País tem caso mal resolvido com a escravidão

A PEC 438
De toda a lista de fatos da história brasileira dos quais não temos nada do que nos orgulhar, a escravidão aparece, sem dúvida, com grande destaque. Infelizmente, ela não é um fato do passado e sim também do presente, já que ainda persiste no Brasil de várias maneiras, e por isso devemos ficar atentos e apoiar a proposta do Congresso que pretende expropriar terras de quem mantém trabalhadores escravos.


Durante três séculos, colonos luso-brasileiros importaram da África a mão de obra para as suas lavouras de cana-de-açúcar, mineração do ouro e colheita do café, enriquecendo grandes traficantes de seres humanos. Fomos o último país do planeta a abolir formalmente a escravidão já no ocaso do século XIX. Mas hoje os tempos mudaram.
Mudaram?
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Ainda temos um problema mal resolvido com nosso passado escravista, problema esse que se reflete hoje em dia nas zonas rurais, onde o trabalho compulsório — eufemismo para “trabalho escravo moderno” — continua acontecendo. O camponês, impossibilitado de ter um pedaço de terra, se sujeita a trabalhar no latifúndio de um desses coronéis a troco de um salário miserável de fome. Pra piorar, só pode comprar roupa e comida na quitanda do latifúndio a preços exorbitantes, muito acima do mercado. Sem  possibilidade de pagar, fica preso ao trabalho pela dívida. Se tenta fugir, capangas armados são autorizados a abrir fogo contra o camponês. Só nos últimos 2 anos, mais de 5 mil trabalhadores escravos foram resgatados no Brasil.
Muitas das categorias e práticas da época colonial sobreviveram no Brasil atual de formas diferentes, cuja essência, no entanto, continuam as mesmas. Ainda somos um país de latifúndios imensos voltados para a exportação, onde a Reforma Agrária jamais aconteceu de fato, tirando de milhares de famílias a possibilidade de seu sustento, obrigando-as a se submeterem ao senhor de imensas terras de forma degradante ou a se mudarem pra as cidades, aumentando assim o nível de desemprego nestas regiões.
trabalho_escravoinfantil Foi aprovada no Senado, em primeiro turno de votação, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 438, que determina a expropriação das terras onde for flagrado trabalho escravo. No entanto, ela precisa passar por nova votação, e a bancada ruralista — que representa os interesses do agronegócio, onde se pratica o trabalho escravo moderno, em grande medida — tenta emperrar a proposta.
Se dependermos da velha mídia para divulgar o problema e pressionar pela aprovação da PEC 438 pelo Congresso, que está sendo discutida há dez anos, estamos fritos. Só nos resta acompanhar o desempenho daqueles parlamentares em que votamos através da mídia alternativa mesmo (a internet está aí pra isso) e saber como eles se posicionam a respeito do problema. Parece pouco (e é mesmo) mas é o mínimo que podemos fazer, além de só reclamar. Devemos extirpar de vez do Brasil esta forma de trabalho tão degradante e que nos envergonha perante o resto do mundo. 




Comentários

  1. É realmente incrível como esse assunto é abafado pela mídia (minto, isso não me surpreende). Não se fala nisso. A maioria das pessoas não sabe que a escravidão está longe de ser passado. E das que sabem, muitas não desconfiam de sua proporção, acreditam ser um fato isolado desta ou daquela determinada fazenda. Quando na verdade essa exploração acontece não só no meio rural, nos nossos tão familiares latifúndios dessa digníssima elite conservadora e autoritária (perdão pela redundância), como atinge a cidade, em indústrias (principalmente as de roupas) que se alimentam da grande mão de obra desempregada para submeter os trabalhadores a condições de vida precárias e privá-los de sua liberdade. Pior, não bastasse isso, ainda somos capazes de exportar (uau) escravos sexuais, pessoas que, também pelo desemprego, falta de oportunidade etc., se deixam levar por esses traficantes disfarçados de bondosas almas altruístas, caindo no mundo da prostituição sem permissão de levantar. Diante disso, fica a questão: se a população sequer é devidamente alertada sobre isso, se ela continua desavisada, alegremente consumindo belíssimas roupas confeccionadas por mão de obra escrava e/ou infantil, como ela saberá da existência e significado do PEC 438? É capaz de imaginar que se trata de uma nova marca de refrigerante (exagero). Lamentável.

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  2. Pois, Almir... É triste essa situação de escravidão nas fazendas de grande porte. Aqui no Maranhão isso acontece com freqüência... Putz! Tenho uma raiva dessa gente, desses fazendeiros malditos (desculpe!)! São a escória da escória.Isso envergonha até a alma!

    T.S. Frank
    www.cafequenteesherlock.blogspot.com

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  3. Almir, tudo bem?
    Ainda temos o Coronelismo no Brasil, infelizmente, dura realidade, e tudo que isso significa.
    E o povo segue na mesma, por toda uma conjuntura que se formou desde seu (descobrimento???) ou desde sua exploração? Mas também por culpa da grande maioria, afinal, somos todos os que votamos e não nos insurgimos contra isso:
    "...vida de gado, povo marcado, povo feliz" (!!!)

    Grande beijo.

    Humoremconto
    http://anaceciliaromeu.blogspot.com

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