O que fazer para ganhar petistas para a causa marxista-leninista

Unidade Popular de Leo Péricles (esq.) e o "apoio crítico" ao PT em 2022 (Fonte: Metrópoles)

 Desde que Luis Inácio Lula da Silva se legitimou como único candidato capaz de livrar o Brasil do pesadelo proto-fascista, representado pelo bolsonarismo no poder, que a militância petista e os militantes da esquerda marxista (sem contar partidos trotskistas como PCO) se encontram em verdadeiro pé de guerra — e muitas vezes, de ataques de baixaria nas redes sociais.

Quais são os pontos que impedem a aproximação dessas correntes e que atitude da esquerda marxista seria mais proveitosa nessa situação? 

Características do PT no governo

Em seu quinto mandato presidencial — os outros quatro representaram 12 anos ininterruptos de poder — já temos uma boa noção do que representa o Partido dos Trabalhadores e seus limites (muitos deles, autoimpostos). É um partido que foi perdendo a sua substância de luta de quando era oposição para se tornar mais conservador no exercício do poder, sob a alegação de que a convivência com partidos da oposição de direita no âmbito democrático pressupõe algum tipo de acomodação e conciliação.

Não obstante tamanha rendição ideológica, o PT continua sendo aquilo de mais próximo a esquerda tem como partido reformista de sucesso, que conseguiu romper todos os obstáculos impostos aos partidos de esquerda nesse país para aplicar um mínimo da agenda progressista. Para alguns, isso é tudo que o PT pode conquistar para a classe trabalhadora; para outros, o PT podia ir muito mais longe, em direção a reformas mais profundas. 

Diferença do PT para os partidos de esquerda

A diferença mais óbvia de todas é que, ao contrário dos partidos marxistas-leninistas, o PT não é um partido que propõe da ruptura do sistema capitalista. 

No entanto, esses partidos ditos da "esquerda radical" aprenderam, especialmente com Lênin, que, muitas vezes, a conjuntura política se apresenta de forma hostil para qualquer movimento mais firme em direção a uma revolução. Daí que, em momentos de dificuldade, caberia uma aliança temporária e estratégica com partidos ideologicamente mais próximos, ou até com características essencialmente burguesas, desde que tivessem como meta comum num primeiro momento, derrotar a ameaça fascista. Como foi no caso da cooperação dos marxistas ao PT nestas últimas eleições, através, entretanto, de um apoio crítico

O que significa apoio crítico

Isso que muitos petistas não compreendem. Para a militância mais engajada do PT, qualquer crítica que seja, representa um ataque direto ao governo, ao Lula e ao partido, uma tentativa de destruir a reputação do PT, fazendo assim o papel de quinta-coluna.

Para os marxistas-leninistas, no entanto, é apenas uma tentativa de redirecionar, através de pressão da opinião pública, o governo a manter-se (ou a voltar-se para) à esquerda, sem tantas rendições ideológicas para a burguesia sedenta de regalias. 

Qual deve ser a estratégia da esquerda

Para defender o governo a qualquer custo, os petistas são obrigados a engolir todos os erros e desvios do PT para poder sustentar os ganhos sociais que este governo tem apresentado. 

Os militantes marxistas-leninistas, por seu turno, tem focado bastante nas críticas através de seus influencers nas redes sociais, deixando de reconhecer estes méritos reais do governo, dando, assim, certo crédito àqueles que os acusam de serem apenas uma oposição disfarçada de boas intenções.

Creio que a estratégia mais adequada para a esquerda marxista é apresentar e reconhecer todos os ganhos representados pelo governo Lula, que não foram poucos, mostrando, no entanto, que são insuficientes. Que os partidos marxistas-leninistas defendem o aprofundamento dessas conquistas, que os trabalhadores podem e devem querer mais, que o PT não é capaz de oferecer porque escolheu uma atitude conservadora perante a necessária reforma mais profunda das estruturas socioeconômicas e políticas deste país. 

Esta postura teria o benefício de reconhecer os méritos do governo, não entrando em choque com os petistas mais exaltados, e, ao apoiar a necessidade de ir mais a fundo nas conquistas sociais, ganhar para a causa aqueles petistas que estão, eles mesmos, decepcionados com a postura suave do partido no poder, desejando que o PT faça mais. O confronto deve ser com a burguesia. E pra isso só a radicalização política funciona.

Aposto que a causa marxista-leninista ganharia mais com essa tática, do que passar o dia inteiro reforçando os vacilos do PT no poder, como têm sido a estratégia atual. 

Veja também o video sobre esse assunto no canal do Panorâmica Social: 







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