O mercado da informalidade na campanha política

Estamos vivendo em todo o Brasil o período de campanhas eleitorais e é difícil escapar do tema quando a gente quer escrever sobre algo da atualidade. O assunto de hoje é o mercado informal na eleição, que ocorre a cada 2 anos no país e corrompe o que se esperaria de uma verdadeira democracia e de uma plena cidadania, porque envolve interesses e favores imediatos e pessoais e não o bem estar da comunidade. Embora a eleição abra uma série de oportunidades para cantores de jingles, compositores, produtores de faixas, banners e cavaletes, donos de carros de som, etc., vamos nos ater a um tipo bem específico que costuma ser o mais explorado: o cabo eleitoral.

Uma das coisas mais belas da democracia é quando você se presta a fazer campanha para seu candidato de predileção. Num país em que este sistema está plenamente implementado, os cidadãos escolhem, apoiam e divulgam aquele que consideram o melhor postulante ao cargo político, não porque queriam alguma vantagem pessoal em troca, mas porque acreditam que ele fará um bom governo para todas as pessoas.

Agora, o que dizer quando um país apresenta apenas um arremedo de democracia como o nosso, com uma população que carece de entendimento sobre política e sofre com a baixa escolaridade e com o abandono dos governantes? Esse é o quadro geral no nosso país, mas principalmente das áreas carentes, onde a política se faz mais necessária. E falando especificamente, da Zona Oeste do Rio de Janeiro.

A cada esquina se vê pessoas empunhando e agitando bandeiras de algum candidato; muitas vezes, no centro dos bairros, eles aparecem às dezenas, com camisas, bonés, bandeiras, santinhos e carros de som. De repente aparece não um daqueles onipresentes carros, mas sim uma “bicicleta de som” com um sujeito pedalando alegremente uma bicicleta com um sistema de som embutido, tocando o jingle de algum outro candidato. Na beira das ruas, eles, os famosos cabos eleitorais passam o dia inteiro sentados numa cadeira de praia, zelando pelo cavalete de mais um outro postulante ao cargo público. E pelos muros e janelas das casas, só se vê galhardetes dos mesmos candidatos de sempre que dominam seus currais eleitorais, aqueles a quem se pode recorrer para um atendimento num hospital ou uma cadeira de rodas para um parente. Esse é o cenário da região, bem como de muitas outras regiões do país. “Festa da democracia”, como diz a mídia?

Usar a eleição para faturar um troco é errado

Infelizmente, não. A esmagadora maioria dessas pessoas não está ali manifestando sua preferência política porque acredita que aquele candidato seja mesmo o melhor e mais preparado para a função. Elas passaram dois anos esperando esse momento, o de trabalhar para “algum candidato” (quem quer que seja), fazendo um bico, se prestando a serem galhardetes ambulantes, guarda-cavaletes, balançadores de bandeiras e entregadores de santinhos, pra ganhar 50, 100 reais por semana talvez. São literalmente usadas pela classe política, cujo poder econômico baseado em vultosas doações de campanha permitem a contratação desses fantoches ambulantes que, sem o saber, fazem a apologia da sua própria miséria, quando empunham a bandeira dos mesmos algozes que vão abandoná-los pelos próximos quatro anos. E não podia ser diferente mesmo: se todas aquelas pessoas tivessem emprego, saúde, educação, transporte, moradia e todas aquelas velhas promessas de campanha realmente cumpridas, talvez não precisassem se prestar a isso. Quando é que essas pessoas vão entender que são exploradas por elementos que se servem da política em vez de servir à política?





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