Falsos moralistas querem a volta da Moral e Bons Costumes na escola

 

BloG RicharD WidmarcK HinO NacionaL BrasileirO

A gente sempre espera que o Congresso Nacional possa fazer jus às nossas expectativas de avanços, para nos livrar das influências e do peso maléficos de um arraigado conservadorismo que mantém este país no atraso e – por que não dizer – na ignorância. Mas isso é querer de mais.  Às vezes, mais do que conservadores, os nobres legisladores são regressores, ou seja, mais do que manter as instituições obsoletas do presente, eles pretendem resgatar entulhos do nosso passado, como solução dos nossos problemas atuais.

Houve um tempo em que o país estava mergulhado na escuridão ideológica, em que, sem opção de debates políticos ou confrontação de ideias, era todo dia obrigado a reforçar os mitos de uma pátria supostamente mãe gentil, embora na realidade ela fosse cruel e desumana com a maioria dos seus filhos.

Esse tempo deveria ter sido morto e enterrado para sempre no passado brasileiro quando a abertura política deu cabo da ditadura militar, mas sempre há os viúvos da ditadura e dos tempos em que a Igreja Católica tinha o povo em rédea curta, através de bobagens como “moral e bons costumes”.

O novo avanço do conservadorismo

A primeira a aparecer com essas ideias tacanhas de novo foi a deputada fluminense Myriam Rios. Católica fervorosa, a deputada – que posava nua em revistas masculinas no auge do moralismo nacional nos anos 70, que ironia -- se aproveitou do momento de fragilidade do governador perante a opinião pública para fazê-lo engolir uma lei de sua autoria chamada “Programa de resgate de valores morais, sociais, éticos e espirituais”. (!?) O que está por trás disso, é óbvio, é uma nova ofensiva dos moralistas de plantão e a tentativa de emplacar as amarras da religião católica, que ela supõe estarem muito frouxas nesses tempos de “promiscuidade” (um pensamento padrão na carolice católica).

E agora o Congresso discute o projeto de lei que inclui a educação moral e cívica como disciplina obrigatória no ensino fundamental e médio. A autoria da lei é de Onofre Santo Agostini, deputado federal do PSD de Santa Catarina. Segundo o autor, a medida visa incentivar desde cedo o “patriotismo”, obrigando (nas suas próprias palavras) os alunos a cantarem “no mínimo, uma vez por semana o hino” e “hastear a bandeira nacional”.

Ora vejam vocês… Quando eu tomo conhecimento de propostas tão bizarras como essas, eu imediatamente associo a um sadismo doentio. É como um padre pedófilo que, além de abusar sexualmente das crianças, explorando-as, chantageando-as, privando-lhes os direitos mais básicos, ainda as obriga a amar os mitos cristãos e a beijar os símbolos da Igreja. Pois é exatamente assim que eu vejo um Estado que não oferece um mínimo de qualidade de vida para mais de 80 por cento dos seus jovens, que são abandonados à própria sorte e que sofrem todos os tipos de interdições nesta vida, e que ainda por cima teriam que prestar homenagens ao mito da nacionalidade de um dos países mais perversos com a juventude.

Cidadania não vem na marra. Amor ao país não vem com decreto. Por que os nobres políticos não invertem a lógica do raciocínio, e em vez de atacar cada vez mais a instituição escolar com suas aulas de religião e sua moral e “bons costumes” (que seria um bom costume? Ser fiel à ordem estabelecida? Assumir uma postura de conformismo perante a pobreza? Frequentar esta e não aquela igreja?) não pedem para o governo investir no combate da indecente desigualdade social? Ou no fim da discriminação racial? Talvez no direito dos homossexuais. Ou quem sabe na erradicação do trabalho infantil, ou no respeito à orientação religiosa de todos, independentemente de ser ou não de viés cristão? Isso sim seria um tremendo de um bom costume. O resto, é só mais um passo no retrocesso.





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