Votar nulo é um desperdício e não anula a eleição

Toda vez que estamos nas vésperas de uma eleição, vemos campanhas para o voto nulo nas redes sociais, especialmente dos setores mais radicais da esquerda e daqueles que optam pela posição mais cômoda. Alguns destes cidadãos afirmam que votam nulo porque “políticos são todos iguais, e assim que chegam ao poder, eles mudam”. Quem vê imagina que esta seja uma pessoa que pesquisou todas as opções, que investigou a vida de todos os candidatos, e depois desta exaustiva labuta, chegou a esta conclusão. Mas a verdade é bem outra. Outros não confiam no “sistema eleitoral burguês”, apesar deste mesmo sistema ter aplicado derrotas vexatórias nas burguesias da América Latina, todas elas através do voto – inclusive no Brasil. Ou será que a própria vitória do Lula em 2002 não foi um desses casos? (a virada para o centro que o PT deu logo depois é outra história). 

Infelizmente, essa foi a má impressão geral que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ajudou a disseminar. Outros políticos foram apenas ruins, mas não se esperava muito deles. Mas Lula chegou ao poder carregado de expectativas que não foram cumpridas. Fortaleceu-se a ideia de que, tal como ele, todos os políticos progressistas tendem a amenizar o discurso quando alcançam o poder.

Mas nem sempre isso acontece – e mais: em alguns casos, o político muda para melhor. Vejamos dois exemplos:

  1. Getúlio Vargas, que tomou o poder para satisfazer os interesses da burguesia industrial em 1930, mas em 1950 retornou pelo voto e teria revolucionado a questão social brasileira, não fosse seu suicídio em 1954 devido a pressão dos setores reacionários ao seu alinhamento com os trabalhadores.
  2. João Goulart chegou ao poder de forma indireta, com a renúncia de Jânio em 61, mas durante seu mandato lutou pelas tão esperadas Reformas de Base, contrariando os interesses das elites e sendo deposto em 1964 também por se alinhar aos interesses sociais.

É verdade que, naquela época, as elites ainda tinham mais condições de “corrigir” um resultado eleitoral indesejado através de pressões e golpes, mas apesar desse risco ainda existir hoje, é muito mais difícil, porque as Forças Armadas perderam seu pretexto para isso: a Guerra Fria já não existe mais.

O que acontece com uma maioria de votos nulos: nada

A virada de postura do PT no poder, de quem muito se esperava, não passa de um pequeno mau exemplo. Outras pessoas alegam que votar nulo anula a eleição. Esse boato foi espalhado na internet em 2004 e até hoje há quem o leve a sério. Só que este pobre infeliz não sabe é que a única coisa que ele fez foi jogar o próprio voto no lixo.

Na hora da contagem, esses votos são considerados inválidos e simplesmente descartados junto com os votos em branco. Aí vem o segundo problema: quanto mais pessoas votarem nulo, menos votos um mau candidato precisará para se eleger. Vejamos: se todo mundo votasse, o candidato X precisaria de 50 por cento de votos mais 1 para se eleger. Mas se 60 por cento dos eleitores votarem nulo (o mito diz que, com mais de 50 por cento de votos nulos, a eleição é anulada) sobram 40 por cento dos votos válidos, e aquele candidato precisará apenas de 20 por cento mais 1 para se eleger. E isso favorece a eleição dos representantes das alas mais conservadoras da sociedade, porque essas votam e votam nos seus.

É por isso que eu digo: as pessoas precisam, de uma vez por todas, parar de repetir e de engolir tudo o que escutam por aí. Essa é mais uma mentira inventada maldosamente para enganar os eleitores e que acaba servindo a interesses de terceiros.

As pessoas têm todo o direito de votar nulo ou em branco porque não encontraram nenhum candidato que representasse seus anseios. Mas é difícil isso acontecer, tendo em vista o amplo espectro ideológico abrangido pelos atuais candidatos – desde a extrema-esquerda, passando pelo centro até a extrema-direita.

O problema de quem prega o voto nulo em nome de uma suposta revolução, é que nem vota e nem faz uma revolução.





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