A elites brasileiras estão perdendo o sono

capitalismoSim, a reação violenta e desproporcional das elites e classes médias brasileiras contra tudo que tenha cheiro de povo nos últimos tempos, através de legislações mais duras, de comentários raivosos na imprensa ou da pura e simples repressão policial, não é uma coisa fortuita. Na verdade, revela um novo momento por que passamos aqui no Brasil: esses setores privilegiados no país estão experimentando pela primeira vez um novo tipo de desconforto com o qual não sabem como lidar.

Os tempos mudaram

Durante muito tempo, as elites brasileiras souberam como barrar qualquer tipo de reivindicação ou ascensão social dos povos explorados do Brasil. Todo protesto ou movimento social era violentamente reprimido, com seus líderes assassinados, esquartejados e com suas cabeças penduradas no alto de um poste. A história é repleta de casos como esses, o que vinha permitindo aos abastados viverem uma vida de pleno conforto dentro de uma das nações mais desiguais do planeta.

Mas os tempos mudaram. Hoje em dia existe essa coisa horrorosa chamada direitos humanos, que junto com esse mal necessário chamado democracia, transformou a vida desses privilegiados num inferno. Hoje em dia pega mal condenar alguns manifestantes e mandar enforcá-los, por exemplo. Se você pratica um genocídio indígena em nome do agronegócio, ou joga diversos detentos em condições animais num presídio, ou assassina um pobre e negro na favela com a sua polícia, lá estão milhares de manifestantes a denunciar.

Desde o ano passado, as elites empurraram para o batalhão de choque da polícia o jogo sujo de confrontar as reivindicações de uma série de grupos sociais que chegaram para ameaçar a ordem, a família, a propriedade e a cristandade dos bons cidadãos.

E agora, o que fazer?

A ralé, antes conformada, cansou de esperar migalhas, e agora vai às ruas, aos shoppings, para confrontar o status quo. E aí acontece um fenômeno interessante. Cada vez que o aparato das forças de repressão atua para reprimir os jovens, em qualquer mínima atividade destes grupos, um pedaço a mais da cortina que oculta o verdadeiro conflito de classes brasileiro cai, revelando a realidade da brutal desigualdade que grassa neste país. E isso vai tornando cada vez mais difícil manter a doce ilusão da ideologia brasileira de que somos um país de irmãos congraçados no cristianismo, felizes e que não temos essa coisa de conflitos sociais, porque amamos a ordem e somos todos iguais. Como as elites vão resolver esse dilema? Poderiam deixar de ser tão perversas e egoístas, mas isso está totalmente fora de cogitação.

Esse 2014 promete mais capítulos nessa nova realidade brasileira, em que as classes médias e as elites viraram vidraças. A indignação geral contra Roseana Sarney durante uma das maiores rebeliões de presidiários no Maranhão e a péssima repercussão da repressão de jovens pobres da periferia de São Paulo nos shoppings são apenas um prelúdio do que está por vir. Ou a casa vai cair de vez neste país, ou as elites brasileiras encontrarão uma maneira de salvar o seu couro com mais repressão, mais endurecimento das leis, mais cadeia, mais violência policial. O que levará a mais protestos, mais indignação, mais reivindicações.

Tudo isso com o beneplácito de um governo pusilânime que já provou que não está à altura do momento histórico que vive o país. O ano é de eleição, muita coisa estará em jogo, quando o povo estiver nas ruas. No fim do ano, esperamos ter um balanço positivo – para o povo, é claro – de um cenário que promete ser de muitas lutas.  





Comentários

Gostou do blog e quer ajudar?

Você também poderá gostar de:

Comunistas não podem usar iPods ou roupas de marca?

Qual é o termo gentílico mais adequado para quem nasce nos Estados Unidos?

Singapura, exemplo de sucesso neoliberal?

O mito do livre mercado: os casos sul-coreano e japonês

CBF reconhece o título do Flamengo de 1987. Como se isso fosse necessário