Ciro deveria se engajar mais na campanha de Haddad?
Passada a dura campanha eleitoral do primeiro turno e já definido o resultado final entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad na disputa do segundo turno, Ciro Gomes, canditado na terceira colocação do pleito, resolveu viajar ao exterior.
A partir de então, começaram a surgir críticas de alguns setores da esquerda, principalmente dos ligados ao PT, cobrando uma participação maior de Ciro na campanha, alegando tratar-se não de uma mera disputa eleitoral, mas da luta entre a barbárie fascista, representada pela campanha de Bolsonaro, e a democracia, pelo lado de Haddad — o que não deixa de ter uma certa verdade.
Mas por que Ciro abriu mão de participar de tal luta?
É preciso compreender certas questões a esse respeito. Vamos logo descartando a sugestão absurda de alguns pedetistas de que Haddad deveria renunciar e abrir espaço para Ciro enfrentar Bolsonaro no segundo turno, proposta descabida. Também vamos logo dizendo que não concordamos que o PT merece apoio incondicional das esquerdas. Logo ele, que quando foi governo, suprimiu e isolou todos os demais partidos de esquerda quando esteve no poder, com exceção do PCdoB, que aceitou ser um pequeno satélite na órbita petista.
A única justificativa restante para Ciro Gomes entrar de cabeça na campanha de Haddad no segundo turno seria uma união de todas as forças progressistas diante de uma ameaça real de fascismo no poder.
Quanto a isso, tanto Ciro quanto o PDT tomaram posição e acertaram na dose, dentro de suas justificativas. Ambos declararam "apoio crítico" ao PT, sem subir em palanque, sem expectativa de cargos, e seja lá quem for eleito, serem oposição a partir de primeiro de janeiro.
Muita gente viu nessa ação a confirmação de que Ciro Gomes é um esquerdista ocasional de última hora e não um quadro convicto da esquerda. O que pode até ser verdade. Mas o que não podemos é deixar de entender suas razões.
O PT no passado foi ainda menos esquerdista do que o próprio Ciro, a não ser durante as campanhas. Nessas ocasiões, praticou aquilo que Vladimir Safatle chamou de "esquerda sazonal", ou "a estação das cerejas vermelhas", quando o PT fazia uma campanha com propostas de esquerda e, uma vez eleito, punha em prática uma agenda conservadora. Quantas vezes Ciro foi isolado e criticado por alertar a Lula de que uma aliança com o que há de pior do PMDB daria no que deu?
Isso sem falar em motivos pessoais. Lula prometeu a Ciro apoio para sua campanha em 2010, mas por fim o fez abandonar a própria campanha e, por lealdade ao presidente, apoiou a eleição de Dilma. Deu no que deu.
Alguns, por fim, ainda podem sustentar que o PDT deveria fazer como o PSOL e o PSB que aderiram a campanha. Na verdade esta é a obrigação de todo o cidadão consciente, seja ele liberal ou progressista, e tanto Ciro quanto o PDT não faltaram a este dever. Mas só o tempo vai dizer se a estratégia política destes partidos foi acertada, de acordo com as expectativas que têm.
Ou seja, Ciro e PDT não se mantiveram neutros. Escolheram o apoio crítico ao PT, porque do outro lado existe um perigo real. Que ninguém pense ingenuamente que apenas a vitória de Haddad nas eleições fará o fascismo arrefecer no Brasil. A caixa de Pandora se abriu e seja lá quem vença as eleições, a luta para derrotar os extremistas de direita continuará nas ruas, nas praças, em todos os lugares a partir de agora.
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