O Incêndio no Ninho e o jornalismo como arma política da Globo



Neste fim de semana completou-se um ano do trágico acidente envolvendo jovens da base no Centro de Treinamentos do Flamengo, o chamado Ninho do Urubu. Em meio a diversas homenagens e justas cobranças para que os culpados sejam identificados e punidos, aparece agora o súbito interesse das Organizações Globo neste episódio.

Passou-se um ano desde o acidente no Ninho do Urubu e não se viu tamanha cobertura jornalística da Rede Globo sobre o incêndio em nenhum momento. Agora, há matérias no Jornal Nacional, no Esporte Espetacular, no Faustão e quem sabe mais onde esse assunto será tema especial daqui pra frente.

Essa cobertura estranha me fez lembrar um outro episódio. Em 1989, nas vésperas da eleição presidencial, as Organizações Globo estavam em pleno horror pelo favoritismo de Lula e Brizola. E então, em questão de meses, colocaram todo seu aparato midiático a favor de um até então ilustre desconhecido governador de Alagoas, que tinha até seu próprio slogan marqueteiro: o caçador de marajás. 

O governador apareceu em programas até inusitados, com o Xou da Xuxa, se aproveitando da propaganda gratuita de sua campanha para angariar popularidade na maior emissora do país. Foi assim que Fernando Collor de Mello foi capaz de desbancar os favoritos e levar, com direito até a manipulação da edição do último debate no Jornal Nacional, a vitória presidencial.

Nesse episódio, a Globo colocou seu aparato midiático em favor do seu interesse político.

E agora, vemos a mesma tática acontecer diante dos nossos olhos. Desta vez por interesse econômico. 

O Clube de Regatas do Flamengo, do alto do seu grande investimento no futebol e resultados estratosféricos em matéria de audiência na TV (audiência = mais dinheiro para as emissoras) veio pleitear um aumento na sua cota de direitos econômicos sobre a transmissão do campeonato carioca, gerando um impasse.

O Flamengo, como todos sabem, é o trem pagador do futebol, é a locomotiva que carrega os outros clubes em matéria de audiência. A rede Globo, conhecida por sujeitar a maioria dos clubes endividados, não está acostumada a ser afrontada no seu maior e mais rico monopólio, o do futebol.

Tendo em vista a persistência do Flamengo em não ceder, gerando com isso enormes prejuízos para a rede Globo (coisa que o Flamengo não tem absolutamente nada a ver com isso), a rede Globo resolveu colocar todo seu aparato de volta em ação, dessa vez não para elevar a imagem de uma figura desconhecida, mas para denegrir a imagem de um clube que tem com ela um litígio.

Desde então, o incêndio no Ninho vem sendo usado de forma sórdida pela emissora para alcançar seus objetivos, o de dividir a torcida e colocar pressão sobre o Flamengo, de forma vingativa.



Que nenhuma pessoa ingênua pense que a rede Globo está de fato interessada em fazer justiça para as famílias envolvidas. Até porque ela seria obrigada, em nome do bom jornalismo (coisa que ela não faz) a reconhecer que todas tem sido muito bem atendidas e a grande maioria das famílias — 16 famílias de 26 envolvidas, para ser mais preciso — já entrou em acordo com o clube, cujos detalhes podemos ver na nota oficial lançada ontem pelo Flamengo.

É preciso defender que o Flamengo continue a negociar com as famílias para um acordo, mas repudiar de forma veemente o uso interesseiro da tragédia como forma de ganhos comerciais, num jogo sujo que a rede Globo já mostrou que não se furta a realizar.




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