Elites capazes de destruir um país para manter seus privilégios

Nesta "Belíndia" chamada Brasil, autossabotagem e destruição em favor de uma minoria de privilegiados





Recentemente, o presidente Jair Bolsonaro deu com a língua nos dentes num programa de rádio e revelou a todo o país uma das alianças mais espúrias de que se tem notícia dos últimos tempos: o juiz Sérgio Moro, responsável direto pela condenação questionável do ex-presidente Lula — impedindo a  um candidato favorito o direito de se candidatar e consequentemente vencer a eleição — aceitou o cargo de ministro no governo que ele indiretamente ajudou a eleger, sob a condição de ser nomeado para o Supremo Tribunal Federal (STF).

Ver um homem que foi idolatrado por ser uma espécie não de juiz, mas de justiceiro contra corruptos, ao lado de um presidente atolado em suspeitas de mal feitos na política, junto com seus filhos e de vários membros do governo, não deveria surpreender ninguém. A política é tradicionalmente o fórum das elites, e todos eles têm missões a cumprir em nome da manutenção dos privilégios de uma casta de sanguessugas das riquezas nacionais.

O Brasil já foi definido certa vez, em meados dos anos 70, como Belíndia pelo ex-presidente do BNDES, Edmar Bacha. Uma pequena Bélgica de riqueza e prosperidade cercada por uma Índia de falta de recursos e pobreza (daquela época). E os habitantes desta Bélgica imaginária precisam fazer de tudo, nem que seja destruir a própria Belíndia, desde que isso signifique a manutenção de todos os seus privilégios.

Eles sabem que a riqueza de um país é finita, tem um limite, e para que eles possam usufruir das benesses do capitalismo, precisam manter em vigor a maior característica do próprio capitalismo: a brutal desigualdade sócio-econômica, que gera tais privilégios.  Afinal, eles sabem que qualquer melhoria na distribuição de renda, riqueza e conhecimento significaria menos privilégios e mais concorrência para as classes privilegiadas. Como é, de fato, em qualquer país desenvolvido, onde as desigualdades são menores por conta da melhor distribuição de renda. Mas, no Brasil, nossas elites querem o atraso. Atraso é desigualdade e desigualdade é privilégio.

A destruição por que vem passando o Brasil de 2016 pra cá tem muito a ver com essa questão. E também tem muito a ver com Sérgio Moro e Jair Bolsonaro.

Hoje está cada vez mais clara duas características principais da Lava Jato de Sérgio Moro: uma aliança de juízes e promotores brasileiros com a agenda estadunidense de destruição econômica do Brasil, através da condenação e inviabilização de algumas das maiores empresas brasileiras com destaque  internacional — a JBS, a Odebrecht e demais empreiteiras, a Petrobras, e etc —, e condenação e prisão do presidente Lula.

A hegemonia petista conquistada em sucessivas eleições ameaçava, aos olhos das elites, a manutenção das velhas estruturas de privilégios da Belíndia. Principalmente a longo prazo. Dois fatores foram decisivos: a entrada, cada vez maior, promovida pelos governos petistas, de negros e pobres nas Universidades, tradicional núcleo de ascensão social em benefício das classes médias brancas brasileiras. E segundo, a conversão de 75 por cento da arrecadação do pré-sal para investimentos na melhoria da Educação de modo geral. Isso foi demais para as classes privilegiadas.

A Lava Jato cumpriu o seu papel de liquidar a reputação do maior partido brasileiro, o PT, mas como efeito colateral indesejado, também levou junto os tucanos, tradicional legenda burguesa nacional.

As elites não se fizeram de rogadas, e, para manter e até ampliar os ganhos econômicos às custas da maior pauperização da maioria, fizeram as alianças que levaram um capitão medíocre, imbecil, preconceituoso, boçal e nanico do baixo clero político à cadeira presidencial.

Para o mercado e o setor financeiro em geral, bem como às classes ricas e privilegiadas, tais características lamentáveis pouco importam, desde que se cumpra a agenda econômica que permita, justamente, a manutenção/ampliação dos seus privilégios indevidos. A política econômica neoliberal levada a ferro e fogo pelas mãos do xerife do capitalismo, Paulo Guedes, é apenas o que importa para esses gangsteres sem escrúpulos.

Como conseguem emplacar seus candidatos? Desde sempre, através do engano, da manipulação, das mentiras, em resumo, das famosas fake news. A Justiça, outra superestrutura do Estado burguês onde se acomodam as elites privilegiadas, já decretou sigilo a respeito das investigações da influência das fake news no resultado destas últimas eleições até 2022. Faz parte da aliança das altas classes em favor de si mesmas, que também levou Sérgio Moro para dentro do governo em troca de uma vaga no STF, onde ele mesmo no futuro poderá atuar em favor destes interesses.

E assim o Brasil vai caminhando, através de uma série de sabotagens, golpes e destruições, tudo para que uma pequena fatia da população possa usufruir dos bens e das riquezas da nação, para os quais não contribuíram para gerar através do trabalho.

Nosso único alento é que essas coisas não são novidade na história mundial. E que também não é raro que muitos deles de repente tenham seus pescoços decepados, sejam colocados em paredões de fuzilamento ou campos de trabalho forçado por um povo cuja paciência foi testada ao limite. A história mostra que toda vez que há tensionamentos em qualquer sociedade, também há rupturas. Algumas elites de nações hoje desenvolvidas foram inteligentes durante os últimos séculos e cuidaram para que nunca se chegasse a esse ponto. Outras não, e sofreram com revoltas, violências e revoluções.

E agora, uma população que, graças ao governo, além de revoltada, pode estar armada...






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