Educação, royalties e petróleo

Desde 2000 e a cada três anos o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA, na sigla em inglês) se propõe a avaliar o desempenho de estudantes do mundo todo de forma comparada, a partir do 8º ano letivo. Esse programa é desenvolvido e coordenado internacionalmente pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o Brasil sempre figura nas piores colocações. Enquanto outros países crescem, nós afundamos na Educação. Por quê?
 
A avaliação do PISA de 2009 já foi assunto aqui no Panorâmica Social, (Mau desempenho de alunos brasileiros é entrave para o crescimento do país) mas nos interessa saber o que vem sendo feito para melhorar nossa situação, além de ver qual o motivo do sucesso dos líderes do ranking. Podemos ver no quadro abaixo que países como Coreia do Sul, Finlândia e China estão sempre acima da média em ciências, leitura e matemática — as três áreas avaliadas. Qual será o segredo delas?
 
 
educacao2 Um documento do próprio Ministério da Educação da Finlândia ajuda a desvendar o mistério. De acordo com o texto, não há fórmula milagrosa para melhorar a educação. É preciso a junção de uma série de fatores que convirjam para o sucesso do país na área, e uma delas é que a própria sociedade finlandesa valoriza a educação. O povo de lá leva o assunto a sério e 75 por cento dos adultos no país tem diploma de ensino superior. Apesar do ensino só ser obrigatório até os 16 anos, somente 1 por cento dos estudantes do ensino fundamental (chamada lá de escola compreensiva) não continua os estudos.
 
Outro fator importante é que na Finlândia, o professor é visto com respeito. A sociedade valoriza o profissional, que tem status e reconhecimento do governo. Algo muito diferente de um tal país chamado Brasil, onde os professores são tratados na base do cassetete policial.
 
Outra grande lição vem do outro lado do mundo. A China, numa visão de futuro, prepara seus jovens hoje para o país de amanhã, num grande exemplo de política pública com interesse nacional.
 
educacao-china Na China, os jovens recebem uma educação cada vez mais aberta ao mundo. Os alunos recebem aulas de inglês desde cedo e participam de intercâmbios no exterior. Lá, assim como na Finlândia, a educação é prioridade nas famílias, que chegam a gastar metade do orçamento para financiar a educação dos filhos em programas extracurriculares.
 
No plano governamental, a ideia ousada (e que deveria seguir de exemplo) é se livrar da dependência tecnológica e científica do resto do mundo. A China já produz a maioria da tecnologia de que precisa e pretende alcançar a liderança mundial na área em breve. Enquanto isso, no Brasil...
 
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Nosso país, historicamente, sempre teve uma elite sem visão de futuro. Acomodados na classe privilegiada, pouco se lixaram para o povo brasileiro, se contentando em servir de forma subalterna aos interesses econômicos dos países centrais. O tempo passou, uma reforma ou outra foi implementada, mas nosso país continua sem um projeto nacional que revolucione a condição ridícula que ostenta perante o mundo, sempre nas piores posições de qualquer ranking na educação.
 
Somos levados a acreditar que o país vive uma fase maravilhosa, porque está entre as maiores economias do mundo. Mas o grosso da sociedade brasileira não se beneficia do crescimento do PIB, da oscilação do dólar ou se aproveita dos negócios na Bovespa. Pelo contrário: é ela que paga a conta quando a economia entra em crise.
 
Um exemplo típico da falta de uma visão de futuro de nossas elites se reflete na falta de um projeto nacional de nossos políticos. Recentemente o Brasil conseguiu um bilhete premiado, que foi a descoberta das imensas reservas de petróleo na camada do pré-sal, o que gerará recursos magníficos para o país durante muitos anos. E no momento em que nossos parlamentares deveriam estar discutindo no Congresso um projeto revolucionário para a Educação no nosso país, utilizando estes recursos, ele preferem digladiar para conseguir algumas migalhas a mais de royalties para seus Estados, tirando proveito político da jogada, e só.
 
A sociedade brasileira precisa acordar. Se ela não tomar nas mãos os rumos do Brasil, vamos fracassar mais uma vez enquanto o mundo espera que aproveitemos nossa chance. Que vergonha será se o BRICS, grupo de países em rápido crescimento econômico que pode liderar a economia global, se tornar “RICS” nas próximas décadas, porque o Brasil frustrou a expectativa que se fazia dele. Essa condição de riqueza econômica e calamidade social não vai no levar a lugar nenhum enquanto os beneficiados dela estiverem do comando, enquanto a maioria fica de fora.




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