Caso Battisti é uma retaliação do governo brasileiro à Itália

O presidente Luis Inácio Lula da Silva, num de seus últimos atos presidenciais, deve anunciar até o fim desta semana, que vai dar ao ex-guerrilheiro italiano Cesare Battisti o status de refugiado político. As mídias italianas deram uma grande repercussão negativa ao caso, e autoridades como o Ministro da Defesa Ignazio La Russa chegaram a fazer ameaças ao Brasil, defendendo boicotes contra o país. Mas o que pode estar por trás da decisão do Brasil de não extraditar Cesare Battisti?

Brasil e Itália mantém um acordo de extradição que prevê a entrega imediata de foragidos da Justiça. Tudo ia muito bem, até que o ex-banqueiro ítalo-brasileiro Salvatore Cacciola fugiu em 2000 para a Itália, depois da gestão fraudulenta do seu banco Marka. Em 2005 foi condenado a 13 anos de prisão pela Justiça do Rio por crimes contra o sistema financeiro, e o governo brasileiro pediu então a sua extradição. O governo italiano negou-se a cumprir o acordo de extradição, alegando que Cacciola tem cidadania italiana, e o documento não previa o envio de italianos à Justiça brasileira. Porém, pouco tempo depois, o ex-banqueiro foi preso em Mônaco em 2007, que aceitou a sua extradição ao Brasil.

Cesare Battisti, ex-militante esquerdista italiano,  foge para o Brasil em 2004, depois de passar por França e México, por ter sido condenado na Justiça italiana pelo assassinato de 4 pessoas entre 1977 e 79 - Battisti era membro do PAC (Proletários Armados pelo Comunismo) que então lutava contra setores direitistas do governo italiano, numa época de repressões e assassinatos. O Ministro da Justiça de então, Tarso Genro, oferece asilo político ao italiano depois da negação do Conare (Comitê Nacional para Refugiados) e assume a responsabilidade. O governo italiano entra com recurso no STF, que, ao decidir em novembro de 2009 pela extradição, mas com a decisão final nas mãos do presidente, cede às pressões do governo italiano, como afirma a professora de direito internacional do Instituto de Relações Internacionais da USP (Universidade de São Paulo) Deisy Ventura:

Eis que o STF, sob pressão intensa do governo italiano, com sede de mídia e de poder, anula o ato administrativo de concessão de refúgio do Ministro da Justiça. Procedimento lamentável”.

Aparentemente há um choque de pontos de vista entre o Executivo e o Judiciário neste Caso Battisti. A meu ver, o Supremo mais uma vez decidiu sem decidir e lavou as mãos, entregando a decisão para o presidente. Felizmente, pelo menos dessa vez eles acertaram, pois o presidente Lula deve dar status de refugiado político ao italiano, enfurecendo as autoridades italianas.

A alegação oficial do governo, é que a decisão tem em vista "preservar a integridade física" do refugiado, que estaria correndo "perigo de vida". A meu ver, a decisão trata-se meramente de uma resposta à diplomacia italiana, que antes havia recusado entregar o criminoso ex-banqueiro Salvatore Cacciola. E por este ponto de vista, o governo brasileiro está de parabéns, pois tempos atrás nossos dirigentes se sentiriam intimidados pelas fortes pressões estrangeiras, cedendo covardemente. Desta vez Lula faz valer sua autoridade, e também, por que não, uma espécie de lei informal de reciprocidade. Na linguagem popular, bem ao estilo Lula: "pau que dá em Chico, dá em Francisco" - e os países estrangeiros aprenderão que não se pode mais tratar o Brasil como um país qualquer.


fontes:
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/12/ministro-italiano-faz-advertencia-ao-brasil-no-caso-battisti-1.html
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u329067.shtml
http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/lula+diz+que+anuncia+amanha+decisao+sobre+battisti/n1237902106236.html
http://noticias.r7.com/brasil/noticias/lula-deve-impedir-extradicao-de-battisti-acredita-especialista-20101228.html





Comentários

  1. Lembrei de quando Lula se recusou a levantar da cadeira com a chegada do Barack Obama numa reunião... Chega de subordinação.

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  2. Desculpe luciana, mas acho que isso não é deixar de ser subordinado, mas falta de educação.

    Quanto a extradição, acredito que pôr o banqueiro brasileiro corrupto na jogada é uma tentativa de desviar do verdadeiro motivo: decisão tomada por motivações ideológicas. O terrorista italiano se dizia comunista, assim como o Tarso Genro, acredito até que o Lula gostaria de ficar de fora desta disputa desnecessária, pois o comunismo passa longe dele. Porém, sabe como são os aloprados né? influenciaram bastante no governo Lula, imagine agora no governo de Dilma?

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  3. Olá Marcos, bem vindo.

    Olha, pode ser que você tenha razão, que os homens do governo simpatizem com o "comunista" Battisti. Mas pelo que eu sei, na época o fato era exatamente esse: uma retaliação do governo brasileiro por causa do Cacciola. Mas tirando esse fato, não seria também uma temeridade entregar um sujeito que combateu as forças da direita radical italiana nos anos 70, nas mãos de um governo exatamente de direita, o do todo-poderoso Berlusconi? O asilo político é previsto nestes casos.

    Grande abraço e obrigado pela participação.

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  4. Marcos, falta de educação é levantarem apenas com a chegada de Obama e não de todos. Por acaso ele merece mais respeito que os outros?

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