A presença da polícia nos estádios
O lamentável episódio de violência proporcionado pelas torcidas de Atlético-PR e Vasco da Gama possui uma questão bastante implícita, que, porém, não foi muito bem explorada pela imprensa.
Aparentemente, a Polícia Militar de Santa Catarina – local da partida – deixou a segurança do evento por conta do mandante do jogo, o Atlético, que, por sua vez, contratou seguranças particulares para darem conta dos torcedores. Esses agentes, porém, se omitiram olimpicamente de coibir e apartar os torcedores que ali se digladiavam, talvez por falta de preparo para tamanha tarefa. Até aí tudo bem. Mas logo, a opinião pública, a presidente Dilma e muitos setores da sociedade chegaram à mesma “lógica” conclusão: não podemos prescindir de batalhão de choque dentro de estádios de futebol. Por que isso?
Ora, para um país que se considera maduro o suficiente para discutir a desmilitarização das suas polícias – e consequentemente da sociedade como um todo – esse clamor nos coloca 10 passos atrás nesta discussão. Primeiro, porque se ilude quem acha que a comparência da polícia é sinal de garantia de paz nos estádios. Muito pelo contrário. Tal qual nos recentes protestos de rua deste ano, sua presença bruta e despreparada só serve muitas vezes para piorar o quadro de violência generalizada. E segundo, um país (que se pretende) civilizado não pode aceitar que, numa mera disputa esportiva, um lazer como é o futebol, seja imprescindível o batalhão de choque até para proteger árbitros dentro de campo ao fim das partidas, conforme vemos. Isso é absolutamente fora de lugar.
Ou a sociedade brasileira assume que a polícia militar é parte do problema da violência e discute seriamente se quer ou não conviver com a sua constante e abusiva patrulha, ou então fica claro que não estamos realmente preparados para discutir a necessária desmilitarização das polícias como um processo a curto prazo. Não dá para assistir às lamentáveis cenas do estádio municipal de Joinville e, num ato de precipitação – ou esperteza – como fez a presidenta, clamar por mais, e não menos polícia, achando que aí está a (fácil) solução.
O Brasil ainda não aprendeu que nossos históricos problemas com violência não se resolvem com mais violência.
Comentários
Postar um comentário
Faça seu comentário, sua crítica ou seu elogio abaixo. Sua participação é muito importante! Qualquer dúvida, leia nossos Termos de Uso