Fuga de talentos do futebol brasileiro

Fuga de talentos do BrasilMuitos dos países hoje bem-sucedidos se fizeram ricos pela criatividade do seu povo e um bom projeto de nação: enquanto a aposta no recurso humano é visto em países mais atrasados na corrida econômica como “despesa”, nos países mais adiantados, é visto como investimento. Mas, apesar disso, muitos deles receberam uma mãozinha de estrangeiros para se consolidar, atraindo-os para suas universidades e empresas.

Junto com o indivíduo que deixa um país, vão projetos, ideias, descobertas e realizações que vão prosperar bem longe, em favor de terceiros. É um dos efeitos colaterais da globalização.

São conhecidos os casos de cientistas refugiados que, em troca de exílio, passam a trabalhar para o governo que os acolhe. Ou então, a pura e simples busca de melhor infraestrutura, status e principalmente, melhor remuneração – há diversos cientistas brasileiros trabalhando nas maiores universidades do mundo, quando poderiam muito bem estar trabalhando aqui, formando novos alunos ou desenvolvendo pesquisas inovadoras para o Brasil. Mas em época de Copa do Mundo, o que mais chama a atenção neste momento é a fuga de talentos do futebol nacional para o exterior.

Cada vez mais jovens, os atletas brasileiros procuram uma transferência internacional. Oriundos das camadas mais pobres da sociedade, são vítimas em potencial de aliciamento por parte de empresários espertos. A controversa Lei Pelé, em meados dos anos 90, foi festejada como o fim da escravidão no futebol brasileiro ao acabar com o passe, mas, por outro lado, criou-se um eufemístico “direito federativo” que escancarou as portas do neoliberalismo no futebol. Com isso os empresários dominaram a cena. Eles criaram clubes fictícios para terem jogadores, já que pessoas físicas não podem possuir os direitos federativos dos atletas, e colocaram os clubes formadores pra escanteio.

Na nossa atual seleção, muitos jogadores fizeram seus nomes lá fora antes mesmo de despontarem num grande clube nacional. São os casos, por exemplo, de Hulk, Luiz Gustavo, David Luiz e William. Valendo atualmente milhões de euros, estes jogadores brilham nas principais ligas de futebol do mundo (e outras nem tão badaladas assim), enriquecendo os clubes estrangeiros, dando audiências a TVs estrangeiras, enquanto nosso campeonato brasileiro sofre com um nível técnico bastante abaixo do que representa o país pentacampeão mundial.

O Brasil é a sétima economia mundial atualmente. Como pode perder jogadores para mercados bem mais modestos, como o da Turquia, do Oriente Médio ou da Ucrânia?

Pelo menos parece que recentemente tem havido um movimento de atletas e do governo federal, com a adesão de alguns clubes (e não todos, o que é lamentável) para resgatar a capacidade financeira do futebol brasileiro. A fuga de talentos faz mal para a economia do país, seja na área tecnológica, científica ou futebolística. Na divisão internacional do trabalho, não podemos aceitar uma suposta vocação para o fornecimento de matéria-prima e recurso humano, deixando a organização e a realização final nas mãos de “países mais capacitados”. É assim que fornecemos bananas e consumimos produtos com valor agregado mais caro produzidos lá fora, como tecnologia, por exemplo. E é assim que assistimos pela TV nossos craques brilharem nas organizadas ligas estrangeiras.

Em vez de fornecermos o material bruto no futebol (no caso, os atletas) para o mercado internacional, como fazemos com nossos produtos primários como a soja, a laranja e o petróleo, que vendamos o produto acabado, ou seja, um campeonato brasileiro forte, atrativo, repleto de craques nacionais. Temos de parar de colocar azeitona nas empadas alheias.





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