Mídia tira trunfo do PT, mas o partido revida com corrupção

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Uma das situações mais interessantes nesta campanha presidencial está sendo observar as estratégias de confronto nos respectivos comitês de campanha de ambos os candidatos. As pesquisas apontam um equilíbrio que há muito tempo não se via entre dois postulantes à presidência da República, e, por isso mesmo, as duas campanhas partiram para um confronto agressivo de ataques e acusações de parte a parte. O curioso deste embate é que, nas acusações, ambos se apropriaram de armas que tradicionalmente pertenciam aos rivais.

Conforme já havíamos mostrado, tradicionalmente o PT vinha explorando em campanhas anteriores a má fama privatista que o PSDB angariou junto ao eleitorado, tendo como maior trunfo a Petrobras, que os tucanos tentaram, mas não conseguiram privatizar. No entanto, em razão do denuncismo eleitoreiro das mídias tradicionais neste ano, o jogo virou e a empresa estatal virou arma dos tucanos contra os petistas.

Leia: Caso Petrobras: uma tacada de mestre da Globo

O PT corria sério risco de passar toda a campanha do segundo turno na defensiva, sendo bombardeado e tendo que se explicar sobre os maus feitos denunciados numa delação premiada vazada ilegalmente para servir de peça de acusação das mídias. Mas se o PT perdeu a sua maior e mais tradicional cartada, contra-atacou de forma inteligente, e tirou não só dos tucanos, mas de todos os setores conservadores da sociedade, a maior arma historicamente usada por eles contra governos considerados indesejáveis: acusações de corrupção.

PT vira o jogo da corrupção contra os tucanos

Corrupção é um senso-comum que as pessoas não entendem a fundo, mas que já foi usado para derrubar governos através de golpes de Estado ou Impeachment no Brasil. Desde pelo menos o primeiro debate presidencial da TV, a estratégia dos petistas aparece bem definida: virar o jogo das acusações e detalhar os casos de corrupção envolvendo o PSDB tanto no âmbito federal quanto nos governos estaduais, especialmente em Minas e em São Paulo, tradicionais redutos de governos tucanos.

Sempre pairou no ar a ideia de que o PT era um partido essencialmente corrupto. Mas a questão não é bem a corrupção, e sim a sensação de corrupção. Na ditadura militar, por exemplo, existia a sensação de que não existia corrupção, mas hoje a gente sabe que ela estava lá, como sempre, só não podia ser investigada. Exatamente como no governo FHC. Dilma vem lembrando ao eleitor a nefasta figura de Geraldo Brindeiro, o “Engavetador Geral da República”: mais de 4 mil casos de corrupção no governo tucano arquivados solenemente. Além disso, outros casos absurdamente graves que nunca tiveram a devida atenção das mídias: o mensalão mineiro, a compra de votos para a reeleição de FHC, o caso do Metrô de São Paulo, o desvio de verbas da Saúde no governo Aécio em Minas, os aeroportos em terrenos da família de Aécio em Montezuma e Cláudio, a nomeação de parentes do candidato tucano no governo de Minas… Coisas que, surpreendentemente, muita gente só está sabendo agora por causa destas denúncias da campanha petista. O PT se apoderou das armas do inimigo.

Além disso, Dilma tem defendido que seu governo privilegia as investigações e acaba com a impunidade. Agora, as instituições republicanas têm autonomia e poder para investigar e condenar os casos de corrupção, e por isso eles aparecem mais, dando essa sensação de que a corrupção piorou, o que é exatamente o que vem sendo explorado pela imprensa, quando é justamente o contrário disso. A corrupção é um mal que acontece em todas as democracias do planeta em todas as épocas e sempre vai haver, não é uma invenção petista. E os estrategistas da campanha governista vêm tendo sucesso em mostrar isso nos debates e nas propagandas eleitorais, tirando assim das mãos dos tucanos a maior arma de acusação contra os petistas.

Resta saber como os tucanos reagirão ao verem seu telhado de vidro ser bombardeado com as pedras que eles acharam que iriam destruir a campanha rival. Será que foi uma boa ideia trazer esse assunto à baila?  





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