A lavagem de dinheiro e a corrupção chegam em José Serra

jose_serra Esta é a última parte do relato de um assalto ao patrimônio público brasileiro. Até aqui, relembramos como foi o escândalo das privatizações, por si só algo digno de revolta. Depois, mostramos como é feita a transação em paraísos fiscais, que os tucanos utilizaram para enriquecer e viver no luxo. Agora vamos mostrar como toda essa sujeira chega no ex-candidato a presidente da República, José Serra -- uma das (ex-)cabeças coroadas do tucanato -- através de seus parentes e amigos.
 

Preciado, o primo de Serra que ama o (Banco do) Brasil

O empresário espanhol naturalizado brasileiro Gregorio Marín Preciado, casado com uma prima do tucano José Serra, costuma propor brindes em suas festas dizendo “Viva el Brasil!”. Talvez ele devesse dizer, na verdade, “Viva el Banco do Brasil!”. E não é pra menos. Você também amaria um país cujo banco nacional abatesse de forma amiga R$ 448 milhões em pendências financeiras suas, convertendo para R$ 48 milhões -- uma redução de 109 vezes o valor da dívida... Foi a proeza que conseguiu Preciado na época em que o PSDB governava o país. Em gratidão, Preciado doou quase R$ 90 mil para a campanha do primo ao Senado. Uma mão lavando a outra.
 
Mesmo inadimplente e com uma dívida monstruosa, Preciado teve mais um empréstimo aprovado pelo banco. Consegue R$ 2,8 milhões. Quando começou a farra das privatizações no Brasil, o primo de Serra entrou na brincadeira. Montou o consorcio Guaraniana, que adquiriu três estatais de energia elétrica do nordeste. Mais uma vez, lá estava Ricardo Sergio de Oliveira colocando sua influência junto ao Previ e ao BB em cena para favorecer com bilhões de Reais o consórcio do amigo.
 

A filha e o genro de Serra aprendem muito bem como internar dinheiro sujo no país

Alexandre-Bourgeois-Veronica-Serra Verônica Serra -- filha de José Serra -- e seu marido, Alexandre Bourgeois (imagem à esquerda), se conheceram nos Estados Unidos nos anos 90. Logo se casaram e tornaram-se sócios na IConexa S.A. em 1999. Essa empresa tinha a finalidade de receber dinheiro procedente da IConexa Inc., uma offshore sediada nas Ilhas Virgens Britânicas. O acionista e procurador da IConexa Inc. é Alexandre Bourgeois, que assina nas duas empresas — a que envia o dinheiro, e a que recebe no Brasil. Parece que Verônica Serra e seu marido aprenderam direitinho com o ex-tesoureiro do pai como trazer de volta ao país dinheiro lavado.
 
Em 2001 Verônica abre outra empresa, a Decidir.com.inc em sociedade com a xará Verônica Dantas, irmã do banqueiro Daniel Dantas, do banco Opportunity. A empresa passa a atuar com um capital de 5 milhões de dólares, investido pelo grupo Citicorp, ligado a Ricardo Sergio, e pelo próprio Opportunity. A ligação das duas Verônicas é negada até hoje pela filha de Serra, ambas  denunciadas por expor o sigilo bancário de 60 milhões de brasileiros em 2001, mas Amaury Ribeiro traz em seu livro novos documentos que provam a sociedade.
 
Pouco depois, Decidir é transformada em offshore e se muda de Miami para... as Ilhas Virgens Britânicas, é claro, e rebatizada como Decidir International Limited. Atua como uma “empresa-ônibus”, cuja finalidade é transportar dinheiro sem origem justificada entre contas bancárias pelo mundo. A offshore Decidir interna dinheiro na Decidir do Brasil. De uma só vez, a offshore derrama R$ 10 milhões na sua homônima brasileira em 2006. Apesar de todo esse investimento, a empresa vai muito mal. Logo no primeiro ano a Decidir brasileira acumula um prejuízo de R$ 1 milhão. Em compensação, a dona da empresa, Verônica Serra, vai muito bem. Ela compra uma casa de praia em Trancoso, na Bahia, área de luxo, e também uma mansão numa área nobre de São Paulo por R$ 475 mil, na qual José Serra mora até hoje.
 
O genro do ex-candidato à presidência do Brasil também aprendeu com Ricardo Sergio o caminho das pedras. Alexandre Bourgeois é dono, além da IConexa Inc., também da Vex Capital Inc., ambas abrigadas no paraíso fiscal do Citco Building, nas Ilhas Virgens Britânicas. Ambas as empresas internam R$ 8 milhões em duas outras empresas abertas em São Paulo pelo próprio genro de Serra, a Orbix AS e a Superbid.com.br, que mais tarde vai se transformar na já citada IConexa S.A.
 

Conclusão

amaury-ribeiro Esse foi um pequeno relato da série de crimes contra o patrimônio público, contra a Receita Federal, e principalmente contra a ética política, cometida por uma gangue de políticos do alto escalão do PSDB na época das privatizações. É preciso reverenciar a pesquisa e agradecer ao jornalista investigativo Amaury Ribeiro Jr (imagem à direita) pelos 10 anos de trabalho árduo, paciente, minucioso, para desvendar os caminhos da sujeira e da corrupção numa das eras mais negras da história brasileira. Numa área em que tudo é feito para mascarar a procedência e as negociatas das propinas e da corrupção, o autor conseguiu mostrar de forma clara como funcionou a lavanderia montada por membros do PSDB e seus familiares durante a farra das privatizações. O autor aponta ainda a solução simples para que coisas como essas jamais voltem a acontecer no Brasil: bastava o governo proibir a sociedade de offshores com firmas brasileiras, caso não fosse identificado o nome de seus verdadeiros donos em seus balanços contáveis. Mas ainda assim é pouco. É preciso punir os casos já descobertos, e por isso é crucial a sociedade brasileira exigir e acompanhar a implementação da CPI da Privataria, com previsão para os próximos meses.
 
Infelizmente a mobilização nacional não contará com o apoio da mídia brasileira. Mas ao menos, se você ainda tinha dúvidas, este silêncio constrangedor serviu para expor de maneira insofismável, de uma vez por todas, de que lado a imprensa oligárquica neste país, representada por empresas como a Folha, as Organizações Globo, a Revista Veja, o Estadão, entre outros, está. Espero que os próximos anos sejam de mudança de mentalidade no Brasil. A mudança, aliás, já começou. Os participantes desse banditismo nacional e a mídia estão acuados, sem saber o que fazer a respeito, por conta da força da divulgação dos blogs e das redes sociais. Nós sabemos o que fazer.
 

A Privataria Tucana, maior escândalo de corrupção da história brasileira.

Ricardo Sérgio de Oliveira mostra aos tucanos como lavar dinheiro sujo

Fonte: RIBEIRO JR, Amaury. A privataria tucana. Ed. Geração Editorial. São Paulo, 2011




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