Mérito do governo: tentar trazer os insatisfeitos para a discussão da Reforma Política

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As milhares de pessoas que foram ontem às ruas tinham uma ideia geral do motivo pelos quais se mobilizaram a sair de casa: a corrupção que ganhou mais visibilidade atualmente por conta das investigações da Lava-Jato. O problema – para o governo Dilma – é que a multidão identificou no PT a causa de todos os males nacionais em se tratando do tema.

Dando uma olhada nos cartazes e nas entrevistas dos participantes, as reivindicações foram das mais variadas: Impeachment, intervenção militar, fim da doutrinação marxista nas escolas (?!), defesa das privatizações, tudo isso como forma de combater a corrupção. Mas ninguém – ao menos que se tenha visto – sugeriu o fim do financiamento empresarial das campanhas políticas, o verdadeiro foco da corrupção na política nacional.

Logo após as manifestações, coube ao Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo e ao secretário da Presidência Miguel Rossetto o pronunciamento e a promessa de soluções, onde se comprometeram a enviar ao Congresso um pacote de medidas contra a corrupção em que a defesa do financiamento público de campanha esteja contemplada. Trata-se de uma nova oportunidade de defender uma demanda que surgiu nos protestos de junho de 2013, ganhou mais uma vez importância na campanha eleitoral no ano passado e iria ficando pelo caminho de novo, não fosse a surpreendente manifestação das ruas no dia 15 desse mês.

Assim, apesar de não ter sido muito contundente nessa matéria em oportunidades anteriores, o governo ganha mais uma vez uma chance de mostrar que está tentando se adequar ao clamor das ruas. Não importa se as manifestações de ontem eram de classe média, alta ou baixa. O importante é o governo assumir a liderança e trazer a indignação popular para uma meta: fazer pressão no Congresso, a fim de realizar as reformas que esperam uma solução há décadas. Trazer um foco à insatisfação, tirando-o do governo e direcionando-o exatamente no lugar certo: no financiamento privado de campanha, raiz de grande parte da promiscuidade corrupta entre o setor público e o empresarial que faz esse país ficar atolado e sem rumo.

Já é um começo. Se Dilma terá vontade politica de levar isso adiante, só esperando pra ver. De novo.





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