço grupos de esquerda, movimentos sociais, que são contra a ação, por N motivos, a maioria ligada a questão de supostos preconceitos. Quero crer que essas pessoas, apesar de equivocadas, agem por boa-fé e não por politicagem. Ora, a promessa das UPP's é a melhor possível. Depois da pacificação, vem outras ações do Estado, que foram negligenciadas em parte por descaso mesmo, em parte pelo apoio que os traficantes sempre tiveram em seus respectivos nichos, o que dificultava os serviços mais básicos, como instalação elétrica. Apesar de ser crítico deste sistema e especialmente da política do Governador, não devemos ser desonestos e deixar de admitir coisas positivas do adversário político.



Minha única preocupação é a seguinte: é muito notório que este repentino movimento de interesse do Estado por áreas carentes e violentas tem relação com os futuros eventos internacionais que acontecerão na cidade nos próximos anos: a Copa do Mundo e as Olimpíadas. A população tem que cobrar a continuidade deste programa após o fim dos ditos eventos, pois assim que os holofotes da mídia mundial se desligarem, não será surpresa se o habitual abandono volte a imperar nas áreas pobres da cidade. Estamos de olho.




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