Partidos Políticos, Dilma e o Leilão do Pré-Sal

 

Leilao do Pre Sal

“Enquanto no resto do mundo os países exportadores de petróleo ficam com 80% do óleo-lucro - uma média de 72% do óleo produzido -, o governo brasileiro fixou para o leilão de Libra o pagamento mínimo de 41,65% à União”

Fernando Siqueira

Dizem que o brasileiro não sabe votar. Que ele vota sempre nos piores políticos por falta de conhecimento e de interesse, e que o resultado é esse que vemos em todas as eleições: cada político pior do que o outro eleito em todas as eleições.

Não estou aqui para negar que haja realmente uma grande parcela de pessoas que simplesmente aperta os botões da urna eletrônica por obrigação ou até por interesses egoístas – troca de favores com políticos da região como óculos novos, uma vaga para um parente num hospital, e etc. – mas as pessoas esquecem o outro lado dessa moeda: a mentira que se tornou a campanha eleitoral e alguns partidos políticos que prometem e não cumprem. Ou pior: fazem completamente ao contrário do que prometeram.

Antes da eleição, uma coisa; depois da eleição, outra

Como, por exemplo, o eleitor pode identificar uma tendência, uma ideologia, uma diretriz ou uma conduta num candidato, se eles mesmos não têm nenhuma, só aparências? Dizem uma coisa e fazem outra? Vejamos o exemplo de um dos maiores oportunistas da política brasileira, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes.

Durante muito tempo, o atual prefeito foi do PV. Saiu do Partido Verde e rumou para o antigo PFL; depois de brigar na legenda, partiu pro PSDB, onde fazia uma oposição feroz e determinada contra o então presidente Lula nas CPIs; depois viu uma oportunidade no PMDB, partido da base governista e hoje, de opositor, passou a aliado do ex-presidente e do PT. Qual é, de fato, a linha política deste senhor? É óbvio que ele não tem nenhuma. Sua legenda é o POM – Partido da Oportunidade do Momento.

Falta de ideologia: o mal dos partidos políticos

E o que dizer das siglas políticas no Brasil? Vamos ver alguns casos:

  1. O Partido dos Trabalhadores (PT), na verdade é o partido dos empresários e investidores;

  2. O Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) era o antigo MDB que fez oposição à Ditadura; depois de aceitar em seus quadros figuras notórias que apoiaram o regime autoritário, como Sarney, hoje é o partido dos maiores oportunistas e corruptos

  3. O Democratas (DEM) de democrático só tem o nome; ele veio da antiga ARENA, partido de sustentação da Ditadura;

  4. O Partido Socialista Brasileiro (PSB) não tem nada de socialista, nem de esquerda, nem de reformista: é um partido continuísta a favor da ordem capitalista;

  5. Pior é o caso do Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB), que é neoliberal até o último fio de cabelo;

  6. O Partido Comunista do Brasil apoia um governo que apoia os banqueiros e os empresários;

  7. O PTB já foi o partido de Getúlio Vargas e do trabalhismo, hoje é aquele partido que recebeu mensalão para ficar na base do governo neoliberal petista;

Isso, obviamente, sem mencionar as sopas de letrinhas (PTN, PSL, PSDC, PTC) dos partidos nanicos de aluguel.

PT: maior decepção dos últimos tempos

Mas sem dúvida o caso mais grave de estelionato eleitoral vem sendo cometido pelo PT desde 2002 e que continua até hoje.

Naquele histórico ano, mais de 50 milhões de eleitores, cansados dos desgovernos tucanos e de suas políticas neoliberais, deram um basta em tudo aquilo, elegendo Luis Inácio Lula da Silva para presidente. O recado era claro: por fim de uma vez por todas naquela quase uma década de política assassina, vendilhona e demagógica do seu antecessor.

Aliás, em quase todos os países da América Latina, o recado das urnas foi o mesmo. Varrer o neoliberalismo do continente. Pois bem: passados 10 anos de governo petista, algumas coisas foram corrigidas, mas dólares foram parar dentro de cuecas, tivemos o caso do mensalão, a privatização tucana eufemisticamente virou “concessão” petista – mas essencialmente este país continua refém do mercado e do setor financeiro.

O caso mais emblemático do estelionato petista aconteceu ontem (21/10), quando o governo efetivou o leilão do Campo de Libra no pré-sal, uma incoerência monstruosa entre as promessas da campanha e a realidade do governo, uma falsidade incrível bem ao estilo tucano, tão criticado pelo PT nas propagandas. Dilma Rousseff, que garantiu sua eleição atacando o privatismo do seu rival José Serra nas campanhas eleitorais, acabou de rasgar o tal “bilhete premiado do pré-sal” bem diante dos nossos olhos.

Pode não ser uma privatização assumida, mas se tirarmos todos os nomes eufemísticos que os petistas criaram para aliviar o peso da entrega do patrimônio nacional (“partilha”, “concessão”, “parceria público-privada”) na verdade se trata disso mesmo: privatização. Não adianta alegar que a Petrobras manteve o controle no resultado do leilão. Por que diabos uma empresa nacional investe e encontra uma riqueza nacional, e em vez de explorá-la na sua totalidade, precisa promover “partilhas” com seus concorrentes? Para o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), João Antônio de Moraes, o país ficou 60% mais pobre. "Até o leilão, o Brasil tinha 100% do maior campo do pré-sal. A partir de então, tem no máximo 40%", disse ele, pois a participação da Petrobras é de apenas 40% sobre o petróleo explorado.

Não foi nessa Dilma que o Brasil votou. Foi naquela Dilma da propaganda política. E então, é o brasileiro que não sabe votar, ou são os políticos dos grandes partidos que são um bando de mentirosos e comprometidos com interesses vis à maioria de nós – interesses que não podem confessar durante as campanhas?

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País ficou 60% mais pobre, afirmam críticos do leilão do campo de Libra / Leiloar o maior campo já descoberto do mundo é inaceitável / Dilma nega que leilão do Campo de Libra seja privatização / Um país e seu destino no Leilão de Libra





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