O dilema eleitoral de Jair Bolsonaro que o impedirá de ser presidente do Brasil

IMAGEM FODA

Setores dos mais diversos espectros ideológicos do país já se preocupam com a possibilidade do polêmico deputado Jair Bolsonaro angariar um número de votos avassalador nas próximas eleições, algo que lhe permita ter condições reais de se eleger presidente da República. Para mim, no entanto, essa possibilidade não existe.

As chances de Jair Messias Bolsonaro envergar a faixa presidencial no próximo mandato são as mesmas que o outro malucão reacionário defensor da família tradicional e da pátria amada, Enéas Carneiro, tivera antes dele, ou seja, nenhuma.

Para uma pequena parcela da extrema direita brasileira, famílias conservadoras de base católica em fase de extinção, Bolsonaro é sim o seu representante legítimo. Votam nele com convicção e corroboram todos os seus preconceitos.

Para um outro tanto de eleitores, no entanto, o “bolsomito” é uma figura caricata, personagem que uns levam a sério, outros não. Apoiam o deputado porque também são machistas e não gostam de “esquerdistas”, mas essa parcela representa, no que eu posso perceber, jovens de classe média ou jovens da periferia urbana sem instrução e conhecimento político, ou seja, outro pedacinho da fatia do eleitorado.

Mas o que a grande maioria esmagadora de eleitores, aqueles de centro, sem paixões ideológicas exacerbadas sente mesmo por ele é uma tremenda rejeição, que, pela minha percepção, ainda vai crescer muito conforme as pessoas o forem conhecendo melhor.

O dilema: por que Bolsonaro está numa sinuca de bico

Digamos que, tal como Lula em 2002, Bolsonaro resolva contratar um marqueteiro para dar um upgrade na sua imagem negativa. A partir de então, surgiria um Bolsonaro repaginado, suavizado, sem aquele corte de cabelo à la Hitler e com todos os seus comentários fascistas do passado, em cada nova entrevista, relativizados. O que será que aconteceria? Fácil de prever.

Certamente Bolsonaro, nesse caso, ganharia o apoio de alguma parcela do eleitor centrista, mas obviamente perderia muito mais dos seus fiéis defensores radicais da extrema-direita. Talvez a troca não compense.

Então, ele resolve partir para a disputa do jeito que sempre foi, travestido de general anacrônico da Ditadura, um fóssil vivo de épocas vergonhosas. Bom, neste caso, seu pequeno eleitorado orgulhoso se manterá fiel, mas insuficiente para uma vitória, exatamente como Enéas nas três eleições presidenciais que disputou.

Existe alguma chance de Bolsonaro ser o presidente do Brasil?

Eu diria somente se, por uma outra aberração política inimaginável, mas que tomaremos aqui como hipótese, Jean Wyllys surgisse com reais chances de vitória na eleição. Isso porque o deputado do PSOL, homossexual, negro e “esquerdista”, carrega em si mesmo o alvo de quase todos os principais preconceitos do país e ainda mais rejeição do que o próprio Bolsonaro. Nessa estranha relação dialética que Bolsonaro e Wyllys mantêm entre si, a vantagem ainda seria do reacionário de direita.

Leia também: A falsa simetria entre Bolsonaro e Jean Wyllys

Mas, numa disputa realista, com Marina Silva, João Dória, Alckmin e Ciro Gomes (um pouco menos), todos comportados garantidores dostatus quo e do clima de paz e estabilidade que a alta burguesia precisa para o seus negócios, e não os extremismos radicais — que Donald Trump implementa nos Estados Unidos e já faz o país se arrepender, por exemplo — Bolsonaro seria vítima do seu próprio dilema.

Por isso, eu fico absolutamente tranquilo quanto à possibilidade de sua eleição. Nem as classes dominantes deste país chancelariam tamanha aventura. 





Comentários

  1. Antonio Rodrigues Pereira26/07/2017, 21:02

    Acho que não tem nada a ver, Bolsonaro tem muito mais popularidade hoje do que o Eneias tinha na época dele, então pode ter mais chances sim de ser presidente.

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    1. A questão não passa tanto pela popularidade e sim pela alta rejeição, que, no fim das contas, é o que decide na hora do desempate do segundo turno. Isso se ele chegasse lá....

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  2. Acho que não devemos nos preocupar, a maior parte do seu eleitorado ainda não terá nem 16 anos em 2018.

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  3. O que me preocupa, e pode ser o facilitador para a eleição do Bolsonaro é esse ódio que está sendo implantado contra as idéias de esquerda e que não parou com a saída do PT do poder pelo contrário até se intensificou. O efeito desse sentimento pode ser comprovado aqui na minha cidade, onde todos os partidos se juntaram para derrotar o PT, que a administrava por 12 anos, e conseguiram colocar na prefeitura um candidato que em eleições passadas, nem votação para vereador conseguia, isso tudo com uma campanha de disseminação de ódio e desinformação. Se Lula for candidato com possibilidades reais de se eleger a direita se reunirá em torno do oponente mias forte e o levará ao poder por qualquer via, e no meu entender esse é o Bolsonaro.

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