Qual tem sido o papel do PT diante do governo e da crise política atual?

O Partido dos Trabalhadores foi, sem sombra de dúvidas, o maior prejudicado pela campanha reacionária que ficou ainda mais atuante no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Desde a vitória eleitoral questionada no Tribunal Superior eleitoral, passando pela tática de obstrução de governabilidade promovida pelo Congresso, até a aceitação da acusação, votação e condenação da presidente num Impeachment golpista, o PT foi atacado por todos os lados, na política e na opinião pública através de uma imprensa corporativa hostil. Era natural, portanto, que o partido fosse uma das vozes mais atuantes no atual momento de crise política vivido pelo governo usurpador e seus aliados políticos. Mas é isso que estamos vendo?

Estranhamente, não.

Mesmo que alguns militantes, sindicatos e movimentos sociais ligados ao partido estejam nas redes sociais e nas ruas engrossando o “Fora Temer”, a alta cúpula do PT resolveu contemporizar com os seus notórios algozes.

E isso já ficou claro desde o princípio deste ano, quando o próprio ex-presidente Lula se colocou à disposição de Michel Temer para dialogar soluções políticas para a crise, atitude que ultrapassou qualquer cordialidade republicana.

Veja em: Lula dá conselhos a Temer e diz estar à disposição para diálogo: ‘Me chama’...

Temer visita Lula

O líder do PT na Câmara dos Deputados, Carlos Zarattini (SP) teve uma postura ainda mais surpreendente mês passado. Diante da enxurrada de evidências contra o senador Aécio Neves reveladas recentemente — um dos maiores algozes do PT e aliado do governo golpista — o deputado petista afirmou que “não podemos torcer por um ataque sem nenhum princípio às pessoas”.

Leia mais: ‘Torcer pela prisão de Aécio é equívoco’, diz líder do PT na Câmara

Ainda no mês de junho, o Partido dos Trabalhadores lançou uma nota contra a Lava Jato e a Procuradoria Geral da República, no exato momento em que ambas voltam suas baterias contra Aécio e Temer. Fato intrigante e curioso é que, em seu pronunciamento logo após ser denunciado por Rodrigo Janot, Michel Temer tenha feito a mesmíssima insinuação que Lula fizera mês passado, fazendo alusão a um procurador muito próximo de Janot que fora preso, para criticar os métodos da PGR.

“Eu não sei se o procurador-geral da República, que tinha um amigo procurador que foi preso, e que ele até pediu desculpa na televisão, ficou chateado porque o procurador era amigo dele, queria fazer jantar para o procurador, o procurador fazia jantar para ele, não sei se a teoria do domínio do fato vale pra ele, se ele sabia que o cara era ladrão” (Luis Inácio Lula da Silva. fonte: valor.com.br)

Além disso tudo, Dilma Rousseff, que poderia ser uma voz de legitimidade no meio do caos político que se instalou no Brasil pós-Impeachment, resolveu ficar totalmente longe dos holofotes.

No seu sexto Congresso realizado em junho, que elegeu Gleisi Hoffman como a nova presidente do partido, o PT lançou uma nota bastante crítica ao governo, ao cenário atual e propôs algumas medidas bastante progressistas. Mas diante deste cenário, como não pensar que todo esse discurso não faz parte de uma estratégia que o filósofo Vladimir Safatle classificou corretamente como “A estação das cerejas vermelhas”? Fora do poder, ou em campanha presidencial, o PT faz um belo discurso de esquerda, mas suas ações na prática não corroboram as intenções.

O PT e sua ambiguidade tem feito muito mal às esquerdas. Sobre a possível admissibilidade de acusação contra Temer na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara, o jornalista Fernando Rodrigues afirma que

…o PT mostra ambiguidade. Chama a atenção que ninguém relevante do partido esteja à frente de 1 grupo para arregimentar deputados a favor da denúncia. Há algumas iniciativas, mas nenhuma “mainstream” que possa ser considerada uma movimentação orgânica e centralizada.

Ainda existe muita, muita gente boa e bem intencionada nos quadros petistas. Mas por uma série de fatores difíceis de compreender, estes militantes não são capazes de se desvencilhar da crença cega nos membros do alto escalão do PT, que não praticam o que pregam. Para estas pessoas, e para o bem da esquerda no Brasil, o PT deveria abrir mão de lançar candidato em 2018, fazer parte de uma ampla coalização nacional sem o intuito de liderá-la, e dirigir o seu capital eleitoral formado por estes petistas de bem para uma outra liderança, jovem, verdadeiramente comprometida com o nosso lado na história.

Não dá pra cair 5 vezes no conto do PT como partido progressista de esquerda.





Comentários

Gostou do blog e quer ajudar?

Você também poderá gostar de:

Comunistas não podem usar iPods ou roupas de marca?

Qual é o termo gentílico mais adequado para quem nasce nos Estados Unidos?

Singapura, exemplo de sucesso neoliberal?

O mito do livre mercado: os casos sul-coreano e japonês

CBF reconhece o título do Flamengo de 1987. Como se isso fosse necessário