“Mensalão” do PT: relembrando o caso (parte2/3)
Essa postagem é a segunda e penúltima parte da matéria sobre o Mensalão do PT, que será julgado nesta semana.
Marcos Valério, o operador do mensalão do PT, era operador do caixa dois do PSDB mineiro
Sua ambição se tornou a porta de entrada para o meio político mineiro em 1996, através de duas siglas: PSDB e SMP&B. A primeira, do partido que todo mundo conhece. A segunda, da maior agência de propaganda de Minas. Em estado falimentar, Marcos Valério ainda assim enxergou oportunidade na agência — com o apoio da outra sigla, o PSDB.
Nos anos 70 e 80, as empreiteiras serviam para fornecer caixa dois a campanhas políticas, mas desde a eleição de 1989, as agências de publicidade haviam se tornado operadoras de caixa dois preferenciais em campanhas eleitorais. Em 1996, sabendo que os tucanos mineiros estavam com grandes planos para a agência (leia-se, com intenção de usar a agência para operar caixa dois da campanha do tucano Eduardo Azeredo em Minas), Marcos Valério resolveu ajudá-la a sair do buraco. Através de manobras jurídicas, Marcos Valério sugeriu aos donos da SMP&B Publicidade a abandonar o barco velho e montar um barco novo: a SMP&B Comunicação. Por ter intermediado a transação, Valério ficava com 10 por cento da agência e o cargo de diretor financeiro. Assim ele abandonava o ramo bancário e se tornava o “publicitário” Marcus Valério.
PT no poder utiliza os métodos do PSDB
Para conseguir o dinheiro para pagar aos aliados, o PT, quando chegou ao poder, recorreu ao mesmo operador do caixa dois do PSDB mineiro, Marcos Valério. Através dos seus contatos com os bancos mineiros como o Rural e o BMG, Valério conseguia milagrosos “empréstimos” que alimentavam o caixa dois do partido. Nessa operação, o PT arrecadou a bolada de 66,1 milhões de reais.
Quando o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, precisava de dinheiro, ligava para Valério. Dessa maneira, de janeiro de 2003 a maio de 2005, o PT movimentou de forma ilegal “uma média de 63.380 reais por dia, incluindo sábados, domingos e feriados”. Segundo Lucas Figueiredo,
O dinheiro jorrou. Dívidas de campanha foram pagas, ‘compromissos políticos’ do PT com seus aliados foram saldados, corruptos enriqueceram, advogados e prostitutas receberam por serviços prestados e até a amante de um ex-deputado já morto teve a sua pensão garantida
Como funcionava o esquema
Ainda segundo o autor:
Para desaguar os recursos sem despertar suspeitas, o empresário utilizou o velho expediente já testado e aprovado em 1998 na campanha do PSDB mineiro. Na maioria das vezes, o truque funcionava da seguinte forma: a SMP&B emitia cheques nominais a ela mesma, que eram então endossados e sacados na boca do caixa. Como a SMP&B costumava movimentar anualmente dezenas de milhões de reais, ninguém notava se a empresa havia sacado 10 milhões de reais a mais ou a menos num determinado mês. Só o banco poderia desconfiar de tantos saques na boca do caixa, mas para isso Marcos Valério tinha seus amigos no Rural.
E como esse dinheiro chegava nas mãos dos destinatários?
Quando Delúbio ligava para Marcos Valério, dizia que o político X tinha que receber a quantia Y. A diretora da SMP&B, Simone Vasconcelos ligava para o parlamentar para perguntar como deveria ser feito o pagamento. De olho na farra do dinheiro, muitos políticos passaram para os partidos da base aliada do governo. Só no PTB, no PL e no PP, o número de deputados e senadores passou de 101 para 154. Na base do mensalão o PT garantiu a maioria de votos no Congresso.
O fato totalmente estranho é que o PT poderia estar comprando deputados da direita para aprovarem projetos contrários aos deles, mas não... O PT, supostamente de esquerda, pagava a partidos de direita para aprovarem uma agenda liberal, como a Reforma da Previdência, por exemplo. Difícil de entender...
Continua…
______________________________Fonte: FIGUEIREDO, Lucas. O Operador – Como (e a mando de quem) Marcos Valério irrigou os cofres do PSDB e do PT. Ed. Record: Rio de Janeiro, 2006.
Comentários
Postar um comentário
Faça seu comentário, sua crítica ou seu elogio abaixo. Sua participação é muito importante! Qualquer dúvida, leia nossos Termos de Uso