Pelé vs. Romário. Muito mais do que mera vaidade

pele-romario-trocam-farpas-size-598Não vi o Pelé jogar, vi o Romário. E o Romário foi um dos maiores craques da minha geração. Mas não importa, os relatos e as imagens gravadas atestam suficientemente que Pelé, dentro de campo, foi o maior de todos os tempos. Mas seu talento com a bola nos pés talvez só se equipare à sua extrema vaidade, daquelas expressas em pessoas que só falam em si na terceira pessoa. Talvez por esse sentimento não muito louvável entre nós, e portanto nunca assumido, ele tenha sugerido a Romário encerrar a carreira antes de chegar aos pretensos mil gols, justamente uma das marcas da sua própria. E foi por esse motivo que Romário, com seu sarcasmo afiadíssimo, lançou o hoje folclórico “O Pelé calado é um poeta”. Desde então a relação dos dois ficou azeda e piorou ainda mais quando Romário foi eleito deputado federal, assumindo postura crítica sobre o modelo de futebol que tem em Pelé uma de suas vedetes.

Pelé é a situação, Romário oposição na política brasileira

Dizem por aí que Pelé foi investigado pela Ditadura Militar nos anos 80 (que figura pública de relevo não o fora?) mas sempre foi notório que Pelé, ao contrário de outros craques mundiais como Maradona,  sempre evitou se posicionar politicamente, preferindo tirar proveito do business que transformava seu nome numa marca comercial de grande valor de mercado durante e após o fim de sua carreira.
Nos anos 90, então Ministro dos Esportes de Fernando Henrique Cardoso, emprestou seu nome a uma lei que serviu apenas para implementar a cartilha neoliberal no futebol, quando os jogadores se livraram da despótica lei do passe para se transformar em mercadorias nas mãos dos empresários.
Apesar de se dizer muito católico para perdoar ignorantes, não teve muito senso de humanidade para reconhecer uma filha que nem precisava de exame de DNA para ser aceita, tal a semelhança com o pai, como expôs Romário recentemente. Mesmo assim o exame foi feito e foi comprovada a paternidade de Pelé. Sandra Regina Machado Arantes do Nascimento Felinto morreu de câncer em 2006 sem ter tido o reconhecimento oficial do cristão exemplar que em 1963 teve um caso sexual com uma empregada doméstica, mãe de Sandra.
Romário, por seu turno, nunca teve um comportamento exemplar para aqueles que pregam a disciplina total à carreira dos atletas de futebol. Apesar de não beber e não ter nenhum histórico de envolvimento com drogas (seu único incidente na carreira com doping foi por conta de um remédio para combater a calvície) era um notívago mulherengo que sempre teve problemas com treinos pela manhã. Apesar disso, levou a carreira vitoriosa até os 42 anos de idade, na intenção de chegar aos 1000 gols – fato que gerou o primeiro atrito com Pelé, como foi dito acima. Pra piorar, foi apontado como responsável direto pela conquista da Copa do Mundo de 1994, honra que apesar de tudo, Pelé jamais obteve.
Em 2005 nasce a filha caçula de Romário e a menina é portadora de Síndrome de Down, e o fato de ter assumido publicamente o problema, ainda um tabu para a nossa sociedade, o leva a ganhar o respeito cada vez maior dos brasileiros, que o elegem para a Câmara dos Deputados. A partir daí o Romário com pinta de malandro irresponsável surpreende pela postura séria.
O ex-jogador se torna um dos melhores parlamentares da Casa, presente em todas as sessões com atuação destacada. Ao contrário de Pelé, assume postura totalmente crítica com relação à Seleção, à CBF, às obras da Copa e especificamente a Ricardo Teixeira. Não seria exagero dizer que o Baixinho foi um dos responsáveis pela renúncia do ex-presidente da CBF. Vem fazendo mais pelo futebol brasileiro do que muitos que apenas tiram proveito dele.
As acusações mútuas envolvendo Pelé e Romário poderiam parecer uma mera guerra de vaidades, mas, conforme vimos, tem muito mais caroço por debaixo desse angu... Nessa queda de braço, estou com Romário.










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