Dois cenários possíveis: ou acabam com o Lula, ou o fortalecem ainda mais para 2018

Lula após o depoimentoLula foi hoje depor de forma “coercitiva” na Polícia Federal sobre algumas das acusações que recaem sobre ele na Operação Lava Jato, com base em depoimento do senador Delcídio Amaral, preso, que lançou mão da delação premiada para denunciar o ex-presidente, numa acusação imoralmente vazada para a imprensa. O artifício da condução coercitiva é utilizado quando o depoente é intimado mas se recusa a comparecer no depoimento. Lula já tinha dado outros três depoimentos antes na Polícia Federal, nunca se negando a comparecer. Mas dessa vez, por ordens do juiz Sérgio Moro, sob a alegação que de se queria evitar exacerbações de manifestantes, tanto contra quanto a favor do ex-presidente, Lula foi depor “na marra”, um prato cheio para as Organizações Globo, que sutilmente já tratam Lula como condenado em seus canais.

Não se trata de defender aqui o ex-presidente. Lula é vítima de seu próprio engano político, quando achou que, em vez de meramente tolerado, sentaria-se à mesa dos poderosos como um igual. As elites desse país jamais aceitaram sua presença no posto mais importante da República, e o pouco que fez para tirar pessoas da miséria e colocá-las nas Universidades e nos aeroportos já foi o suficiente para acirrar os ânimos das classes médias golpistas desse país.

O maior erro de Lula foi ter abandonado os pressupostos teóricos da luta de classes, apostando num surreal pacto de conciliação em nome da paz social.

Nossas elites, no entanto, bem como as camadas médias mais elevadas, são golpistas, insensíveis, egoístas, preconceituosas. Talvez, como se referiu Darcy Ribeiro, as mais perversas do mundo. Jamais iriam assistir passíveis, mesmo tendo tido ganhos proporcionalmente maiores que os pobres no governo Lula, a ascensão social de amplas camadas que pra eles representa uma ameaça ao seus privilégios históricos.

Se tivesse sido forte, corajoso, quando podia, hoje tanto Lula quanto o PT, e consequentemente o país, poderiam desfrutar de uma maior estabilidade. Mas, com base no mito da governabilidade, preferiram não enfrentar, mas se aliar com o que havia de mais horrendo e arcaico na política nacional, ajudando a salvar uma classe política que em 2002 estava à beira da morte, por conta do esmagador sufrágio de 50 milhões de votos conferidos ao PT. Não a isso que o PT se tornou, mas àquele PT histórico, progressista, reformista e de lutas que o Lula traiu no governo.

Também evitaram enfrentar o monopólio gigantesco das 6 famílias que controlam as principais mídias do país, mesmo tendo base constitucional para isso.

A conclusão disso foi que, por um lado, a mesma mídia que Lula não enfrentou quando podia o coloca como refém de seus interesses políticos. E por outro, a cada concessão feita para a direita política durante esses últimos 13 anos, o inimigo se fortalecia ainda mais, até chegar ao ponto de hoje ameaçar engoli-lo numa campanha ridícula de difamação vinda tanto da política quanto da justiça, com claro intuito de sabotar sua candidatura à presidência da República em 2018.  

Temos dois panoramas depois desse evento de hoje, que de qualquer maneira se tornará um divisor de águas.

Na cena hipotética 1, as delações se comprovam, Lula se complica e é preso, encerrando tristemente uma biografia política que tinha tudo para colocá-lo ao lado dos grandes do país. Isso abriria uma porteira para a direita, que sairia fortalecida e tomaria conta de vez do cenário político, nos colocando mais uma vez sob o viés político e econômico do neoliberalismo puro dos anos 90;

Na cena hipotética 2, todo o alarde em volta do ex-presidente dá em nada, pois não há como provar nenhuma das acusações. Nesse caso, Lula e o PT, mordidos, vão às ruas, o tom se eleva, o partido retoma as suas raízes, Lula sai candidato com o apoio de uma militância aguerrida, e resolve comprar a briga que deixou na gaveta enquanto presidiu o país.

Até 2018, saberemos o que vai acontecer.





Comentários

  1. Marcos Celio Menezes de Araújo13/03/2016, 17:11

    Politicamente, dificilmente, em 2018, ou antes, o PT ganha as eleições. O que deve acontecer é a alternância de poder nas próximas eleições. Aécio, com ou sem Lula, eu tenho que admitir, tem tudo para ser o próximo Presidente. Depois, falarei acerca do Aécio Neves

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  2. Marcos Celio Menezes de Araújo13/03/2016, 17:12

    Não estou afirmando que Aécio será o próximo presidente, pois, até 2018, muita coisa pode acontecer. Outros potenciais candidatos podem despontar, mesmo da Esquerda. Vamos aguardar mais alguns meses.

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  3. Marcos Celio Menezes de Araújo13/03/2016, 17:12

    Conclusão: há um ataque, de todos os lados, patrocinado pelas classes dominantes deste país, diuturnamente, para que Dilma sequer termine o mandato dela!

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  4. Marcos Celio Menezes de Araújo13/03/2016, 17:13

    O PMDB parece que vai cair fora do barco do governo. Se o PMDB sair, o impeachment da Dilma torna-se real. O PSDB( Aécio ou Alckmin) está muito fortalecido para a próxima eleição presidencial. Por que o governo Dilma não tem dinheiro suficiente para investir na Nação? Porque paga centenas de bilhões de reais de juros da Dívida. Caso o PSDB vença as eleições presidenciais, e continue honrando com os compromissos da Dívida, para ter bilhões para investir, o partido terá que: fazer a reforma da previdência, acabar com o décimo terceiro salário e vender as principais empresas públicas(BB, Caixa Econômica, Petrobrás e Correios). Ou seja, lógico que eles não vão dizer isto abertamente, mas é o que deve acontecer. Em economia não existe mágica: para o Brasil ter dinheiro para investir, honrando os seus compromissos, terá de ir para o sacrifício, caso o PSDB vença as próximas eleições presidenciais( muito provável). Por que eu afirmo isto? Lula não tem mais chance; Marina e Ciro Gomes não têm chance também. Para o bem ou para o mal( eu espero que para o bem), o Povo quer mudança. O ciclo do PT no Poder político se encerrou!

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    1. Olá Marcos,

      Eu tenho a tendência a concordar com a essência dos seus comentários, mas gostaria de fazer alguns questionamentos, coisas que eu não vejo da mesma forma.

      Por exemplo, não acho que o PSDB esteja com essa força toda. Ele é forte em São Paulo, de fato, e também em Minas, mas no restante do país, o partido está bem desgastado. E ainda por cima, na véspera da eleição seus caciques começam a se bicar pra ver quem será o próximo candidato.

      Mas se por ventura o PSDB alcance de novo o poder, terá que enfrentar um batalhão de pessoas que não vão aceitar a venda desses patrimônios públicos tão fácil. Foi a privataria desenfreada tucana dos governos FHC que desgastaram o partido e que foi responsável pelas sucessivas vitórias do PT até agora. Em campanhas eleitorais, bastava Lula ou Dilma lembrarem que os tucanos queriam vender a Petrobras que os pontos do Ibope petista subia na hora.

      Não tiraria assim logo de cara as chances do Lula...

      Lembro muito bem do episódio do mensalão, em que a estratégia da oposição e da mídia era fazerem o Lula "sangrar" diariamente até as eleições, e o que aconteceu? Lula reeleito.

      O mesmo pode acontecer agora. De tanto colocarem o Lula em evidência, a mídia golpista vai acabar dando o gás que ele precisa, pelo simples efeito da comparação: Lula ou os tucanos de volta? Muita gente ainda prefere o Lula...

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  5. Marcos Celio Menezes de Araújo13/03/2016, 17:14

    Como você disse no seu texto, o PT abandonou as bandeiras históricas do Partido: hoje não é nem uma sombra do PT dos anos 80. O partido foi para o caminho fácil da conciliação de classes. P.S.: sou contra o PSDB no poder central, mas se o povo assim o quiser vai ter de arcar com as consequências de um governo neoliberal que quer voltar com toda força!

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    1. É verdade meu camarada, mas o Lula, que de bobo não tem nada, pode muito bem explorar esse mote: trazer o PT para as suas origens, já que a Dilma o levou tanto para a direita que mal se distingue de um governo tucano.

      Então depois do lulinha paz e amor, pode vir aí o Lula Vargas, aquele que passou para o lado dos trabalhadores no seu segundo mandato.

      Grande abraço.

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