As consequências da economia brasileira ainda depender dos barões do café



Café e algodão garantem crescimento do PIB no último trimestre. Essa podia ser uma notícia do Correio Braziliense do começo do século XIX, mas, 200 anos depois, ainda é a realidade brasileira, como informa hoje os portais de notícias.

Por mais que a economia brasileira tenha se tornado mais diversificada e complexa, especialmente a partir dos anos 30 do século XX com a industrialização pelas mãos do Estado e do empresariado associado ao capital internacional, não houve uma revolução de fato, ou seja, uma ruptura com a velha ordem latifundiária da Primeira República. Ainda é a velha monocultura de produtos naturais, a chamada plantation, mesmo que travestida de modernidade e eficiência taylorista através do chamado agronegócio, que continua sustentando a economia nacional.



Isto porque a incipiente burguesia nacional historicamente não se impôs como força política, se atrelou ao Estado como fizeram os barões do café e no decorrer do século o Brasil perdeu posições no ranking de países industrializados, especialmente para países asiáticos como a China, hoje em vias de se tornar a primeira economia mundial depois de sair atrás do Brasil no seu processo de industrialização.

A importância deste setor agrário para o país não se reflete apenas na economia. Na política, e consequentemente na vida cotidiana do cidadão trabalhador, os donos dos grandes latifúndios têm poder fundamental. Na legislatura atual, nada menos do que 261 de um total de 513 deputados fazem da "Câmara do povo" a antessala das negociações políticas dos seus interesses.

Desde o processo de redemocratização da política no país que todos os presidentes eleitos precisam atender aos interesses primordiais desta pequena mas influente camada da sociedade se quiser governar em paz.

O Brasil, ao contrário de outros países hoje desenvolvidos, jamais contou com uma burguesia empreendedora, capitalista na essência, ou seja, que enriqueceu vindo de baixo investindo e correndo os riscos inerentes no processo, uma camada social independente e que teria assim jogado pra escanteio a velha ordem dos barões de café. Em vez de superá-la, associou-se a ela.


A burguesia nacional se constituiu basicamente de bacharéis ligados familiarmente com estes donos de latifúndios, e estes, por sua vez, ligados ao Estado, numa simbiose patrimonialista que contamina até hoje qualquer processo democrático e republicano.

Não é por acaso que nossas altas classes médias são reacionárias e conservadoras por natureza. São hoje bisnetos e tataranetos dos donos da Casa Grande. São médicos, juízes, engenheiros, advogados, profissionais liberais que com a herança da riqueza produzida pelo trabalho escravo no passado, puderam se dedicar aos estudos como seus antepassados de gerações mais próximas, que iam para Coimbra e voltavam ao Brasil para serem os "doutores" sem doutorado no século XIX.

Como explica Karl Marx, a ideologia das classes dominantes é a ideologia dominante em qualquer sociedade de classes, e isso explica o porquê do país ter este ranço tão arraigado de conservadorismo até nas classes trabalhadoras.

A ideologia do latifúndio, com seus antigos e respeitados coronéis hoje travestidos de homens do agrobusiness, brancos e de meia-idade, cristãos, defensores da família patriarcal, é o que prenomina no imaginário e na realidade social. São eles que determinam a política, a economia, e os rumos do país.

Não é à toa que ainda hoje sejam os produtos tradicionais que enriqueceram seus bisavós donos das fazendas como o café e o algodão que ainda sustentem este país. No último debate eleitoral, passou batido, a não ser por um único candidato com um projeto de nacional-desenvolvimentismo, a necessidade de modernizar a economia nacional e superar este modelo. Colocar o Brasil no século XXI passa por romper esses laços antigos do atraso que afetam não só a economia como também a vida dos brasileiros.  




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