O atentado de Trump contra o Irã do ponto de vista das mídias ocidentais



O ano de 2020 começa prometendo, e de forma preocupante. Pois aquele governante que tem a imagem internacional de mantenedor da ordem e da paz mundiais, foi justamente quem provocou um atentado terrorista de Estado contra o comandante militar de outro país. Donald Trump autorizou o ataque de mísseis que matou o general iraniano Quasem Soleimani no último dia 3, em Bagdá, Iraque.

A partir de então, o mundo entrou em estado de alerta contra uma possível Terceira Guerra Mundial. O Irã não é apenas mais um país qualquer do Oriente Médio que detém a quarta maior reserva de petróleo do mundo; ele é aliado de dois pesos-pesados da geopolítica internacional: China e Rússia.

Não é difícil prever uma escalada de ataques que desemboque realmente numa guerra global. O Irã possui meios de retaliar os Estados Unidos no Oriente Médio, bastando pra isso atacar algumas das dezenas de bases militares estadunidenses na região, provocando novo contra-ataque ianque, ao ponto em que alguns dos grandes aliados iranianos se coloquem a disposição para auxiliar os persas no conflito.

Poderíamos aqui fazer uma análise geopolítica do ataque estadunidense ao Irã, sua relação com o possível, porém improvável processo de Impeachment do presidente Trump; poderíamos até fazer uma especulação, sobre o ataque ter sido provocado já no conhecimento da iminência da queda de Trump, ou seja, os Estados Unidos fariam um estrago com o atentado, mudariam de presidente, pediriam desculpas ao povo iraniano e fingiriam mudar a política estadunidense na região. Ou poderíamos ir pelo caminho do ataque como o último suspiro de um império já em franca decadência econômica, política, tendo a força militar como o último bastião de sustentabilidade.

Mas vamos por outra abordagem, pra variar um pouco.

Vamos falar do papel lamentável da mídia ocidental, incluindo a brasileira, na cobertura desse atentado terrorista de Estado.

Nos Estados Unidos, "especialistas" são convidados em programas de TV para opinar, e chegam a afirmar, conforme demonstrado num dos vídeos do canal do youtube "Meteoro", que o ataque se justificou porque o general Soleimani estava fora do seu país, então boa coisa ele não estava fazendo.

No Brasil, o principal veículo de comunicação, as Organizações Globo, chegou a colocar o presidente sírio Assad na história, chamando-o, obviamente de "ditador", para falar do regime iraniano. A seguir fez diversas análises das consequências negativas do atentado, sem uma vez sequer apontar a causa, ou seja, o tresloucado ato terrorista dos Estados Unidos.

Diversos líderes mundiais seguiram pela mesma linha. Pediram calma e cuidado nos desdobramentos do ataque, sem mencionar ou condenar a ação unilateral dos estadunidenses.

Dá para imaginar se, por exemplo, a Coreia do Norte tivesse praticado um ataque preventivo contra as forças israelenses, como a abordagem midiática seria totalmente diferente?

É por essa razão que nenhuma mudança estrutural no planeta, uma mudança ideológica, social e econômica poderá ocorrer enquanto a mídia burguesa tiver o monopólio da informação.

E pouco ajuda também os sempre lamentáveis liberais trotskistas apoiarem o ataque como se fosse aquilo que a propaganda estadunidense diz que é: um ato contra o autoritarismo e o obscurantismo, em nome da democracia e das liberdades. Somente tolos podem cair nesta esparrela.

Nessas ocasiões, as mídias ocidentais, capitalistas, empresariais, se tornam o comitê de propaganda do Império, sendo porta-vozes do governo e ajudando a propagar a versão oficial dos fatos, de maneira acrítica, submissa, contribuindo para a desinformação de milhões de cidadãos pelo mundo.

É preciso tomar do grande baronato o monopólio da informação, seu maior instrumento não-violento de persuasão da ideologia burguesa dominante.





Comentários

Gostou do blog e quer ajudar?

Você também poderá gostar de:

Comunistas não podem usar iPods ou roupas de marca?

Qual é o termo gentílico mais adequado para quem nasce nos Estados Unidos?

Singapura, exemplo de sucesso neoliberal?

O mito do livre mercado: os casos sul-coreano e japonês

CBF reconhece o título do Flamengo de 1987. Como se isso fosse necessário