Educação para impedir a superstição.
No momento em que vemos a eleição presidencial brasileira ser levada para o segundo turno em grande medida pela questão religiosa, é momento de refletirmos sobre os motivos que ainda permitem que esse ranço conservador ainda resista no país em pleno século XXI
O Brasil nunca esteve passando por uma fase de tanta bonança, em que milhões de miseráveis, abandonados durante séculos pelas classes dirigentes, finalmente ascendem a um nível de dignidade de vida, e outros tantos ainda mais, na pirâmide social, passando a integrar a classe média. Mas o último pleito presidencial mostrou que, se uma etapa do resgate do povo logrou êxito, outra anda deixando a desejar, já que as forças do conservadorismo ainda exercem um poder incrível sobre as mentes brasileiras e não podem ser desprezadas. De um lado, a imprensa, batendo noite-e-dia num tema que é sim, digno de manchete, mas que a insistência descabida denuncia claramente a intenção política; e de outro, a Igreja Católica, esta velha caquética que ainda consegue fazer o povo de gado, apontando com o cajado a direção que quer que seja tomada. Por que essas coisas ainda acontecem no Brasil?
No meu modo de entender, por uma razão bastante simples. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cuidou muito bem do setor econômico, dando assistência a uma camada da população que, antes de qualquer coisa, precisava sobreviver. Mas em seus oito anos de governo, negligenciou a qualidade da educação básica no país.
É sabido que quanto maior o nível de instrução de um povo, quanto mais tempo se passa nos bancos escolares, mais você está apto a ver o mundo de forma crítica, e com isso menor a possibilidade desse povo ser levado pelas mãos da Igreja e da grande imprensa. Essas duas instituições, que fazem parte do aparato ideológico responsável por manter as mentes adormecidas na ilusão, foram as responsáveis diretas por levar a decisão da eleição presidencial para o segundo turno no último dia 3 de outubro. Não bastasse campanhas sórdidas, apócrifas e difamatórias contra a candidata do governo, Dilma Roussef na internet, "acusando-a" de ser ateia (como se isso fosse crime), a favor do aborto e outras mentiras, bispos como Dom Luiz Gonzaga, de Guarulhos, fizeram campanha abertamente contra ela nas igrejas (local público), alegando que ela é "contra os valores cristãos", num flagrante ato de crime eleitoral previsto em lei.
Não vamos nos aprofundar aqui e discutir que diabo de valores cristãos seriam esses: se os que apoiam a "família, a moral e os bons costumes" ou ditaduras, escravidão e misoginia. O fato é que por conta desta campanha sórdida e baixa, parte do eleitorado migrou para a candidatura de Marina, mais voltada para os ditos "valores cristãos" (muito embora ela tenha fugido da questão do aborto, alegando que era tema para um plebiscito), levando a decisão para o segundo turno.
Já haviam eles, meses atrás, juntos com militares simpatizantes do Golpe de 64 (olha que turma essa...) tentado entravar o debate proposto pelo Programa Nacional dos Direitos Humanos (PNDH-3), por não quererem que se mexa em um passado tão comprometedor.
Era hora dos senhores desta instituição anacrônica chamada igreja católica perderem essa influência que exercem sobre o povo. Influência esta que só ocorre, porque ao longo dos séculos este mesmo povo se acostumou a ver os acontecimentos históricos no Brasil de forma "bestializada" (pra pegar emprestado uma definição de José Murilo de Carvalho) e ainda não aprendeu a pensar por si. Somente através da Educação, as pessoas estarão livres para pensar e com melhor capacidade de alcançar maiores horizontes, deixando de lado coisas desimportantes como "se candidata fulana de tal é ateia ou segue valores cristãos", passando a se ver como sujeito social, que pode atuar com seus braços e sua mente para fazer o Brasil um país justo.
Mais do que nunca precisamos dos ensinamentos do mestre Paulo Freire
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