O jogo virou: Bolsonaro exposto e encurralado pelas pautas morais

Bolsonaro no templo maçônico surpreendeu negativamente os evangélicos

Em 2018, na campanha eleitoral para presidente da República, o campo da esquerda estava vivendo momentos muitos difíceis, totalmente na defensiva diante de ataques que partiam de todos os lados. Do judiciário, o lawfare criminoso de Sérgio Moro que mandou prender Lula sem provas; das Forças Armadas, cuja tradição golpista de atacar candidaturas populares jamais falha, que ameaçava intervenção no Supremo, caso Lula pudesse ser candidato; das mídias, numa cobertura que transformou a perseguição jurídica ao PT num show de TV com capítulos diários; e por fim, e este o episódio mais sintomático daquelas eleições, a campanha massiva de disparos de robôs no Twitter e no whatsapp, com conteúdo falso sobre o PT, que contou com o financiamento de milhões de Reais de empresários e induziu uma parte da população a acreditar em bizarrices como mamadeira de piroca e kit gay nas escolas pra votar contra o PT. 

As esquerdas negligenciaram durante muito tempo o potencial das redes sociais na internet, deixando o campo aberto para o lado conservador dominar este terreno. Durante anos eles se infiltraram em portais, canais de youtube, páginas, perfis e principalmente publicidade paga para aparecer aos olhos do eleitor conectado. Com isso, muitos dos ataques às esquerdas foram disseminados, ficaram sem resposta e viraram "verdades" repetidas quase que automaticamente pelas ruas. 

O Supremo Tribunal Federal também demorou a reagir, pela novidade do fato jurídico e falta de uma jurisprudência — devem os órgãos de fiscalização eleitoral intervir em notícias propagadas em mensagens privadas? Estas empresas, Twitter, Facebook, Whatsapp são mesmo privadas, ou suas características especiais as tornam passíveis de legislação como órgãos públicos? 

Diante da hesitação de uma definição, as chamadas fake news correram soltas naquela eleição. E como é tradição no campo conservador, o debate fugiu das propostas políticas para recair sobre agenda moral, ou pauta de costumes

Nesse cenário é que vimos a chamada cartilha gay nas escolas e a mamadeira de piroca alarmar os evangélicos — ambas notícias absolutamente falsas, mas que se alastraram como verdades nas bolhas conservadoras das redes sociais. Além disso, o mantra "O PT roubou" ou "Lula roubou" estava na boca do povo, embora ninguém soubesse dizer exatamente o que foi roubado, quando e onde. 

Mas não importa, o estrago estava feito e Bolsonaro fora eleito. 

Passados quatro anos, estamos vivendo mais uma vez um processo eleitoral. Mas o cenário está um pouco diferente. 

Primeiro, o Supremo já há algum tempo passou a reagir com mais firmeza à disseminação de notícias falsas. Alexandre de Morais é a figura de proa que vem barrando diversos episódios de fake news, e com a exposição tem sofrido diretamente o ódio dos bolsonaristas, ajudando nisso a dispersar os ataques bolsonaristas ao PT em outros focos. 

Segundo, desta vez a esquerda estava mais preparada para o jogo sujo. Especialmente neste segundo turno. 

André Janones, por exemplo, se colocou estrategicamente como para-raio dos ataques bolsonaristas, ao mesmo tempo atacando e sendo alvo dos ataques, poupando o PT das campanhas de mentiras. 

Além disso, internautas passaram a trazer à baila antigos depoimentos de Jair Bolsonaro. Um trabalho de pesquisa e seleção das enormes verborragias escatológicas que saíram da boca do então deputado não seria uma missão muito difícil. E de fato começaram a aparecer pérolas da mais fina chulice com selo bolsonarista de qualidade. 

E o detalhe: tudo filmado, falado pelo próprio, e não fake news de whatsapp: 


Ainda há aqueles puritanos da esquerda limpinha e liberal que torcem o nariz para este "contra-ataque". Querem ser os baluartes da conduta ética mesmo que o jogo sujo do outro lado nos custe uma derrota nas eleições. São aqueles que D. Losurdo definia como "marxistas ocidentais", sendo que neste caso nem sequer marxistas são! 

O que se conclui disso é que a esquerda aprendeu a reagir. Cresceu nas redes, responde aos ataques na mesma moeda, saiu da defensiva e colocou Bolsonaro em situação de ter que se explicar. E também desceu o nível para discutir pautas morais com os porcos no chiqueiro. Depois de vencida a guerra, podemos voltar à decência devida, mas agora, é fogo contra fogo. 

Um fenômeno interessante também tem sido o crescimento e aparecimento do marxismo-leninismo entre os jovens da internet, fenômeno muito interessante que discutiremos no próximo post. 





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