Ilhas Malvinas: 35 anos depois da guerra, ainda sem solução

Disputa entre Argentina e Inglaterra pelas ilhas Malvinas

Desde o século XVII que as ilhas descobertas a 500 Km da costa atlântica da América do Sul — e a 14 mil Km do Reino Unido — causam controvérsias entre espanhóis e ingleses, e depois entre estes e os argentinos. Há quase 180 anos — desde janeiro de 1833 —, depois de algumas pequenas disputas sobre o território, a Inglaterra envia uma fragata e anuncia a ocupação destas ilhas pelo Império Britânico, chamadas de Malvinas por argentinos e Falkland por ingleses.

Malvinas ou Falkland

 


Visualizar Ilhas Malvinas em um mapa maior

 

Quando os militares brasileiros tomaram o poder político à força em 1964, foi possível conhecer a posição ideológica de quem se pronunciava sobre o assunto, pela forma que classificava o ato. Revolução ou Golpe? A disputa sobre quem tem razão no caso das ilhas sul-americanas gera uma situação semelhante: é possível saber a visão sobre a questão das ilhas somente observando como as pessoas as nomeiam. Aqui eu chamo as ilhas de Malvinas, e não Falkland, e isso já mostra como eu me posiciono a respeito do tema.

Contexto

A Argentina da primeira metade do século XIX era então um jovem país que lutava para ter sua Independência reconhecida no mundo, sem condições de enfrentar a poderosa marinha britânica. Mas no século XX o cenário geopolítico tinha mudado o bastante para a Argentina reforçar sua campanha para a retomada da soberania das ilhas. Entre abril e junho de 1982, a Argentina achou que era hora de combater o invasor, e desencadeou a Guerra das Malvinas, prestes a completar agora 35 anos, sem uma solução definitiva ainda. A Argentina perdeu a guerra, a Junta Militar que governava o país caiu, e o governo conservador de Margareth Thatcher conseguiu mais um mandato nas eleições inglesas de 1983, saindo fortalecido do conflito.

O problema das Ilhas Malvinas hoje

Como resposta a uma maior militarização inglesa na ilha — em 2009 eles também passaram a explorar petróleo na região — os países do Mercosul com costas marítimas decidiram não aceitar que embarcações com bandeiras de Falkland entrem em seus portos. Além disso, diversas resoluções da ONU e da Unasul condenam a Inglaterra por sua insistência em não negociar diplomaticamente com a Argentina uma solução para o caso, preferindo a violação sistemática de águas argentinas.

Por outro lado a União Europeia endossa a posição inglesa, apoiando o resquício colonialista em plena era de globalização.

Uma tática inglesa muito comum acontece nas ilhas. Desde que chegou, a Inglaterra procurou povoar a região com “súditos leais da rainha Elizabeth II”. A partir disso, qualquer tentativa argentina de reivindicar a soberania da região, é tida como uma ameaça ao povo inglês, e justifica assim uma resposta militar.

Por falar em resposta militar, eu lembro da postura de um importante país americano nesse conflito: os Estados Unidos. A história é curiosa e merece ser lembrada.

Os Estados Unidos deixam a Argentina a ver navios

Em 1947 quase todos os países das Américas, incluindo a Argentina e os Estados Unidos, assinaram o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) cuja finalidade era defender um membro caso fosse atacado por um país de fora. Uma agressão a um país do tratado seria considerada um ataque contra todos. Em 1982 a Argentina invocou o acordo, pedindo apoio norte-americano contra o que considerava uma agressão do invasor inglês. Em resposta, os Estados Unidos resolveram apoiar... a Inglaterra!

Isso não deveria causar surpresa, a não ser nos mais incautos. Os EUA, além de laços históricos e culturais com os ingleses, também eram signatários da OTAN, e o único interesse político que tinham na América Latina era conter o comunismo.

Como resolver a questão

Ainda há uma saída para a questão das ilhas. Em 1968 o então primeiro-ministro trabalhista inglês Harold Wilson assinou um documento, que não entrou em vigor imediatamente porque em 1970 foi eleito o conservador Edward Heath, que o engavetou. De acordo com este documento, no seu artigo 4, está definido:

O governo de sua Majestade Britânica reconhecerá a soberania argentina sobre as ilhas a partir da data a ser combinada. Essa data será fixada tão logo o governo de sua Majestade Britânica esteja satisfeito com as garantias e salvaguardas oferecidas pelos governos argentinos para defender os interesses dos seus habitantes.

Como se vê, basta à Inglaterra pôr de novo este acordo em pauta, para demonstrar boa vontade e cumprir as determinações internacionais. Seria uma saída digna para Sua Majestade e o fim de um abuso que só seria justificado em épocas de colonialismo.





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