Barack Obama, o Lula deles, também desaponta

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Quando Barack Obama triunfou pela primeira vez nas eleições presidenciais estadunidenses, carregava consigo as expectativas de milhões de pessoas naquele país e no resto do mundo, por conta da imperiosa necessidade de mudar os rumos da violenta política externa do seu antecessor, o nefando e caricato George W. Bush, bem como de uma economia que já apresentava os primeiros sinais de estagnação. Passados alguns anos – e uma reeleição depois – parece que o encanto com a figura carismática do presidente norte-americano está indo por água abaixo, pelas promessas que o mandatário foi incapaz de cumprir e, pior, por estar agora seguindo a cartilha da guerra permanente ao ordenar os ataques na Síria.

Em 2002, Luis Inácio Lula da Silva carregava mais ou menos os mesmos anseios da sociedade brasileira, que estava farta das políticas neoliberais criminosas de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. O povo queria mudanças radicais, quando foi então eleito o ex-operário que tentara por 4 vezes a presidência da República brasileira. Algumas pequenas mudanças vieram, mas nem de longe cumpriram com a promessa de mudar de verdade o alarmante quadro social brasileiro. 

A era dos marqueteiros na política

duda mendonçaTanto lá, como cá, acostumou-se a esperar de figuras isoladas o papel de mudar completamente um quadro negativo ou de crise, como se personalidades carismáticas contassem com algum tipo de superpoder. É a personificação da política, fenômeno bem antigo que a imprensa e os marqueteiros políticos adoram explorar. Mas os setores progressistas dos Estados Unidos começam a cair na real sobre quem é ou o que representa Barack Obama, assim como percebemos que o Lula não era quem prometia ser. Suas eleições foram uma espécie de oxigenação de um modelo saturado, uma aparência de mudança para que tudo permaneça exatamente como está. Mudar para não mudar, tanto aqui, como lá.

Alguns dos fracassos de Obama

Obama foi incapaz de enfrentar o poderoso lobby das empresas privadas de Saúde, que atuam de forma contundente para impedir que os norte-americanos tenham uma Saúde pública e acessível a todos. Com medo de ser tachado de “comunista” (apodo tão pejorativo nos Estados Unidos quanto a de uma calúnia) deixou pra lá. Depois, foi incapaz de ouvir e tomar medidas a favor de uma parcela enorme da população, insatisfeita com os desmandos do sistema financeiro norte-americano que jogaram o país mais rico do mundo na beira do abismo econômico, fenômeno que chegou a gerar algo até então inimaginável naquele país: protestos em massas nas ruas, que culminaram com o “Ocupe Wall Street”. Além disso, não cumpriu a promessa de desativar a base de Guantánamo, fonte de inúmeros casos de violações dos Diretos Humanos. E a Casa Branca, como num golpe fatal, recentemente está apoiando Larry Summers para o posto de Presidente do Banco Central Estadunidense, o Federal Reserve Board (FRB).  Segundo Vicenç Navarro, professor de Políticas Públicas na The Johns Hopkins University em artigo publicado na Carta Maior, “Summers é também o candidato de Wall Street, o centro financeiro dos EUA, e é um dos personagens mais depreciados pelas forças progressistas, dentro e fora do Partido Democrata”. “É um individuo fiel servidor do capital financeiro, pelo qual conseguiu amplos benefícios”. E os exemplos não param por aí.

Fim da última salvação de Obama: a política internacional

As pessoas poderiam dizer que, pelo menos em política internacional, o Obama se salva. Mas essa semana ele acaba de jogar no lixo o último resquício que o diferenciava do seu impopular antecessor, ao autorizar uma guerra contra a Síria de forma totalmente inconsequente.

As fontes oficiais dizem que o presidente ficou muito “chateado” com o uso de armas químicas que mataram várias pessoas em um ataque recente na Síria, cujo vídeo chegou a repercutir bastante nas redes sociais. Mas além das evidentes dúvidas sobre a autenticidade e da autoria do atentado, documentos secretos vazados pelo Wikileaks apontam que os Estados Unidos já estudavam uma forma de tomar o poder da Síria desde 2006, pelo menos. E assim a máscara de Obama caiu de vez para o mundo.

Lula desapontou primeiro

Lula não tinha nem 1 por cento do poder internacional do seu colega norte-americano, mas em termos de decepções, não deixa a desejar. Eleito por prometer acabar de uma vez por todas com a onda privatista que tomou conta do país na época do “Príncipe da Privataria”, Fernando Henrique Cardoso, continuou privatizando empresas públicas no seu mandato sob a eufemística e menos negativa forma de “concessão”.

Se durante seu governo, o Bolsa Família ajudou os pobres, o bolsão de bilhões que ajudou os donos da Globo, banqueiros e empresários foi muito maior. Foi durante seu governo que Eike Batista, por exemplo, chegou a sonhar em ser o homem mais rico do mundo amparado pelos empréstimos do BNDES, e onde começou também a era das empreiteiras no Brasil, que passaram a ser, no período, os maiores financiadores de campanhas políticas no país. Os bancos também passaram a bater lucros recordes, cujo dinheiro na forma sobrenatural das especulações não servem para investir em empregos ou infraestrutura. Se os setores conservadores mostram alguma rejeição ao ex-presidente, é por pura razão ideológica e preconceito de classe. Mas onde Lula mais desagradou mesmo foi dentro dos setores mais progressistas da sociedade, por ter sido pusilânime em questões onde alguns de seus colegas sul-americanos avançaram bastante – como por exemplo, na Lei de Médios e na descriminalização do aborto.

De fato, o que as pessoas começam a perceber agora é que, independentemente das figuras populares e carismáticas que por ventura estejam no poder, seja um Lula ou seja um Obama, a coisa não muda se eles se prestarem ao serviço do capital e dos seus financiadores em vez dos interesses dos trabalhadores. Dilma, uma ex-guerrilheira que pegou em armas contra a Ditadura, é também prova disso.

Leia mais: Brasil e EUA: dois países com dois partidos que parecem um

Somente mudando o atual sistema eleitoral, dando mais peso aos partidos políticos e através do financiamento público de campanha – a oportunidade de uma Reforma Política está bem aí diante de nós – é que poderemos mudar essa ideia de que pessoas sozinhas conseguem, através de um charme pessoal ou apelo popular, mudar os rumos de um país.  Lula e Obama são apenas alguns exemplos entre tantos outros de que a boa imagem de um político muitas vezes não corresponde com os seus atos.





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