Referendo de 2005 não fala em posse de armas. Entenda as consequências

Em 2005 houve o referendo sobre a comercialização e circulação de armas no Brasil. Na ocasião, a vitória foi do "não", com quase 64 por cento dos votos, o que queria dizer permissão para este comércio. O sim ficou com pouco mais de 36 por cento.

Em 2003 o Congresso votava o Estatuto do Desarmamento, que previa o referendo de 2005. A discussão então girava em torno da proibição ou não da fabricação de armas no Brasil, com a empresa Taurus despejando milhões na campanha do "não". Mas existe um grande desentendimento na questão.

Ele se encontra na pergunta elaborada para o referendo de 2005. Naquela ocasião, as pessoas foram às urnas eletrônicas para decidir sobre a seguinte questão: "Você é a favor da proibição do comércio de armas e munição no Brasil?". 

Ora, a partir de então, como fica claro, seria legal a fabricação e comércio de armas e munições no Brasil. Mas os defensores do porte de armas concluíram que, a partir disso, os brasileiros poderiam ter o porte de armas flexibilizado.  Poderiam, de fato, conforme o referendo, empresas de segurança, Forças Armadas, governos, e etc. comprarem no Brasil armas fabricadas no Brasil. Mas não diz nada sobre os cidadãos comuns

Essa é a grande jogada de má-fé do presidente Jair Bolsonaro e dos apoiadores do armamento. Hoje, durante a assinatura do decreto que facilita o porte de armas, ele fez menção ao referendo de 2005: "Como o povo soberanamente decidiu por ocasião do referendo de 2005, para lhes garantir esse legítimo direito à defesa, eu como presidente vou usar essa arma", disse ele, mostrando a caneta Bic. O que ele não mencionou foi uma pesquisa do Datafolha de dezembro de 2018, "ontem", praticamente, onde 61 por cento dos brasileiros são contrários à posse de armas de fogo.


É muito fácil prever algumas consequências lamentáveis desse decreto:

Bandidos sempre terão vantagem


Se uma família quiser ter uma arma para sua defesa dentro de casa, não vai andar com ela na cintura o tempo todo e sim guardada em lugar seguro, longe do alcance de crianças, por exemplo. Um bandido armado invade um domicílio de surpresa com arma engatilhada em punho rendendo automaticamente todos os moradores da casa. Ninguém terá tempo de procurar a arma, colocar as balas e atirar até que seja tarde demais.

As armas serão roubadas


Não é tão fácil obter uma arma de fogo. Armas são caras, não são vendidas a cada esquina, exige um rígido controle burocrático e são ou roubadas em paióis das Forças Armadas ou contrabandeadas com grande risco. Com o decreto, os ladrões de domicílio vão roubar, além de jóias, produtos eletrônicos, dinheiro, também as armas, é claro, que por ventura estejam no imóvel. 

Serão levadas para fora de casa

O decreto permite a posse dentro de casa, mas as armas não vem com chip que as impede de funcionar fora. Se uma pessoa estiver perto de casa, por exemplo, bebendo num bar, arrumar uma briga e for ameaçado, é muito natural que em 10 minutos ela vá em casa, pegue a sua arma que supostamente era para a proteção do imóvel, volte no bar e atire no seu agressor. 

As mulheres serão as maiores vítimas

Grande parte da violência contra a mulher acontece dentro de casa por companheiros violentos e ciumentos. Agora coloque uma arma ali bem à disposição, durante as brigas que resultam em espancamentos e a tragédia estará consumada.

Liberar o porte de armas só atende a duas demandas de um governo irresponsável: agradar os setores de extrema-direita, conservadores e até — pasmem — evangélicos que compõem sua base e as empresas de fabricação de armamentos, doidas para abrir um novo mercado no Brasil às custas de milhares de vidas, num país já com taxas de homicídios inacreditavelmente altas. Tudo isso para além de querer dar mais uma mostra de imitadores do que os Estados Unidos tem de pior, característica da nossa direita nacional capacha e submissa. 




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