A falsa simetria entre Bolsonaro e Jean Wyllys

simetria

Atualizado em 18/04/2015:

Hoje em dia tem virado clichê a comparação entre os deputados Jean Wyllys e Jair Bolsonaro, como se ambos formassem uma espécie de yin-yang da política nacional. Jean Wyllys pelo espectro da esquerda, Jair Bolsonaro pelo da direita. Não para demonstrar que Jean Wyllys é qualitativamente melhor que Bolsonaro, e sim tão radical e condenável quanto ele. Mas será que um deputado representa mesmo o exato oposto do outro em se tratando de atuação política?

Num desses programas de rádio corriqueiros do Brasil, o apresentador Luiz Ribeiro, da Rádio Tupi do Rio de Janeiro, traz convidados para discutir assuntos da política. Não faz muito tempo, um dos temas debatidos foi mais uma das inúmeras quebras de decoro do deputado Jair Bolsonaro. E um dos participantes da discussão presentes teve o disparate de alegar que Bolsonaro “faz bem para a democracia”, porque no Congresso é saudável que “tenhamos opiniões divergentes”. E para corroborar esse argumento totalmente burlesco – porque a questão não é sobre opiniões divergentes mas se um deputado tem o direito de, entre outras aberrações, dizer que não estupra uma colega porque ela é feia – o cidadão ainda praticou a fatídica comparação entre Bolsonaro e Jean Wyllys, colocando-os exata e simetricamente em lados extremos do espectro político, querendo com isso dizer: “se temos Jean Willys de um lado , podemos ter Bolsonaro do outro ”.

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Infelizmente, no tempo em que ouvi o programa, não foi mencionado o nome do debatedor, autor desta pérola da desonestidade intelectual. Mas não importa. O que é crucial é entendermos que a comparação entre Bolsonaro e Jean Willys, por mais bizarra que seja, foi dada como inquestionável, e certamente induziu milhares de ouvintes a acreditar realmente nisso.

No portal da Veja saiu uma postagem do famigerado Reinaldo Azevedo fazendo a mesmíssima comparação entre Bolsonaro e Jean Wyllys. Diferentemente do debatedor da Tupi, que usou a comparação para defender, Azevedo curiosamente a faz para condenar Bolsonaro:

Também já escrevi e sustento que parlamentares como este senhor [Bolsonaro], numa ponta, e Jean Wyllys (PSOL-RJ), na outra, são opostos e complementares. Eles se estapeiam verbalmente para atrair eleitores que “odeiam” o outro lado. Um depende do outro.

Reinaldo Azevedo, para justificar a comparação esdrúxula, coloca Jean Wyllys na “extrema esquerda” [sic] do espectro político. O texto, apesar de ser crítico a Bolsonaro, por vezes parece querer ser mais uma justificativa para atacar Jean Wyllys e a esquerda do que uma verdadeira indignação contra um ataque misógino inaceitável promovido por Bolsonaro em plena Câmara dos Deputados há alguns meses.

E, recentemente, foi o Emílio Zurita que fez essa comparação de forma desdenhosa no programa do Pânico na Rádio Jovem Pan, durante uma entrevista com a reaça neocon Rachel Sheherazade, cujo vídeo foi bastante divulgado recentemente nas redes sociais.

Mas o ponto em questão é que estes veículos usam de opiniões falsas para incutir no ouvinte/leitor a ideia de que Jean Wyllys é o alter ego de Jair Bolsonaro. Mas, pra começar, Jean Wyllys jamais foi extrema esquerda, é um dos mais moderados do seu partido. Isso já complica a comparação. Se Jair Bolsonaro prega o golpe militar, Jean Wyllys não é partidário de uma revolução comunista; se Bolsonaro é misógino; Jean Wyllys não é misândrico; se Bolsonaro acha que bandido bom é bandido morto, Jean Wyllys não pensa que bandido tem que ser tratado com flores; Bolsonaro acha Cuba o inferno na Terra, Jean não acha que lá seja o paraíso. E por aí vai.

O que se quer dizer é que se Bolsonaro é de posições radicais, de extrema-direita, muitas vezes beirando a perversidade. Jean Wyllys é bem mais moderado e ponderado.  Mas infelizmente, criou-se o mito de que ambos estariam no mesmo patamar de radicalidade, cada um de um lado oposto, e ambos igualmente condenáveis em suas atitudes. Não passa de mais uma das inúmeras campanhas de difamação lançadas no ar contra o deputado do PSOL. Apoiar as minorias e os Direitos Humanos como faz Jean Wyllys só pode ser considerado “radical” na medida em que a defesa desses valores deve(ria) ser incondicional para a maioria dos cidadãos brasileiros. A reação raivosa do outro lado é outra coisa.

Portanto, da próxima vez que ouvir alguém dizer que tanto um quanto o outro representam dois extremistas que atuam de forma idêntica e oposta, pense de novo. Você pode estar sendo induzido a uma trapaça.





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