Lula condenado à prisão. Lava Jato encerra último ato de sua ópera bufa

Aécio, o protegido da justiça

Enfim, todo o processo da Lava Jato, que (não) por acaso, começa a ser desmontado com o fim da exclusividade de delegados da Polícia Federal envolvidos nas investigações, chega a seu ápice, sua razão de existência: a condenação do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva a 9 anos e meio por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

E esse foi o resultado de apenas um dos processos, o referente ao chamado “triplex do Guarujá”, a reforma do apartamento feita pela empreiteira OAS que caracterizou a corrupção ora condenada pelo juiz Sérgio Moro.

Lula ainda pode e certamente recorrerá da sentença, mas podemos adiantar aqui, mesmo sem bola de cristal, que perderá também em segunda instância.

Isso não significa que o ex-presidente será encarcerado, sonho de uma parcela da população brasileira que tem verdadeira ojeriza não só ao ex-torneiro mecânico sem o ensino básico completo que chegou ao poder, mas a tudo o que ele representou durante o seu governo: a ascensão de amplas parcelas de miseráveis e pobres ao nível de consumo e de educação, uma população que o sociólogo Jessé Souza provocativamente chamou de ralé, e que historicamente tem merecido o desprezo das camadas sociais de cima.

Não, Lula não será preso. Até pela sua idade, já acima dos 70 anos. Mas para os fins da Lava Jato, isso não importa. O que é realmente importante é a condenação em segunda instância, com previsão de ser analisada daqui entre seis e nove meses, que já seria o suficiente para impedi-lo  de concorrer à presidência da República em 2018, com base na Lei de Ficha Limpa.

O repórter da Globonews, agora há pouco, nem teve a discrição de ocultar as verdadeiras razões do impedimento do ex-presidente. Não foram os lamentáveis mal feitos que Lula infelizmente se envolveu. Segundo disse no ar, ao vivo, o Lula de hoje não é o “Lulinha Paz e Amor” que venceu as eleições de 2002 e 2006. Suas opiniões têm sido bastante contundentes, o que colocaria em risco, segundo alguns analistas, todos os ganhos políticos da burguesia nesse período de vandalismo praticado pelo parlamento e o governo federal contra os direitos dos trabalhadores, e isso estava “assustando o mercado financeiro”.

A confirmação dessa ideia veio logo depois ao anúncio da sentença, com a Bovespa disparando e o dólar caindo vertiginosamente — sinais típicos do “bom humor do mercado”.

Não sei se teremos panelas comemorando a condenação do Lula nas varandas ou passeatas da burguesia verde e amarela na avenida Paulista, pois até para eles existe o constrangimento do descaramento que é a justiça brasileira, com seus dois pesos e duas medidas, dependendo do réu. Há meses o rato que ocupa a presidência da República consegue escapar de todas as ratoeiras colocadas pelo caminho com ajuda essencial de um STF que de vez em quando desarma algumas delas, enquanto o playboy mineiro mais delatado do Brasil, aquele que combina recebimento de propina e que manda matar se o seu testa de ferro for capturado, vai contando com a impunidade garantida especialmente por um correligionário político travestido de ministro do Supremo, pronto a libertá-lo das garras da lei sempre que necessário.

A única coisa realmente positiva de todo esse circo armado com o intuito de tirar o Lula da eleição de 2018 é que assim uma esquerda independente e moralmente isenta de qualquer promiscuidade com esses acontecimentos lamentáveis pode surgir, bater no peito e dizer que o lulopragmatismo, ou seja, o modelo lulista de governar se imiscuindo com o que há de mais podre na política, não cabe a ninguém da esquerda. É imoral e foi um erro. Novas lideranças podem assumir esse vácuo, de uma forma a juntar os cacos de confiança e esperança dos eleitores que o PT quebrou e espalhou por aí, e assim construir uma nova realidade para o nosso país. Aprender com os erros que o PT até hoje se nega a admitir, e saber que a luta de classes não permite concessões ao inimigo, a quem hoje está fraco mas que amanhã, com a sua própria ajuda, pode se reerguer, se virar contra você e te jogar no limbo, que é onde estão hoje Lula e o PT, depois de fazer alianças com quem deveria ter esmagado quando podia.

Façamos do pensamento do polêmico escritor russo Vasily Rozanov um guia nessa era pós-Lula: “das grandes traições iniciam-se as grandes renovações”.





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