Mais um policial morreu. Culpa dos Direitos Humanos?

PM-Rodrigo-de-Souza-Paes-LemeNa noite da última quinta-feira (7/3) o soldado da polícia militar Rodrigo de Souza Paes Leme (imagem ao lado) foi morto com um tiro no peito durante patrulhamento no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. É o décimo soldado morto desde 2009, ano de criação da primeira Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) e o quarto só nos últimos 5 meses em regiões ditas “pacificadas” pelo Governo do Estado, o que mostra um aumento significativo do número de PMs mortos nos últimos tempos.

A partir de mais esse episódio lamentável de violência, começaram a surgir críticas por parte de alguns internautas nas redes sociais à atuação dos defensores dos Direitos Humanos. De alguma forma, algumas pessoas, levadas pelo calor dos acontecimentos e por uma constante incapacidade de discernimento que permeia a opinião pública brasileira – sempre raivosa, sempre ignorante dos fatos, quase nunca ponderada ou coerente –, quiseram colocar na conta dos “Direitos Humanos” (tida sempre como uma entidade abstrata) a morte do soldado. A “base” para esse tipo de ideia absurda, é o clichê que se espalha pela sociedade, de que “Direitos Humanos são para defender bandidos”. Mas isso é verdade?

É claro que não. Quem reproduz esse tipo de falso senso-comum, é apenas mal informado, porque acha mais cômodo repetir o que escuta do que pesquisar sobre o que fala, ou mal intencionado, no intuito de jogar uma cortina de fumaça nos verdadeiros problemas de violência do país. O que os partidários dos Direitos Humanos defendem é um tratamento igualitário e universal para todos, não importando se o crime é cometido por um negro pobre, um negro rico, um branco pobre, ou um branco rico. Todos têm direito à sua integridade física. Não devemos nos satisfazer com torturas e matanças como solução de nossos problemas. Principalmente quando elas têm como alvo uma determinada fração da sociedade, aliviando outras. E nesse caso, também me refiro a policiais, tão vítimas da violência quanto aqueles que julgam defender.

Achamos perfeitamente aceitável que agentes do Estado tenham autorização para violar os corpos das pessoas, que possam torturar seres humanos sob a guarda do Estado, sob o pretexto de que se tratam de criminosos. Os bandidos, por sua vez, têm ficado cada vez mais violentos, porque perceberam que é melhor matar ou morrer do que cair nas mãos da polícia. Os que têm passagem pelas penitenciárias sabem o que é o inferno, e isso atacam os policiais sem medo, repetindo a lógica da violência que vitimou o soldado Rodrigo. As autoridades, por fim, sempre procuraram manchar a atuação daqueles que criticavam essa violência de parte a parte e a tortura policial, tachando-os como defensores de criminosos. A quem pode servir essa tática?

Certamente, às camadas superiores e privilegiadas da sociedade. Além de poderem viver em regiões afastadas das zonas pobres onde acontecem  os conflitos armados, elas têm na instituição policial o seu cão de guarda particular há décadas para apaziguar os pobres (mesmo que para isso precisem lançar mão da brutalidade). Sem mencionar que os próprios membros desse grupo, por mais graves que sejam os crimes que possam cometer, jamais correm o risco de serem eles as vítimas das barbaridades patrocinadas pela violência do Estado – a não ser por engano. Essas pessoas são imunes a torturas, ameaças de morte, assédio moral, abuso sexual, cadeias superlotadas, porque fazem parte das distintas classes médias brancas, longe das garras de atuação da polícia. Por que então elas se preocupariam se outros seres humanos (que, na verdade, elas julgam ser uma ameaça à sua própria segurança) estariam sofrendo esse tipo de tratamento? E mais: alguém acredita que essas pessoas estão sequer preocupadas com a morte de mais ou menos policiais em serviço? Os defensores dos Direitos Humanos se preocupam – e isso incomoda até quem deveria se sentir representado por eles, tamanha é a força do senso-comum.

Enquanto as pessoas menos informadas vão fazendo coro com esse menosprezo pelos Direitos Humanos, policiais vão continuar matando e morrendo, bandidos vão continuar matando e morrendo e a violência só vai aumentar. Porque elas vão continuar desviando o foco de sua atenção dos verdadeiros culpados pelas mortes em operações policiais em áreas carentes. Quem mantém esse tipo de estratégia do confronto? Quem coloca policiais recém-formados para atuar dentro de uma zona de perigo? Quem achou que as UPPs eram a solução dos nossos problemas? Quem apoia o olho por olho nos casos de mortes em confrontos? Certamente não são os defensores dos Direitos Humanos. É só pensar um pouco.





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