Magistério brasileiro tem um dos piores salários do mundo

Um dado curioso que revela como o governo brasileiro pouco se importa com as condições de vida e de trabalho do profissional de educação: ao contrário de outros países, aqui não existe um estudo oficial referente ao salário médio do professor do ensino básico.

Todo ano é realizado o Educacenso no Brasil, um senso escolar onde procura-se registrar o perfil do profissional da educação, saber o nível da sua formação, em quantas escolas leciona, etc. Mas parece que coisas como salário, poder de compra, gastos com material, o MEC não quer saber...

Talvez porque se soubesse, seus burocratas ficariam ruborizados de vergonha. Segundo o site da Udemo e com base nos dados da Pnad (Pesquisa Nacional Amostra de Domicílios) 2010 e pela Metas - Avaliação e Proposição de Políticas Sociais a pedido do UOL, “um professor brasileiro do fundamental 2 (6º a 9º anos) ganhou, em média, US$ 16,3 mil por ano em 2009. Enquanto isso, na média, um profissional com formação e tempo de experiência equivalentes recebeu US$ 41,7 mil nos países da OCDE” (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, dados do Education at a Glance de 2012).

Baixos salários são um problema por si só, porque complicam a vida dos professores, obrigam-nos a atuar em diversas escolas, sem tempo para a preparação de aulas ou formação continuada, mas tem consequências ainda piores: torna o magistério uma carreira pouco atraente para os jovens universitários, além de fazer os bons profissionais já formados e experientes a trocarem de profissão.

Além dessa diferença de salários entre professores do Brasil e do exterior, também existe uma defasagem gritante entre estes profissionais do ensino e profissionais de outras áreas dentro do país. Pelos cálculos da consultoria Metas publicados no Udemo,

“o salário médio de um professor da rede pública com curso superior e com, pelo menos, 15 anos de experiência (US$ 15,4 mil) não chega a metade (48,5%) da remuneração dos demais profissionais (US$ 31,7 mil) no Brasil (…) [Além disso], em comparação com os países da OCDE, o Brasil está entre aqueles com menor investimento anual por aluno do grupo, sendo o terceiro que menos investe por aluno no pré-primário (US$ 1,696) e no secundário (US$ 2,235) e o quarto colocado no primário (US$ 2,405)”

Diante desses dados, o que os nossos políticos estariam pensando em fazer para acabar com o vergonhoso paradoxo de sermos a sexta maior economia do planeta, enquanto ostentamos paralelamente uma vergonhosa colocação nos índices de educação? Por enquanto, nada. Para se ter uma ideia, o Plano Nacional para a Educação (PNE) com as metas da educação brasileira para o período 2011 a 2020, cuja 17ª das 20 propostas é aumentar o rendimento do professor ao nível dos demais profissionais de escolaridade equivalente, ainda está travada no Congresso Nacional com dois anos de atraso, sem previsão de ser implementado.

Não é fácil ser professor. No Brasil então, é quase uma loucura. O reflexo disso está aí, ao nosso redor, todos os dias. Um país cujo povo é mal formado, mal instruído, sem pensamento crítico, presa fácil para o que há de mais reacionário, elitista e conservador na nossa sociedade, com professores desmotivados e sem meios de trabalhar e ajudar a mudar esse quadro.

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Fontes: Udemo, OCDE , Education at a Glance





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