Bolsonaro vai perder a chance de entrar num museu pela primeira vez na vida

Pressão de funcionários e pessoas influentes funciona, e museu de Nova Iorque veta homenagem a Bolsonaro em suas dependências



Jair Bolsonaro não vai passar "Uma noite no museu", como no filme hollywoodiano. Se, por um lado, os novaiorquinos perderão a chance de ver pessoalmente um espécime humanoide pouco mais desenvolvido do que um neandertal em carne e osso no Museu Americano de História Natural (AMNH na sigla em inglês), por outro serão poupados do constrangimento de abrigar, num dos maiores templos mundiais da ciência, um negacionista, crente em teorias conspiratórias imbecis de internet e difusor de fake news.

Foi tamanha a pressão, de dentro e de fora do museu, para que o evento, que seria sediado no prédio, fosse cancelado, que funcionou. Esta semana os diretores do museu anunciaram que o jantar que a Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos faria no local em homenagem ao presidente brasileiro teria que ocorrer em outro local.

A desculpa apresentada pela diretoria do AMNH teve a ver com a preservação da Amazônia, uma preocupação internacional que eles não identificam no presidente brasileiro. Certamente escolheram uma justificativa que tivesse a ver com a área de atuação do museu, mas a rejeição a Bolsonaro partiu de diversas áreas dos Estados Unidos, bem como dos diversos empregados da instituição, sob as mais diversas alegações.

O prefeito de Nova Iorque, por exemplo, foi a primeira voz mais importante a fazer a "Call for Battle", ou seja, o chamamento contra a absurda homenagem que a Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos pretendia fazer no museu. Chamou o presidente brasileiro de "ser humano perigoso" por conta do seu racismo e da sua homofobia. Foi demais para os diretores do museu aguentarem a pressão, até que o evento fosse finalmente vetado na instituição, conforme anunciado recentemente.

Além de notório racista, sexista e homofóbico, Bolsonaro é inimigo da ciência e da educação. Basta dizer que colocou na direção do Ministério da Educação em menos de quatro meses, homens notórios por suas ignorâncias sobre o tema, defensores de teorias infantis de conspiração, além de ter nomeado recentemente um delegado de polícia no Inep, responsável pela elaboração do Enem. Além disso, o presidente anunciou corte de verbas de patrocínio da Petrobras e do BNDES na área da cultura, afetando diretamente eventos culturais importantes como Festival do Rio, Festival de Cinema de São Paulo, Anima Mundi, Festival de Cinema de Vitória, Prêmio da Música Brasileira, Clube do Choro em Brasília, entre outros.

Como um presidente desses pôde merecer o prêmio de "personalidade do ano", que lhe seria oferecido no museu de Nova Iorque pela Câmara de Comércio?

Porque para os capitalistas, para os homens de negócio, das finanças e do mercado, tudo o que importa é como o seu capacho gerencia o comitê dos interesses econômicos da alta burguesia, que representa hoje o governo brasileiro. Questões morais e éticas passam longe do capitalismo, como a história já mostrou por diversas vezes. Para estes homens brancos, velhos, gordos e engravatados, Bolsonaro merece um prêmio por ter arrochado o trabalhador, poupado os ricos, ter parado pela primeira vez em quase 20 anos o aumento real do salário mínimo, por estar propondo uma reforma da Previdência draconiana com os mais pobres, e estar vendendo o Brasil para os interesses econômicos dos Estados Unidos.

Ainda bem que, pelo menos, os homens da ciência ainda são sensatos a ponto de barrar a entrada de um ser humano tão vil e abjeto nas nobres dependências do museu, um templo do saber e do conhecimento. Deixe que as aves de rapina do capitalismo arrumem outro lugar mais apropriado para bajular seu funcionário político. Em Wall Street, por exemplo. Batendo o martelo da venda de alguma empresa brasileira, como na lamentável e criminosa cena do então ministro José Serra, batendo o martelo da venda da Vale do Rio Doce na Bolsa de Valores do Rio, tempos atrás. Era o capacho de então.






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