PSOL em crise e dividido é o retrato das esquerdas no país.

O 2º Turno terminou, mas deixou grandes estragos no PSOL, acentuando divergências que vinham desde as convenções nacionais.

Depois de seis anos de existência, o PSOL rachado e em crise é o retrato das esquerdas no Brasil ao longo da história política recente. Uma esquerda sectária, desunida, sem rumo, incapaz de dar as mãos em torno de um projeto maior. Desde as convenções nacionais, o partido vinha apresentando uma série de divergências internas incontornáveis, mais pela falta de maturidade e visão de futuro do que por questões realmente importantes.

Heloísa Helena teve um ano pra esquecer. Primeiro, se recusou a fazer campanha para o candidato que venceu as convenções do partido, Plínio de Arruda Sampaio, após divergências que levaram a acusações de parte a parte. Heloisa apoiava outro candidato internamente. Pior: antes das convenções, simpatizava com uma aliança entre o PSOL e Marina do PV, numa demonstração de que não entendera o processo que levou o Partido Verde já há algum tempo  a uma guinada para a centro-direita da política. Ensaiara uma inocente aliança em torno da candidata. Teve que recuar quando o PV preferiu fechar aliança com os conservadores DEM e PSDB no Rio. Depois, sua atitude radical de contestação ao governo Lula levou a sua candidatura ao Senado por Alagoas a afundar, abrindo espaço para que o Estado elegesse dois candidatos conservadores. A gota d'água veio no segundo turno das eleições presidenciais. Alguns membros do PSOL, muito acertadamente, defenderam o "voto crítico" em Dilma, percebendo que um governo demo-tucano seria muito mais danoso ao país. Heloísa Helena discordou veementemente e resolveu se afastar da presidência por não concordar com tal medida.

Ora, numa disputa em que tínhamos um projeto neoliberal de um lado, e de outro um claramente mais voltado para o social, você defender o voto nulo, é você ter uma visão estreita, limitada da política. Infelizmente a Heloísa Helena não foi capaz de enxergar que indiretamente contribuiu para que o Serra sonhasse com a presidência até o fim, ao achar que um voto nulo é um voto neutro. Em certas ocasiões da política devemos ser pragmáticos, votar no "menos pior" e cobrar deste um compromisso com propostas sociais. Mas não, a visão sectária e radical de HH, impediu-a de entender a questão por este ângulo, contribuindo para um racha interno no partido e na sua renúncia da presidência. O mesmo radicalismo que impediu a eleição da deputada Luciana Genro no Sul, pois uma aliança com outros partidos da esquerda poderia tê-la feito entrar pelo critério do coeficiente eleitoral.

Este sempre foi o problema das esquerdas no mundo, que se reflete no Brasil em cada ano de campanha eleitoral. Comunistas, socialistas, anarquistas, social-democratas... todos eles são incapazes de se unir em torno de um projeto de governo, maior, preferindo picuinhas teóricas, inviabilizando alianças por conta de questões menores. São incapazes de admitir que um primeiro passo pode ser dado aos poucos, por exemplo ajudando a derrubar um governo neoliberal, apoiando outro, mais progressista. Quando resolvem colocar PT e PSDB no mesmo saco, contribuem para se afastar da realidade política, vivendo de sonhos e utopias que não contribuem em nada para o Brasil de hoje. 

As esquerdas do país têm muito o que aprender com a direita neste ponto. Na hora da crise, do aperto, ou de derrubar um projeto rival, eles se unem, deixando de lado suas divergências momentâneas. Infelizmente Heloisa Helena foi o retrato fiel desta esquerda radical.





Comentários

  1. Concordo. Foi incrível assistir à decadência da HH nas eleições aqui em AL, passando aparentemente da vitória certa a um terceiro lugar vergonhoso. Eu pessoalmente não sou à favor de radicalismos. Nem sempre a melhor opção é a opção possível. As melhores atitudes são aquelas que trazem os melhores resultados práticos. A teoria deve levar à prática, a prática deve levar à teoria. Alguns chamariam a política de corrompida sobre esse ponto de vista, do voto no "menos pior". Eu chamaria de voto consciente. O que não significa que abro mão das minhas convicções, ou que não as tenha. Mas que as quero possíveis um dia, e não lindamente vivas na minha imaginação.

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