Governo brasileiro emperra integração da América Latina

Dilma no velório de ChávezFoi de fato muito comovente assistir a emoção de Lula e Dilma Rousseff no velório do presidente venezuelano Hugo Chávez. Mas as lágrimas derramadas não condizem muito com o que está por trás das aparências, em se tratando atuação de Brasil e Venezuela na proposta de novas institucionalidades para a América Latina.

O governo brasileiro, desde a ascensão política do líder venezuelano na região, tem preferido servir como contraponto moderado ao modelo venezuelano, e nisso atua perfeitamente a favor do jogo de interesses do capital internacional, funcionando como barreira às pretensões integradoras de Hugo Chávez no continente sul-americano. Isso fica bastante claro quando analisamos três projetos que, sem o apoio do Brasil, não podem ter sucesso: o Banco do Sul, o Conselho de Segurança da Unasul e a Telesul. Segundo o professor e economista Nildo Ouriques, da Universidade Federal de Santa Catarina, a “prudência” e a “timidez” do governo brasileiro, desde Lula, em apoiar tais projetos para a região se dá simplesmente pelo compromisso do ex-presidente – seguido nessa linha pela Dilma – com as classes dominantes no Brasil e com o governo dos Estados Unidos, o que impede tais iniciativas de emplacarem a segunda independência dos povos latino-americanos.

Governo brasileiro descarta o Banco do Sul em favor do BNDES

Banco-del-Sur-LogoO Banco do Sul, proposta da Venezuela para acabar com o mito do financiamento externo e com a eterna dependência econômica, é uma forma de impulsionar a economia da região através das poupanças dos países latino-americanos para investimentos em projetos de interesse conjunto. Mas Chávez encontrou no Brasil um grande adversário a essa proposta. O que Lula fez e o que Dilma está fazendo é preferir o protagonismo do BNDES, que, diga-se de passagem, há muitos anos ficou marcado como o financiador dos ricos. Eike Batista, por exemplo, assim como outros magnatas brasileiros, cada vez mais dependem do BNDES para seus projetos capitalistas pessoais, e o banco deixa em segundo plano projetos de estratégia nacional.

Conselho de segurança da Unasul esbarra no governo brasileiro pró-EUA

imagesJá na importante proposta de um Conselho de Segurança da Unasul, há a intenção de esvaziá-la por conta da filiação brasileira ao projeto de segurança de Washington e a pretensões de apoio em uma cadeira brasileira no Conselho de Segurança da ONU. Se o Conselho de Segurança regional tem o claro intuito de combater o imperialismo estadunidense na América Latina, o Brasil, ao contrário, respalda a política do inimigo.

Telesul contraria interesses dos grandes conglomerados de mídia que o governo do Brasil não enfrenta

telesurA Telesul, que Hugo Chávez gostaria que fosse a nossa CNN, poderia servir como contraponto às mídias oligárquicas da região, todas elas alinhadas com uma ideologia, a das elites dominantes. Mas o governo brasileiro, pusilânime em enfrentar as próprias empresas de comunicação nacionais, jamais sequer pensou em apoiar este importantíssimo projeto. O compromisso do governo com os monopólios comerciais da mídia impede que a Telesur emplaque de vez.

Os governos conservadores no Brasil sempre foram acusados – e com razão – de virarem as costas para o continente sul-americano, preferindo uma condição subalterna frente aos Estados Unidos e Europa. Os governos do PT, desde Lula, representavam uma esperança de romper esse descaso histórico, mas ao que tudo indica, se chegaram a olhar um pouco para a região, foi com o prisma de sub-império regional. Só isso explica as atitudes de sabotagem da definitiva e imprescindível integração dos países da América Latina, cujo maior líder era, sem dúvida, Hugo Chávez. O governo brasileiro, além disso, prefere se situar na cômoda posição entre os erros do PSDB e as necessidades de aprofundar urgentemente as reformas sociais. Sem ser um partido totalmente neoliberal como seu antecessor, também está muito longe de proceder as reformas progressistas que seus vizinhos sul-americanos já conseguiram com sucesso, apesar da necessidade de aprofundá-las ainda mais. Chorar a morte de Hugo Chávez no seu velório é muito pouco. É preciso seguir adiante com suas ideias, e não servir como dique de contenção a elas.
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Áudio da entrevista do professor Nildo Ouriques:




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