Hoje a direita se acha forte. Mas amanhã há de ser outro dia…

Para aqueles que entraram na conversa pós-moderna, a realidade brasileira prova a cada dia que sim, existe direita e esquerda na política, e que as radicalizações dos setores mais reacionários do espectro direitista afloram ainda um outro conceito que andava meio esquecido: o da luta de classes.

“A cadela do fascismo está sempre no cio”, é uma das frases famosas do genial Berthold Brecht que ganharam popularidade nos tempos de internet. E reflete a mais pura realidade. Os setores mais conservadores, autoritários e reacionários da direita sempre farejam oportunidades de colocar seus preconceitos, sua violência e o seu modo de pensar pra fora, de forma impositiva. E o momento brasileiro é o ideal para isso, segundo pensam.

Com os pilares da democracia enfraquecidos, com as esquerdas acuadas em torno de velhos preconceitos recuperados da época da Guerra Fria, alguns movimentos como o MBL, financiados por partidos de direita e empresários estadunidenses, políticos que fazem o nome defendendo conceitos retrógrados e uma classe média sempre reacionária propõem agendas bizarras ao país.

A área da Educação parece ser o setor preferido dos seus ataques. Depois de chegar ao governo de forma ilegítima. golpista e sem votos, o vice presidente trouxe no seu staff de governo alguns destes elementos. Primeiro, o ministro da Educação que recebeu das mãos de um dos maiores trogloditas da direita, sugestões que vão ao encontro do movimento que se denomina “Escola Sem Partido”. Nem Hitler ou Mussolini poderiam imaginar algo dessa estupidez colossal. E depois, algum funcionário de dentro do governo, do Serviço Federal de Processamento de Dados (SERPRO) teve a petulância de alterar, de forma vil, a biografia do Wikipédia de um dos mais citados, conhecidos e renomados educadores brasileiros. Paulo Freire, que lutou a vida inteira para educar e libertar os oprimidos e cuidar para que eles não repetissem a crueldade dos opressores, foi acusado de ser o pai da “doutrinação marxista” nas escolas, além de ser o responsável por uma legislação que resultou num ensino “atrasado, doutrinário e fraco”. 

Hoje a direita no Brasil se acha forte o suficiente para atropelar a democracia, desrespeitar as minorias, os partidos de oposição, dar golpes de Estado disfarçados de Impeachment legal, perseguir pessoas de esquerda, e etc.  Mas a história mostra que toda ação gera uma reação. A Segunda Guerra Mundial é o exemplo clássico, quando o líder dos nazifascistas do mundo provocou a União Soviética e teve que fugir com o rabo entre as pernas, se borrar nas calças e se matar com medo de ser capturado pelo Exército Vermelho, como seria.

Mas no Brasil mesmo, temos um exemplo muito interessante: o episódio que ficou conhecido como “A revoada dos galinhas-verdes”.

Plínio Salgado era um tupiniquim brasileiro com ilusões de arianismo. Fundou um partido fascista no começo dos anos trinta que era uma cópia caricaturada do partido nazista alemão. Em 1934, juntou de 5 a 10 mil simpatizantes do movimento fascista na Praça da Sé, em São Paulo, para, como sempre, (tentar) imitar a “Marcha sobre Roma”, que levara Mussolini ao poder na Itália.

No entanto, não contavam com a mobilização das esquerdas para enfrentá-los. Anarquistas, socialistas, comunistas e até trotskistas, membros da Frente Única Antifascista, se posicionaram de modo a impedir a manifestação fascista. Depois de um grande confronto que deixou dezenas de feridos e seis mortos, os milhares de fascistas debandaram, jogaram fora suas camisas verdes e saíram correndo. Correndo, ou “voando” como ironizou o famoso Barão de Itararé. Desde então o episódio ficou conhecido como a “Revoada dos galinhas-verdes”.

Duas lições que podemos tirar destes episódios: a primeira, é que quanto mais a direita bota as “asas” de fora, mais a esquerda se reúne, se organiza e reage. E segunda, a democracia é um regime de poder que, apesar de representar a vontade da maioria, deve zelar, principalmente, pela proteção e defesa dos direitos das minorias. Pois se hoje a direita se acha fortalecida a ponto de impor seus conceitos retrógrados a todo o país como um trator, é porque passa por cima da legislação e dos direitos de terceiros. No entanto, como diz a famosa canção de Chico Buarque, “Amanhã vai ser outro dia”. E então, quando neste dia vivenciarmos um crescimento dos ideais de esquerda e de radicalizações, viveremos um momento em que as esquerdas, chegando ao poder, imporão o castigo e a retaliação? Depois não vão pedir clemência, quando, quem sabe hipoteticamente falando, nossas futuras polícias revolucionárias derem tiros, bombas de efeito moral  e efetuarem prisões arbitrárias contra os direitistas e as classes médias que saírem às ruas pedindo…. “democracia”… Do mesmo modo que a polícia burguesa militarizada hoje esmaga todo tipo de manifestação livre das esquerdas.

Também não vão reclamar quando nossos membros de esquerda apoiarem as retaliações dos umbandistas mais radicais, que colocarão abaixo vossas igrejas da intolerância, como hoje os evangélicos atacam terreiros de umbanda impunemente. Quem bateu ontem esquece, mas quem apanhou não.

Quando professores, médicos e funcionários públicos com visões direitistas que manifestarem opinião contrária ao pensamento estabelecido sofrerem retaliações e perseguições, quem poderá reclamar? Quando hoje aplaudem quem é perseguido por expor opinião em defesa de uma outra visão de esquerda.

Ou somos todos democráticos e respeitamos as diferenças, ou vamos para uma batalha campal para impor cada um o seu pensamento radical?

Lembrem Hitler, que se matou pra não ser humilhado como o outro fascista, Mussolini, que terminou perdurado de cabeça pra baixo numa ponte como castigo. Ou lembrem dos integralistas tupiniquins debandando e revoando pela Praça da Sé. Cadelas ou galinhas, os fascistas não passarão jamais.





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