Por que um técnico estrangeiro

pep guardiolaAlgumas pessoas envolvidas no recente debate acerca do futuro do futebol brasileiro, de má-fé ou não, andam dizendo por aí que a seleção brasileira não precisa de um técnico estrangeiro. Na verdade, um técnico de fora seria até danoso ao estilo do nosso futebol, já que eles costumam limitar o talento individual em nome do coletivo.

Interesses particulares envolvidos ou não, creio que elas estão redondamente enganadas.

A necessidade de um técnico de nível estrangeiro não se dá por este motivo. Não precisamos de alguém que limite o futebol moleque dos nossos jogadores nacionais. Também não é um caso de trazer um técnico meramente por ele ter um passaporte diferente, de sucesso reconhecido internacionalmente, ou outro fator. A realidade é que as pessoas andam cogitando um técnico de fora, porque já identificaram a completa defasagem tática dos nossos principais técnicos nacionais.

Não existe um único técnico brasileiro, atualmente, reconhecido por montar uma estratégia de jogo com variações táticas, mudança de jogo de acordo com o perfil do adversário, entre outras coisas que cansamos de ver lá fora. Inclusive aqui do lado, entre nossos vizinhos sul-americanos, repletos de técnicos gabaritados nesses quesitos. O futebol brasileiro, por outro lado, caiu numa mesmice tão assustadora que, cada vez mais, confia-se no talento individual de alguns craques para resolverem uma partida. O problema é que eles já não são assim tantos – na seleção atual, só Neymar com 22 anos tem a responsabilidade de resolver sozinho – e além disso, quando eles não jogam, a seleção não funciona, expondo as fragilidades da armação do time no plano tático, como ficou evidente naquela humilhante derrota para a Alemanha.

O futebol brasileiro teve seus melhores momentos com a união de talento com armação tática. Foi assim em 58, 70, 82, 84 e 94, para ficar nos exemplos mais óbvios. Para voltar a brilhar, é preciso, primeiro, resgatar a fábrica de talentos brasileiros (os clubes) que andam perdendo seus valores cedo demais para empresários beneficiados com a Lei Pelé. E segundo, contratar um técnico estrangeiro que possa deixar no país uma filosofia de jogo como Pep Guardiola deixou recentemente nas seleções da Espanha e da Alemanha, embora de forma indireta. Curiosamente, um técnico que sempre fez questão de se dizer um admirador inspirado no futebol brasileiro. E assim, implantando um modelo de cima, aproveitando os talentos de baixo, talvez possamos chegar em 2018 com a missão de recuperar a imagem arranhada que a seleção brasileira deixou no mundo.

Encerramos aqui as postagens especificamente voltadas para o futebol e a Copa do Mundo.





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