Se todos os bandidos tivessem as mesmas facilidades de Michel Temer? Veja alguns exemplos

sindicato dos ladrões

Ontem tivemos mais uma prova concreta de que o corporativismo na política é uma das maiores causas da impunidade no Brasil. Outra, é o foro privilegiado: além de responder no Supremo onde as chances de prescrição são quase certas, alguém pode ser julgado, ou no caso das acusações contra o Ilegítimo Michel Temer, ter a autorização de investigação julgada, por seus próprios colegas.

É o tipo de privilégio descabido que cria uma casta superprotegida de eminências políticas, praticamente intocáveis à lei, não importa os seus crimes nem o tanto de evidências devidamente levantadas contra eles.

Ontem à noite os portais de internet já noticiavam que o rato escapara de mais outra ratoeira. Dessa vez, com a ajuda dos amigos e correligionários no Congresso. Da pergunta “você é a favor do parecer da CCJ que determina o arquivamento das acusações contra presidente da República”, mais da metade dos deputados votaram pelo “SIM", notoriamente a bancada evangélica e os latifundiários. Muitos deles seduzidos por benesses e verbas do próprio governo.

Às vezes não conseguimos captar a essência exata de tamanha sandice. Por estarmos já anestesiados contra as bandidagens do sindicato de ladrões que tomou conta dos três poderes, não prestamos atenção no quão mais esse ato foi  indigno. Para nos ajudar a entender um pouco melhor, vamos recorrer a um artifício filosófico chamado “reductio ad absurdum”, que, dentre outras coisas, se refere a um tipo de argumento lógico no qual alguém assume uma ou mais hipóteses e, a partir destas, deriva uma consequência absurda ou ridícula, e então conclui que a suposição original deve estar errada.

Vamos ver alguns exemplos fictícios baseados no que aconteceu ontem no Congresso Nacional, através de algumas notícias falsas, pra entendermos como seriam as coisas se aquele corporativismo pudesse ser aplicado na sociedade de modo geral:

“Eike Batista escapa de prisão depois da votação na assembleia da ANP”

RIO - Direto da redação

O megaempresário Eike Batista, já acusado em crimes financeiros, escapou de ser julgado pelos crimes de corrupção ativa por ter pago pelo menos 16 milhões em propinas ao ex-governador Sérgio Cabral. Durante deliberação na Agência Nacional do Petróleo, ficou decidido que o ex-dono da petrolífera OGX não pode ser condenado, pois isso poderia afetar o preço do petróleo no momento em que o país experimenta alguma estabilidade no setor. Com esta decisão, a Lava Jato não poderá prendê-lo e Eike estará livre para voltar aos Estados Unidos, onde foi capturado.

Suspeito de matar e torturar estudante, Fernandinho Beira-Mar é inocentado por Tribunal do Tráfico

RIO – Seção Baixada Fluminense

O traficante Fernandinho Beira-mar, acusado de homicídio triplamente qualificado pelo assassinato do estudante Michel Nascimento dos Santos, teve seu caso analisado pelos traficantes do Tribunal Paralelo do Tráfico (TPT) em Duque de Caxias. Depois de se reunir com o acusado, que ofereceu um jantar de luxo para os colegas 24 horas antes do julgamento, além de prometer verbas e armas para as futuras incursões dos traficantes nas comunidades rivais, os membros do tribunal arquivaram o processo, que impede que o Conselho de Sentença do 2º Tribunal do Júri da Capital possa condenar o traficante a 30 anos de prisão. Fernandinho Beira-mar deu uma entrevista coletiva depois da decisão e disse que a justiça prevaleceu no país.

“Acusado de mais de 37 estupros, Abdelmassih tem processo arquivado pelo Conselho Federal de Medicina”

SÃO PAULO – Sucursal.

O médico ginecologista Roger Abdelmassih, acusado de quase 40 estupros no exercício de sua profissão, teve ontem o pedido de investigação recusado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Depois de analisar as provas reunidas pelo Ministério Público, os conselheiros médicos chegaram à conclusão que não haviam provas suficientes contra o ginecologista. Com isso, o inquérito foi arquivado e não poderá ser julgado pela justiça. Não cabem recursos.

*  *  *

Todas essas manchetes, fictícias, seriam absurdas e causariam revolta, todos vamos concordar. Como alguém pode ser julgado pelos próprios colegas, ou ter a possibilidade de julgamento na justiça impedido pelos mesmos, como foi no caso do arquivamento das acusações contra Michel Temer?

Se todas essas manchetes especulativas causariam revolta, por que não a próxima, esta sim, verdadeira?

Congresso Nacional arquiva processo contra Michel Temer

Brasília – da Redação

Na tarde-noite de ontem deputados federais votaram contra o prosseguimento das investigações contra o presidente Michel Temer. Com o resultado o Supremo Tribunal Federal fica impedido de julgar o caso.

Embora a acusação fosse de corrupção, muitos deputados preferiram absolver o presidente com base na continuidade da estabilização da economia.

Temer passou a noite anterior com deputados, especialmente da bancada ruralista, prometendo verbas na casa de 9 bilhões para o setor. Também ofereceu um jantar a alguns parlamentares, onde não se discutiu a votação, mas ficava implícita a insinuação de apoio.

Depois do arquivamento, Temer fez um pronunciamento em que disse que “a rejeição da denúncia é uma conquista do Estado democrático”. 

Existe alguma diferença?





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