Monark e os riscos do liberalismo levado às ultimas consequências

 

Monark era apresentador do Flow podcast

A fala do podcaster e youtuber Bruno Aiub, mais conhecido como Monark, no último episódio do Flow (recentemente retirado do ar), defendendo o direito dos nazistas se organizarem num partido legalizado no Brasil teve repercussão negativa gigantesca em diversas parcelas da sociedade. Seu comentário custou a perda de diversos patrocinadores, o pedido para que diversas entrevistas fossem retiradas do ar pelos próprios entrevistados e o seu próprio desligamento do programa. 

Monark quis exercer uma espécie de liberdade incondicional e inconsequente, ao emitir uma opinião esperando que não houvessem maiores consequências. Afinal, como autodefinido ancap que é, acredita que qualquer tipo de cerceamento de liberdade de opinião é uma interferência indevida de algum órgão controlador do Estado malvado sobre o indivíduo e suas supostas prerrogativas legais. 

Prerrogativas de liberdade absoluta que ele acredita piamente ─ conforme já deixou evidente em diversas opiniões ─, existir nos Estados Unidos da América, em contraposição a um suposto controle e cerceamento de direitos que existiria nos países socialistas. Para Monark e uma parcela significativa das classes médias brasileiras, os Estados Unidos são vistos como o bastião dos direitos individuais e da liberdade de empreender, enriquecer e de se expressar livremente, onde as pessoas são soberanas para poder exercer a ideologia politica que lhes aprouver sem sofrer nenhum tipo de perseguição ou censura estatal — este, o grande inimigo das liberdades, segundo esses defensores do ultraliberalismo. 

O sociólogo Jessé Souza já tinha demonstrado essa característica absolutamente alienada de nossas classes médias e elites, completamente apaixonadas por tudo que venha do país do norte, mesmo que seja pura propaganda ideológica e falsa. Como consequência, há uma vontade de aplicar aqui no Brasil os supostos preceitos de liberdade incondicional que existiriam nos Estados Unidos. 

Naquele país, por sinal, manifestações de neonazistas ostentando suásticas pelas ruas são permitidos, o que certamente influenciou a opinião de Monark. 

Daí, na cabeça tonta dos liberais, o liberalismo iluminista deveria dar um passo além de suas garantias individuais com restrições, permitindo às pessoas trabalharem e defenderem as posições que quiserem, mesmo as consideradas criminosas e ilegais.

Monark nunca trabalhou como um assalariado comum, alcançou o sucesso como gamer passando quase o dia inteiro na frente de um computador, jogando jogos online e postando videos nas redes sociais. Na sua concepção, isso só foi possível devido a seu empreendedorismo e a sua total liberdade, onde o Estado pouco ou nada contribuiu, sendo, pelo contrário, um empecilho às suas realizações. Quando ganhou voz num programa de entrevistas, trouxe consigo essas opiniões totalmente deturpadas sobre liberalismo. 

Por tudo isso, não acredito que Monark seja um defensor do nazifascismo, como vem sendo acusado. É apenas um jovem imbecil, como ele mesmo admite nas entrevistas, que segue o senso-comum que credita ao ultraliberalismo o seu sucesso. 

Agora, vai aprender didaticamente na prática que liberdade de expressão demanda responsabilidades, pelas quais agora terá que responder. 





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