Brasil corre o risco de virar o grande fazendão de bananas do mundo




 Muitas pessoas podem acreditar que a rápida marcha rumo à desindustrialização por que vem passando o Brasil é um processo natural e até desejável, numa época que alguns cientistas sociais vêm chamando de era pós-industrial

No entanto, a perda de nossas fábricas e de várias multinacionais que aqui produziam nos últimos anos é algo muito grave, que tem causa na falta de estratégia nacional e política econômica equivocada, resultando na perda de importância e competitividade da nossa economia perante o mercado mundial, nos deixando também mais longe dos países desenvolvidos e do próprio futuro, realçando nossa velha vocação de grande fazendão do mundo, mero produtor de matérias-primas. 

No entanto, as explicações das causas desse processo variam bastante, e são, muitas vezes, contraprodutivas, cretinas e tendenciosas. Vamos começar por essas. 

Ontem o jornal O Globo publicou, na sua edição impressa, uma reportagem sobre a fuga de multinacionais do país. Ao todo, foram 15 nos últimos 2 anos, uma média de uma megaempresa estrangeira — como a Mercedes-Benz, a Sony e a Nikon — a cada três meses. 

O ambiente de negócios, marcado pelo complexo sistema de impostos, incerteza jurídica, instabilidade política que afeta o câmbio e eleva juros e riscos (...), deficiências crônicas de infraestrutura e (...) estagnação da economia.

Segundo a publicação, estes fatores acima, chamados de "Custo Brasil", foram os responsáveis pela debandada de grandes empresas e o fechamento de tantas outras. 

Por conta disso, a publicação defende como solução aplicar com ainda mais ortodoxia o receituário neoliberal que vem sufocando o mercado de trabalho no país, consequentemente o poder de compra das famílias. 

Uma atitude burra, porque produzir num país de desempregados, vítimas das políticas de austeridade financeira, não fará ninguém comprar mais carros, e isso fará empresas fecharem suas portas, produzindo mais desemprego, num ciclo de ultraliberalismo que os eleitores já tinham rejeitado nas últimas quatro eleições limpas que tivemos desde 2002. 

Esse sistema só voltou a vigorar agora graças a um golpe branco no parlamento em 2015ve à campanha vil de uma imprensa vendida, que agora se diz preocupada com os rumos que o genocida que ela ajudou a eleger ditam ao país.

Mas, voltando à publicação, o jornal dá voz a um especialista — mais um dos "especialistas" que apenas reforçam a ideologia dominante — que argumenta basicamente que, já que a indústria pesada brasileira está indo para o beleléu, era hora de oportunizar a ascensão da grande estrela brasileira da economia: o agronegócio!!

Acredite se quiser... Num momento em que a China, maior mercado consumidor parceiro do Brasil, deixou de comprar soja brasileira e que o presidente da França rasga o conceito de economia complementar, sugerindo à Europa que produza sua própria soja, além de vários outros países consumidores estudarem sanções ao Brasil por conta do aumento da área de florestas devastadas para a criação de gado, me vem um gênio propor a aposta no agronegócio!!

Segundo Paulo Vicente, professor da Fundação Dom Cabral, "vamos virar um país agro-industrial"(?!). Por um passe de mágica, vamos deixar de exportar produtos in natura sem valor agregado e passar a produzir aqui os produtos derivados desses insumos, gerando empregos locais. Resta saber se ele combinou com os países consumidores se eles aceitam mudar o status do agronegócio brasileiro em detrimento de suas próprias indústrias nacionais.

Tudo isso mostra como a mentalidade do Brasil ainda está vinculada à era colonial e velhos preceitos da teoria smithiana: o Brasil não deveria apostar em indústria de ponta, pois sua "vocação" é fornecer matérias-primas, onde tem o domínio do mercado. 

Quem pensa diferente é o economista sul-coreano Ha-Joon Chang, alarmado com o mais acelerado processo de desindustrialização da história da economia mundial que acontece no Brasil. Não é um processo estratégico, pensado, como a substituição gradual do setor industrial para o de serviços, que acontece nos países desenvolvidos: é meramente uma derrocada da economia fruto de apostas em teorias econômicas equivocadas. 

Segundo o professor, o Estado brasileiro deveria jogar no lixo a teoria ultraliberalizante do neoliberalismo, intervindo diretamente na economia para resguardar a competitividade das indústrias nacionais, protegendo-as com tarifas altas de produtos importados e subsídios que favorecessem seu crescimento, até que estivessem prontas para competir de igual para igual no mercado livre mundial. Pois foi exatamente assim que todas as economias desenvolvidas do mundo de hoje fizeram com suas empresas

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Para saber mais, leia: 

  1. O caso inglês
  2.  Os casos sul-coreano e japonês
  3. Os Estados Unidos.

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Somente quando o Brasil abandonar de vez as políticas criminosas de arrochos e austeridades que só recaem nas costas do trabalhador, o Brasil poderá pensar em "gastar" dinheiro em áreas importantíssimas para o desenvolvimento de qualquer economia mundial: as áreas de pesquisa, desenvolvimento e inovação, tidas como desperdício pelos preceitos do neoliberalismo, mas que podem tirar o Brasil da era pré-moderna em que as políticas econômicas deste governo nos meteram.





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